Selecionado como a obra sueca para Melhor Filme Internacional na 97ª edição do Oscar, Uma Última Viagem é o documentário-filme mais assistido na história da Suécia.
Isso era de se esperar, pois o longa é um retrato honesto e caloroso sobre o relacionamento e a amizade entre um pai e filho, junto com o processo natural da vida (a velhice) que permeia toda essa história; contada de forma emocionante, engraçada, com algumas doses generosas de otimismo, criatividade, e um velho Renault 4 laranja rumo ao sul da França.
Quando Lars Hammar, após 40 anos como um querido professor de francês em Köping, se aposenta, ele imagina uma deliciosa “terceira idade” com viagens, vinho e experiências ao lado de sua esposa Tiina. Mas as coisas não acontecem como ele esperava. Em vez de se entregar aos prazeres da vida, Lars torna-se cada vez mais passivo e sem força de vontade em casa, em sua poltrona de couro, para grande frustração e desespero de Tiina e de seu filho Filip.
É então que Filip tem uma ideia: levar seu frágil pai idoso para sua amada França e deixá-lo revisitar os lugares que mais amou na vida. Ao refazer a mesma viagem que a família costumava fazer quando Filip era criança e orquestrar secretamente alguns dos momentos mais deliciosos da vida, ele espera reacender o entusiasmo de Lars pela vida.

Uma Última Viagem foi dirigido pelo próprio Filip Hammar com a ajuda de seu melhor amigo Fredrik Wikingsson, que juntos foram capazes de tranformar um simples filme documentado em uma jornada instigante e tão bem elaborada a ponto de esquecer que era um documentário.
Apesar de ser uma história cujo o protagonsita seja Lars Hammar, este é um filme sobre Filip também. É de rasgar o coração a forma como demonstram o filho finalmente aceitando que seu pai nunca mais terá vida a plena de quando era mais jovem. Diante disso, Uma Última Viagem pode ser incrivelmente difícil de assistir – principalmente quando há alguém na sua vida que também está passsando pela mesma fase de Lars. O envelhecimento é um desafio.

Há também de se dizer que o filme pode trazer certo desconforto e irritação para alguns espectadores de corações mais duros e incrédulos. Afinal, essa é uma obra agridoce da vida real, e também pode ser vista como encenada. Não há dúvidas que Filip e Fredrik estão, de certa forma, gerenciando e manipulando, muitas vezes até forçando a barra demais – como na cena do trem. Porém, essa é a beleza de um documentário, é necessário um esforço máximo para captar de forma real o que está diante de seus olhos, para que o espectador também sinta a mesma emoção.

Sendo emocionante para alguns ou encenada para outros, é inegável que Uma Última Viagem se preocupa em resgatar o belo e o cativante, através da dura e difícil realidade de ver os pais envelhecerem. É uma homenagem de Filip para Lars e também de Lars para Filip que faz sorrir, chorar e refletir. Isso é cinema!
Além de seu forte núcleo sentimental, o filme também possui uma cinematografia impecável, com cenários deslumbrantes e fotografias realmente exuberantes. O sentimento que fica é que tudo foi pensado e feito para se encaixar perfeitamente em cada detalhe, é um trabalho primoroso e dedicado. É de fato um presente não somente para o pai, mas para o espectador também.
Uma Última Viagem é um documentário que projeta de forma natural e edificante, uma história sobre dois homens revivendo o passado e colecionando memórias para o eterno; é um conto cuidadosamente meticuloso que explora o desejo de um filho em resgatar o entusiasmo de seu pai ao mesmo tempo que constrói um tipo de legado para ele. O resultado é um filme tocante, inspirador e universalmente indentificável.