Joël Dicker retorna às prateleiras brasileiras com “Um Animal Selvagem“, seu mais recente thriller publicado pela Editora Intrínseca. O autor suíço, que conquistou leitores em todo o mundo com “A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert“, inclusive o meu coração, apresenta uma trama intrincada que mistura elementos de suspense doméstico e policial.
A narrativa se desenrola a partir de um assalto a uma joalheria em Genebra, mas logo percebemos que este é apenas o ponto de partida para uma história muito mais complexa. Dicker habilmente tece uma teia de relacionamentos e segredos em torno de dois casais aparentemente comuns, explorando os instintos e obsessões que se escondem por trás das fachadas sociais.
A construção narrativa é um dos pontos fortes do livro. O autor alterna entre o presente e flashbacks, dosando cuidadosamente as informações e mantendo o leitor constantemente intrigado. Esta técnica, já utilizada com maestria em outros livros, surge ainda mais refinada, criando um quebra-cabeça temporal que se revela aos poucos. Como uma evolução em suas obras, o autor consegue fazer com que o leitor obtenha uma informação, interprete de uma maneira para depois recorrer a ela para mostrar que faltava um pedaço importante, capaz de criar uma reviravolta inesperada.
Dicker demonstra mais uma vez sua habilidade em criar personagens complexos e ambíguos. Sophie Braun, a protagonista cuja vida perfeita começa a desmoronar, é particularmente bem construída. O autor explora com sutileza as nuances de seu casamento aparentemente ideal e as ameaças que surgem tanto de dentro quanto de fora de sua vida doméstica.
A obsessão do vizinho Greg por Sophie adiciona uma camada de tensão psicológica à trama, reminiscente de clássicos do gênero como “Janela Indiscreta”, de Hitchcock, e que explica muito bem a ilustração escolhida para a capa. Este elemento voyeurístico, combinado com o mistério do homem do Peugeot cinza que segue Sophie, cria uma atmosfera de constante desconforto e suspense.
Comparado aos trabalhos anteriores, Um Animal Selvagem pareceu ser o mais contido e previsível de todos, mesmo que ele consiga subverter algumas de suas expectativas nas últimas páginas. Enquanto outros livros cobriam acontecimentos mais complexos, longevos ou até mesmo um elenco maior, sem contar as temáticas que pareciam ser mais interessantes, como crime, política, criação literária e fama, este novo romance concentra-se num período mais curto e menor quantidade de personagens. Esta abordagem resultou em uma narrativa mais tensa e acelerada, mas longe de ser a menos interessante.
O estilo de escrita de Dicker permanece acessível e envolvente, com diálogos ágeis e descrições concisas que mantêm o ritmo da história. Sua capacidade de criar reviravoltas surpreendentes, marca registrada em seus livros, também está presente neste lançamento. Dentre os vários títulos do gênero Thriller, Suspense e Mistério que chegam ao mercado, suas obras são boas portas de entrada e conseguem agradar um público misto.
Um Animal Selvagem consegue consolidar a posição de Joël Dicker como um dos principais nomes do thriller contemporâneo, com uma leitura envolvente, sofisticada, divertida e provocativa que certamente agradará aos fãs do autor, além de atrair novos leitores. Um thriller psicológico bem construído, que explora com habilidade as complexidades dos relacionamentos humanos e os segredos que todos guardamos, sendo uma adição bem-vinda à coleção de livros escritos por Dicker.