*Este review foi realizado com uma cópia do jogo disponibilizada pela Nintendo
Ame ou odeie, não tem como negar que The Legend of Zelda: Breath of the Wild foi um marco na indústria dos videogames. O jogo não só renovou toda a fórmula de uma das franquias mais tradicionais da história dos games, como também conseguiu criar uma releitura de um dos gêneros mais saturados da modernidade. Parecia até loucura imaginar que um título com aquela vastidão de conteúdo poderia ser melhorado de alguma forma, mas eles conseguiram.
De acordo com Eiji Aonuma, diretor dessa era moderna de Zelda, Tears of the Kingdom nasceu a partir de uma série de ideias para DLCs de Breath of the Wild. O que começou como simples expansões cresceu ao ponto de se tornar uma das poucas sequências diretas que já recebemos na franquia – e devo dizer, o resultado é simplesmente inacreditável. O anterior já era espetacular em todos os aspectos possíveis e, de alguma forma, sua sequência conseguiu deixá-lo obsoleto.
No céu ou na terra
Tears of the Kingdom se inicia algum tempo após Link ter derrotado Ganon e libertado Zelda, ou seja, logo após o fim de Breath of the Wild. Hyrule agora sofre com uma nova calamidade conhecida como Upheaval, que na verdade é a mesma “gosma” que estava espalhada por toda parte no primeiro jogo, só que presente de forma mais abundante e mortal. O Upheaval está matando a terra e deixando as pessoas doentes, obrigando Link e Zelda a investigarem sua origem a partir da sua principal fonte, que fica embaixo do castelo.
Ao chegar no subsolo, a dupla encontra o corpo do próprio Ganondorf mumificado, acidentalmente quebrando o selo que o prendia e causando uma sequência de tragédias. A Master Sword é destruída, Link perde um braço e Zelda desaparece misteriosamente durante o ataque. Nosso herói acorda um tempo depois em uma ilha nos céus, com o braço de um ser misterioso chamado Rauru no lugar do que foi perdido. É a partir daqui que começa nossa nova aventura, dessa vez com o objetivo de encontrar a princesa.
Os trailers e materiais promocionais do jogo já nos mostravam que Tears of the Kingdom expandiria todo o mapa principal para além das nuvens e seríamos capazes de explorar os céus. Contudo, o que a gente não sabia é que também seria possível descer para os níveis abaixo da terra, tendo a liberdade de explorar todo o subsolo de Hyrule. Sendo assim, temos um mapa gigantesco divido em três setores diferentes, praticamente triplicando tudo que já tínhamos em Breath of the Wild!
O mapa original ainda é o mesmo de antes, mas com diversas alterações em cada um dos distritos, seguindo a lógica do que aconteceu em Hyrule de acordo com a história do jogo. Já o céu não é uma região tão vasta quanto a terra, sendo composto apenas por algumas ilhas isoladas; ainda assim, é sempre muito instigante explorar cada uma delas, pois estão repletas de segredos e dicas de tesouros que podem ser encontrados nos níveis inferiores.
O subsolo é a parte mais interessante dessas novidades. Aqui temos um mapa do tamanho de Hyrule, porém totalmente escuro e repleto de criaturas muito fortes. Explorar o núcleo da terra vai além de se aventurar como na superfície – passa a ser um verdadeiro teste de sobrevivência! Cada região do jogo proporciona um sentimento totalmente diferente ao ser desbravada, então Tears of the Kingdom conseguiu elevar toda aquela sensação de descoberta do anterior a um novo patamar.
Nova aventura, novos poderes
No começo do jogo, Link acaba perdendo todos os poderes adquiridos ao longo de Breath of the Wild. Porém, graças ao braço de Rauru, ele ganha novas habilidades para desbravar todas as três perspectivas de Hyrule – e devo dizer, essas novidades se distanciam consideravelmente das anteriores.
O braço de Rauru permite manipular quase todo tipo de objeto livremente, fundir armas com outros elementos do cenário e até mesmo atravessar superfícies que estão acima de nós. No começo é meio difícil de se acostumar com tudo isso, mas após algum tempo, você certamente vai concordar que os novos poderes são melhores que os antigos! Olha que ainda nem chegamos na melhor parte: a mecânica de construção.
Em termos de gameplay, a principal novidade de Tears of the Kingdom é a possibilidade de criar diversas geringonças com os poderes de Rauru. Aqui você vai se deparar com vários tipos de objetos misteriosos e com funções diferentes espalhados por todo o mapa. Quando combinados com outros elementos como madeira, pedra ou qualquer coisa que estiver disponível no momento, é possível construir algo único. As possibilidades são praticamente infinitas! Dá para fazer desde um carro até um pequeno avião e muito mais.
Praticamente tudo nesse jogo gira em torno dessa mecânica, inclusive a exploração. Esses apetrechos podem ser encontrados em todo o mapa e a melhor parte é que não existe uma regra específica para utilizá-los – você só precisa de criatividade na hora de fazer suas próprias gambiarras! O destaque fica nos shrines, que estão de volta e exploram muito bem essa parte de criações malucas. É claro que existe uma forma mais “correta” de superar esses desafios, mas muitas vezes você só vai conseguir na base do improviso (e talvez uma pitada de sorte).
Além dos shrines, o mapa também conta com aquela vastidão de atividades paralelas para se fazer, desde ajudar um Korok a encontrar seu amigo (muitas e muitas vezes) até procurar por hieróglifos que contam um pouco mais do paradeiro de Zelda. Como o próprio Aonuma já disse, esse é um jogo que fica mais divertido com desvios de caminho, então ninguém tem a obrigação de seguir as missões principais, caso não queira. Cada um tem a sua própria jornada e é isso que o torna tão especial.
Já em termos de combate, o jogo não difere muito do anterior. Ainda contamos com as mesmas categorias de armas e todas se quebram após algum tempo de uso, nos forçando a adaptar nossa estratégia o tempo inteiro. A diferença é que, com a habilidade de fusão, podemos criar praticamente qualquer arma que der na telha, incluindo variações equipadas com os apetrechos usados para fazer as construções.
Um jogo sem igual
Tears of the Kingdom é um jogo que se resume a uma palavra: possibilidades. Cada aspecto de Breath of the Wild foi aprimorado com louvor e respeitando sua maior virtude: o fato de cada pessoa poder jogar do seu jeito. Indo além da liberdade de fazer seu próprio caminho, agora você também pode solucionar os diversos desafios que te esperam sem a obrigatoriedade de seguir uma fórmula específica. É isso que eu chamo de um jogo genial!
Os gráficos ainda são os mesmos, as músicas são praticamente iguais e, no geral, ele ainda se parece bastante com o anterior. Porém, é simplesmente inacreditável como as novidades inseridas aqui conseguem fazer você se sentir da mesma forma que se sentiu quando jogou Breath of the Wild pela primeira vez. É uma sensação única, de estar entrando em uma aventura épica dentro de um mundo sem igual.
Por todos esses motivos, não é exagero dizer que Tears of the Kingdom provavelmente repetirá o feito do seu antecessor e será merecidamente o Jogo do Ano. A Nintendo mais uma vez conseguiu fazer tudo aquilo que fez com maestria em Breath of the Wild, imortalizando uma obra que já se tornou um clássico moderno. Recomendo a todos aproveitar cada segundo possível dentro de Hyrule, pois vai ser muito difícil vivenciarmos isso novamente algum dia.