*Esta critica foi realizada com os episódios disponibilizados pela Netflix Brasil
Lançada em 2016, Stranger Things foi um sucesso absoluto para a Netflix e um grande marco na cultura pop, juntando uma explosão de referências a filmes e séries dos anos 80, a série conquistou seu lugar acertando na nostalgia sem perder sua essência. Após quase três anos desde a sua 3° Temporada, Stranger Things volta para a sua parte 4, apostando mais no terror e em novos ares, mas pecando bastante na repetição.
Em ‘’O Clube HellFire’’, título dado ao primeiro episódio da temporada, a série nos mostra como estão os personagens após os acontecimentos da temporada anterior, os núcleos estão bem diferentes de como já havíamos visto, tendo Eleven (Millie Bobby Brown), Will (Noah Schnapp) e Jonathan (Charlie Heaton) morando na Califórnia com Joyce (Winona Ryder), enquanto Mike (Finn Wolfhard), Dustin (Gaten Matarazzo), Lucas (Caleb McLaughlin), Steve (Joe Keery) Nancy (Natalia Dyer) e Robin (Maya Hawke) continuam em Hawkins vivendo suas vidas cotidianas.
Em boa parte do primeiro episódio conseguimos ver o desenvolvimento dos personagens, agora na adolescência todos parecem lidar com algo diferente ou algo novo, Lucas quer ser descolado e diferente do padrão nerd que o caracterizou, chegando até a entrar no time de basquete para tentar ser ‘’popular’’. Mike e Dustin agora estão no Clube HellFire, por mais que o nome seja ‘’sinistro’’ é apenas um novo grupo de RPG, dando a entender que eles ainda continuam os mesmos. Por outro Lado, Eleven tenta se acostumar com a vida normal de uma estudante do ensino médio, o que é bem complicado para uma garota que passou quase a vida inteira em um laboratório.
Eleven não consegue se adaptar direito, chegando até mesmo a sofrer Bullying na escola, isso tudo parece muito interessante para a trama, mas a real é que por mais que isso tente prender o espectador, muitas vezes passa a sensação de que tudo é mais do mesmo, Will por exemplo, continua atormentado por sua experiência no mundo invertido e Joyce continua com suas paranoias de sempre, acreditando que Hopper (David Harbvour) está vivo, ela novamente começa a desvendar ‘’enigmas’’ que lhe são mandados, do mesmo jeito das temporadas anteriores.
A mesmice que presenciamos nessas partes mais rotineiras dos personagens, faz com que tenhamos a sensação de que estamos em um constante ‘’déjà vu’’, além disso, os episódios longos também influenciam nessa sensação. Quando a notícia de que todos os sete episódios do volume 1 da nova temporada teriam mais de uma hora, a animação e expectativas aumentaram, mas ao assistir a série, percebemos que os episódios poderiam ter cinquenta minutos se tirassem boa parte das repetições.
Mas Stranger Things não vive apenas de histórias cotidianas de personagens marcantes, o terror do novo ano da série é incrível e o mais marcante de toda a série. Novamente temos um inimigo com nome de monstro do D&D (Dungeons & Dragons) e esse é de fato um dos mais assustadores da série, a forma como Vekna (nome dado ao novo monstro) mata a suas vitimas é incrivelmente assustador e brutal, deixando filmes como O Exorcista (1973) e Halloween (1982) orgulhosos.
Além da nova empreitada da série com o monstro inédito, o mistério que envolve o mesmo é um dos mais criativos da série até agora, fazendo com que nós como expectadores não consigamos tirar os olhos da tela nos momentos em que os personagens estão os investigando, fazendo com que o formato de maratona em que a Netflix lançou a série valha a pena.
A Trilha sonora da 4° temporada é um dos grandes tesouros do novo ano da queridinha da Netflix, os criadores (Matt e Ross Duffer) acertaram perfeitamente nas músicas e nos momentos de inseri-las. A variedade de grandes clássicos dos anos 80 é maravilhosa, temos desde California Dreamin dos Beach boys a Tarzan Boy de Baltimora. Não podemos esquecer de Running Up That Hill da incrível Kate Bush que é, sem dúvida, a música que protagoniza uma das melhores cenas não só da temporada como da série inteira.
A direção é mais um ponto positivo da nova temporada, a forma como o diretor (Shawn Levy) conduziu a série está bem mais fluida e ‘’livre’’ do que nas temporadas anteriores. Agora temos cenas muito mais coesas e certeiras, alguns ótimos exemplos são as cenas de terror que são mais fechadas e contínuas, dando a impressão de claustrofobia e a sensação de que nós, como expectadores, estamos tão presos e encrencados como o personagem em cena, acompanhando isso vem os efeitos sonoros que são super presentes, um simples som já faz com que percebamos que o perigo está próximo.
As cenas de ação também estão muito melhores, antes uma simples cena de perseguição era bem mais ou menos, agora temos cenas de tiroteio tão bem dirigidas e empolgantes que deixariam filmes focados na ação com inveja.
A fotografia também é algo que impressiona no novo ano da série, ela deixou de querer a todo custo simular a fotografia de filmes dos anos 80 e agora está com sua própria identidade, ao ver qualquer cena em qualquer cenário, conseguimos identificar que que o lugar em questão vem direto de Hawkins.
Por mais que em Stranger Things 4 vejamos vários elementos repetitivos em relação a trama e aos personagens, a adição de mais terror, um bom mistério e um novo monstro incrível, faz com que no final o saldo do novo ano da série termine bem positivo. Com um episódio final que parece ser previsível mas que surpreende bastante, a série vai fazer você ficar ansioso para saber o que mais o mundo invertido poderá nos proporcionar.