*Este review foi realizado com uma cópia do jogo disponibilizada pela PlayStation
Em 2013, a Naughty Dog marcou o final da vida do PlayStation 3 com um jogo que elevou os exclusivos da Sony a um outro nível. Em uma época onde todos só conseguiam pensar no poderoso PS4, que viria a ser lançado no fim daquele ano, The Last of Us conseguiu tirar um pouco a atenção da nova geração e encerrar o ciclo do PS3 com chave de ouro. Só para se ter uma noção: ele foi lançado no mesmo ano que GTA V, que é somente um dos jogos mais vendidos de todos os tempos, e ainda assim conseguiu faturar mais de 200 prêmios mundo afora. Tem que respeitar!
Em 2020, a Naughty Dog conseguiu se superar novamente com uma sequência que foi ainda mais marcante que o original, mas daí ficou a dúvida: o que o futuro reservava para essa franquia? É fato que ninguém esperaria ver um remake de um jogo que foi lançado há menos de 10 anos, mas no final fomos surpreendidos novamente. The Last of Us – Part I recria toda a experiência do original com tecnologia moderna, fazendo jus ao poder do PS5.
Chegou o momento de responder a dúvida que não quer calar: é um título obrigatório da atual geração de consoles ou quem já jogou pode passar direto?
Remake ou remaster?
É compreensível que muita gente tenha ficado confusa com os anúncios The Last of Us – Part I, afinal eu mesmo também fiquei. O jogo vem sendo vendido e tratado como um remake e ele de fato é, mas não completamente. Digamos que é uma mistura meio maluca de remake com remaster, pois a Naughty Dog focou apenas em trazer melhorias técnicas que envolvem gráficos, recursos de acessibilidade e uma tímida adaptação na jogabilidade. O jogo em si não foi refeito do zero e é exatamente a mesma coisa que você já deve ter jogado no PS3 ou PS4, na versão remasterizada.
Dito isso, vamos focar no que tem de novo. Se tratando de gráficos, é óbvio que a diferença é gritante, principalmente se comparado com o original de PS3. Todos os cenários e texturas estão bem mais detalhados e com abundância de elementos. Os modelos dos personagens também foram refeitos do zero, trazendo expressões faciais mais realistas e próximas do segundo jogo. Além disso, foi adicionado tecnologia ray tracing e devo dizer: os efeitos de iluminação estão absurdos! De longe minha parte preferida deste remake/remaster, pois cada detalhezinho relacionado à luz está de cair o queixo. Quem curte tirar screenshots no Modo Fotografia vai perder muito tempo aproveitando os melhores takes de cada cenário.
O Dualsense também tem respostas adaptativas bem interessantes aqui. Além dos gatilhos travarem de forma diferente dependendo da arma que estiver usando, você também sente diferentes reações de acordo com o ambiente onde estiver, algo que claramente só os exclusivos da Sony sabem explorar. Contudo, o principal recurso do Dualsense fica a cargo de uma opção de acessibilidade muito específica. Todas aquelas funções que visam auxiliar deficientes visuais (que já apareceram na Parte II) estão presentes aqui, mas The Last of Us – Part I vai além e possui um recurso para deficientes auditivos onde os diálogos são transmitidos através das vibrações internas do controle. Isso aqui é o futuro!
Quanto às supostas melhorias na jogabilidade, já não vi muita diferença. Rolou até uma polêmica onde as pessoas queriam que fossem aplicadas as mecânicas do segundo jogo, mas os devs afirmaram ser algo “impossível”. Achei mais fácil de mirar e atirar nesta versão, mas foi a única mudança significativa que notei. No final, o fato do jogo rodar a 60fps constantes ajuda a ter mais fluidez e pode transmitir a sensação de que a jogabilidade está melhor, mas no geral, está mais satisfatório sim.
Vale a pena rejogar?
The Last of Us – Part I ainda acompanha o DLC Left Behind, igualmente refeito em partes e com todos os recursos presentes na campanha. Já o multiplayer foi totalmente deixado de lado, já que a Naughty Dog está trabalhando há anos no modo online do segundo, que vem prometendo bastante. Ainda não existe previsão de lançamento, mas tudo indica que será o MP definitivo da série. Se você era fã do online no primeiro, vai ter que se contentar só com a campanha e renovar a paciência.
Agora vamos responder à grande dúvida: vale a pena comprar este jogo pela terceira vez? Essa é uma pergunta complicada, principalmente porque a Sony não pensou duas vezes na hora de cobrar preço cheio neste título. Ele está sendo vendido pela bagatela de R$ 350 como um lançamento inédito, 100% novo, um “God of War Ragnarok” da vida. Na própria descrição oficial da PlayStation Store, você encontrará as frases “totalmente recriado” e “uma experiência totalmente nova” com frequência.
Eu acho problemático afirmar esse tipo de coisa, pois apesar do salto gráfico absurdo e das adições citadas anteriormente, não deixa de ser o mesmo jogo de 2013. Não houve mudanças na história, na campanha e, tirando uma ou duas roupinhas e filtros, nem mesmo nos desbloqueáveis pós-game! É exatamente a mesma experiência dos demais consoles, só que mais bonita e agradável de jogar.
Isso é tão verdade que quem jogou antes provavelmente vai notar que ainda existe aquele mesmo problema na dublagem em português, onde em certos momentos ela fica tão baixa que é impossível de escutar o que os personagens estão falando. A movimentação deles durante as cutscenes também é a mesma, o que por vezes gera uma estranheza; são movimentos “travados” demais para modelos tão realistas.
Para quem nunca jogou, com certeza esta é a versão que deve ser jogada, não tem nem discussão. Porém, justamente por ser um “clássico moderno”, é fato que a maioria das pessoas já devem ter jogado antes, então vai de cada um analisar o quão você está com vontade de rejogar. No final é sobre isso: reviver toda a experiência original, como se fosse um jogo de PS5.