É inegável que Christopher Nolan seja um cineasta e escritor extraordinário, e sempre agrada os seus fãs com super produções arrebatadoras, porém, superestimadas. Mas de fato, com Nolan é 8 ou 80, você ama ou odeia, não tem para onde correr. Em Tenet não é diferente, e logo nos primeiros minutos de filme, o diretor já consegue desafiar o público a entender o seu conceito elevado, ao mesmo tempo em que produz uma grande e perfeita pancadaria nas telonas.
Mesmo que o sentimento seja um “o que diabos está acontecendo”, o poder de imersão em Tenet é estranhamente sedutor e poderoso.
Após oito meses sem entrar numa sala de cinema, os cinéfilos brasileiros podem comemorar com uma reestreia excelente e de primeiro nível. Aliás, no geral, Tenet é de fato grandioso e vai receber à todos de forma muito calorosa. Porém, o filme é um turbilhão de informações que de brinde traz um turbilhão de complicações também.
Há um certo momento em Tenet que se encaixaria perfeitamente nas emoções do telespectador que luta para acompanhar a trama. “Sua cabeça já está doendo?”, pergunta o carismático agente britânico Neil, de Robert Pattinson. A resposta é, inevitavelmente: sim. Certamente, Christopher Nolan se deleita com um orçamento gigantesco, e não tem medo de entregar exatamente aquilo que passa por sua mente engenhosa.
O tema é claro, “inversão”: um método de reverter o fluxo do tempo que está sendo usado para propósitos nefastos por aqueles que estão no tempo presente e, implicitamente, no futuro. Não, não é sobre viagem no tempo, e é aí que mora o perigo para os cinéfilos menos acostumados com propostas mais complexas e ambiciosas. A premissa é simples, mas quando se trata de Chistopher Nolan, nada é simples demais.
Na história, somos apresentados ao Protagonista (John David Washington) que é recrutado para uma missão ultrassecreta para prevenir uma Terceira Guerra Mundial. Ele deve trabalhar com seu novo amigo, o agente Neil, de Pattinson, para chegar perto de Andrei Sator (Kenneth Branagh), um traficante de armas aparentemente implacável e intocável, que só pode ser contatado por meio de sua esposa Kat (Elizabeth Debicki).
À certa altura, Tenet se torna um híbrido de um filme clássico de James Bond, cheio de ação e cenas explosivas, à uma ficção científica que contorce o tempo nos moldes de A Origem. Nesse contexto, o filme é carregado de diálogos fortemente expositivos que pode não conquistar uma parcela do público, uma vez que o longa tem a interminável duração de 2h30. Para os fãs de Nolan, o filme será um prato cheio que deve ser saboreado nos mínimos detalhes, a fim de decifrá-lo em várias camadas e visualizações.
Como um espião, cabe ao telespectador manter os olhos e os ouvidos abertos e atentos para captar as muitas pistas à medida que surgem mais rapidamente. De fato, a ideia não parecia ruim com Vingadores: Ultimato e suas 3h e 2m. Ufa! Apesar disso, os diálogos excessivos é compensando com cenas de praias, iates de luxo e explosões que não deixam o público dormir.
Embora seus temas toquem no mesmo território (tempo), é interessante destacar que a relação mais próxima de Tenet e os trabalhos de Nolan seja também com Interestelar (2014) e Amnésia (2000). A diferença é que Tenet se preocupa mais em falar sobre as mudanças no tempo do que realmente as mostram. Isso lembra um pouco de O Primeiro Homem (2018), de Damien Chazelle, que se atenta mais em mostrar os conflitos do personagem e a ascensão do homem à chegada na lua do que a viagem espacial em si. Por outro lado, há filmes mais emocionantes para um fã de viagens no tempo do que Tenet, mas se bem entendi, inversão não é, estritamente, uma viagem no tempo.
Apesar de uma história confusa, Tenet acumula muitos elogios a começar pela brilhante atuação de John David Washington que impressiona no papel principal. É engraçado pensar que um personagem tão sério e robusto nos moldes Bond pode cair tão bem para quem tirou sorrisos em Infiltrado na Klan (2018) – apesar de haver alguns momentos engraçados. Não só isso, mas a química entre ele e Robert Pattinson – que traz um toque leve e gentil à trama – é surpreendente e cativante. A dupla funciona muito bem em tela e se completam. Parte disso deve-se também a atuação de Pattinson e seu personagem que consegue ser um frescor necessário.
Apesar de ser um quebra-cabeça audiovisual complexo, Tenet é cinema de altíssimo nível, é ambicioso e agrada nos termos de efeitos visuais e sonoros, que é a marca registrada de Nolan. Torça para que os altos falantes da sua sessão serem estridentes porque a experiência é fundamental. O enredo também agrada e as atuações são lindíssimas. Para os fãs fervorosos do diretor, o filme chega ser uma carta de amor. Já para alguns, pode ser difícil achar o conceito de ficção científica verdadeiramente empolgantes à primeira vista – francamente, há tantas outras coisas acontecendo e exigindo sua atenção. É difícil mesmo gostar dessa história, mas se tiver paciência pode ser algo surpreendente.
No mais, ter a sensação de voltar ao cinema é gratificante e Tenet funciona muito bem como um esquenta para as grandes produções quem vem a seguir. Vale a pena o ingresso? De fato! Assista ao trailer abaixo: