Os RPGs táticos estão longes de ser extintos, mas também não estão nem perto de ser um dos subgêneros mais amados do mundo. É fato que a maioria do público é muito nichado e provavelmente virou fã do gênero com algum JRPG das antigas – e provavelmente este jogo foi Final Fantasy Tactics do PS1. Eu mesmo me apaixonei pelas táticas quando joguei FFT pela primeira vez (e outro título que ajudou bastante foi Bomberman Wars, mas esse aqui é obscuro demais) e, desde então, mesmo tentando explorar mais do estilo com diversas outras franquias, nenhuma me cativou tanto quanto este clássico. Quando vi o trailer de revelação de Triangle Strategy, senti que isso estava prestes a mudar.
Dos mesmos criadores de outras grandes joias modernas dos JRPG como Bravely Default e Octopath Traveler, chegou a hora de revivermos um bom e velho RPG tático em toda sua qualidade. Triangle Strategy entrega tudo isso e muito mais, trazendo uma narrativa totalmente imersiva e sem defeitos, com escolhas que realmente pesam na história e vão te fazer querer arrancar os cabelos. Para quem curte Game of Thrones ou os livros que basearam a série (As Crônicas de Gelo e Fogo), este jogo é um prato cheio.
Tretas políticas
Triangle Strategy nos apresenta ao mundo de Norzelia, onde três reinos vivem em uma constante guerra que costuma ser brevemente interrompida por acordos de paz muito frágeis. A história é contada da perspectiva de Serenoa Wolffort, um jovem lorde que está prestes a herdar a liderança do seu clã e precisará tomar decisões muito difíceis para conseguir superar as dificuldades desta guerra. Ao longo da jornada conheceremos muitos personagens e testemunharemos mudanças consequentes de cada escolha tomada, então pode acreditar: não existem decisões fáceis neste jogo.
Assim como em Game of Thrones, Triangle Strategy nos apresenta à guerra como ela é: um show de horrores onde não há vencedores. Por mais que algum lado saia vitorioso, o número de sacrifícios que são necessários para chegar naquele ponto são incalculáveis. Por vezes será preciso testemunhar amigos e aliados importantes morrerem em combate, fazer alianças com pessoas de má índole e até mesmo prejudicar seu próprio povo para conseguir uma vantagem. Este jogo nos coloca nesse tipo de situação a todo momento e, ao mesmo tempo que é horrível, também é incrível!
Se você já jogou algum jogo do gênero, provavelmente já sabe como esse aqui funciona. Não é um RPG que controlamos nosso personagem livremente por cidades ou pelo mapa mundi, mas sim um game onde só assistimos cenas e lutamos – e pode acreditar, Triangle Strategy tem muitas cenas para assistir. É um jogo denso, onde a gente acaba mais assistindo do que jogando, o que pode afastar muita gente logo de cara (especialmente por não estar localizado em português). A boa notícia é que a narrativa é espetacular e só melhora com o decorrer da campanha, mas não deixa de ser cansativo.
Os gráficos apostam na nostalgia e remetem a jogos antigos, então quem jogou Final Fantasy Tactics ou qualquer outro título da época vai pirar – é praticamente um sucessor espiritual. Diferente de seus antecessores, este aqui conta até com dublagem, porém com ressalvas: se você decidir jogar com as vozes em inglês, vai ser uma experiência consideravelmente desconfortante. A dublagem em inglês é bem ruinzinha e sem emoção alguma, então o mais indicado é jogar com as vozes em japonês e fingir que é um anime.
Táticas é vida!
Já com respeito ao combate, ele não foge muito do que já conhecemos de outros jogos do gênero, mas ainda existem alguns adendos interessantes que enriquecem o elemento tático. Como de costume, toda batalha começa com a formação do nosso esquadrão, que pode ser formado por personagens importantes da trama ou alguns genéricos para tapar buraco. De qualquer forma, cada um possui uma função e habilidades diferentes, então o primeiro passo é conhecer profundamente a capacidade de cada um para montar um time forte e equilibrado.
Os combates seguem o esquema de turnos, onde cada personagem tem algumas células disponíveis para se movimentar e ações que variam de acordo com sua classe. O diferencial de Triangle Strategy é que o ambiente também tem total influência sobre o rumo dos combates, então cada detalhezinho aqui deve ser levado em consideração. Personagens que estão em terreno mais alto têm uma vantagem sob quem está abaixo, assim como magias de fogo podem incendiar a grama e causar dano contínuo. Quando chove, as magias de eletricidade acabam ganhando uma vantagem temporária e por aí vai.
Dito isso, é óbvio que esse é um jogo que exige pelo menos o mínimo de estratégia para se sair bem-sucedido – caso contrário, ele se tornará extremamente difícil. Não dá para ir longe sem definir suas táticas e isso será algo que você conseguirá gradualmente, conforme vai jogando e conhecendo melhor sua equipe. As primeiras batalhas servem justamente para isso, mas nelas já é possível sentir um pouquinho da dificuldade amarga do jogo, então não há espaço para muitos vacilos. Ainda assim, os níveis de dificuldade estão aí para ajudar novatos a entrar nesse mundo tático.
Outro detalhe legal é que as escolhas tomadas ao longo da campanha também influenciam nas lutas. Existe uma espécie de balança que define o alinhamento que o mundo está tomando de acordo com suas decisões, podendo pender para o lado da moralidade, da liberdade ou da unidade. Os aliados que você conhecerá ao longo da história será definido com base no seu alinhamento, então é possível ter incontáveis combinações e isso aumenta muito o fator replay. Vale lembrar que Triangle Strategy também possui múltiplos finais, então já fica aí o incentivo para quem quiser testar cada caminho possível.
Sem mais, Triangle Strategy definitivamente é um dos melhores, se não o melhor RPG tático lançado nessa era moderna. Com uma narrativa impecável, escolhas realmente relevantes e um combate estratégico, desafiador e divertido, ele tem tudo para encantar qualquer fã do gênero. Já para quem não conhece muito bem o universo das táticas, não tem jeito melhor de experimentar! Temos aqui um dos melhores RPGs de 2022!