A Square Enix continua empenhada em sua longa empreitada de preservação dos seus jogos antigos – o que é ótimo, para ser sincero. Na década de 1990 e início dos anos 2000, o estúdio era uma máquina de RPGs, lançando um título atrás do outro. Muitos deles correm o risco de se tornarem injogáveis por meios oficiais, então essas remasterizações se tornam necessárias. O jogo da vez é SaGa Frontier 2 Remastered, sequência do título que recebeu o mesmo tratamento em 2021.
A franquia SaGa sempre foi um JRPG fora da curva em diversos aspectos. Alguns dos seus elementos são um tanto complexos e diferenciados, podendo causar confusão até mesmo em veteranos do gênero. Esse remaster adiciona conteúdo inédito e deixa o jogo levemente mais acessível, mas tenha em mente que ele continuará dividindo opiniões – e no fim, isso também é algo positivo, já que sua essência permanece a mesma.
Jornada não linear
SaGa Frontier 2 foi lançado originalmente para PS1 em 1999 no Japão e 2000 no restante do mundo. O jogo traz uma narrativa não linear – a primeira das suas grandes particularidades. Aqui acompanhamos a história de dois personagens: Gustave XIII e Wil Knights. O primeiro é um príncipe exilado pelo próprio pai, enquanto o segundo é um famoso escavador que está em busca de um artefato lendário conhecido como “O Ovo”.

A história é contada através de capítulos e, em nenhum momento, exige que o jogador siga uma sequência específica. Você pode jogar todos os eventos que estiverem disponíveis na ordem que quiser, mas isso acaba moldando o decorrer da narrativa de acordo com suas escolhas. Inevitavelmente, alguns capítulos serão bloqueados e perdidos, então esse é o tipo de jogo que nos dá aquela sensação constante de que estamos deixando coisas para trás.
As perdas podem ser significativas, então jogar SaGa Frontier 2 pela primeira vez sem um guia pode deixar qualquer um paranoico. O caminho escolhido pode te impedir de conhecer certos personagens e obter alguns loots raros; para piorar, o jogo também não é nenhum exemplo de balanceamento, então deixar alguns eventos para depois pode deixá-los muito mais difíceis do que seria no começo.

Pode parecer injusto – e é mesmo! Não tem como alguém que deseja descobrir tudo sozinho saber dessas desvantagens, mas pode-se dizer que isso também faz parte da graça do jogo. Esse remaster tentou deixar as coisas levemente mais claras para o jogador, mas sem entregar todo o ouro. Continua sendo bem difícil se situar na melhor sequência de capítulos sem um guia, mas podemos afirmar que está ao menos mais intuitivo.
Outras novidades
SaGa Frontier 2 Remastered oferece dois modos de jogo: o clássico e o atualizado. No clássico, você tem a mesma campanha vista no PS1, sem o conteúdo adicional desta versão. O atualizado oferece uma aventura mais completa, com novos eventos e personagens para sua party. Esses adendos foram bem encaixados dentro do original, sendo bem semelhante a um DLC (que não interfere no jogo base).
Devido à falta de linearidade dos eventos, SaGa Frontier 2 pode ser um jogo muito difícil pelo desbalanceamento dos inimigos. De uma hora para outra, o salto de dificuldade pode ser tão grande que se torna praticamente impossível de avançar sem grindar e estabelecer novas estratégias. Esse é um fator bem frustrante do original que foi melhorado no remaster – desde que o jogador esteja disposto a “trabalhar”.

Uma das melhores adições desta versão está no fator de grind, que agora se torna recompensador desde o início do jogo. Caso você evolua seus personagens iniciais, poderá transferir o progresso para os que só aparecem bem depois na história, evitando que todas as horas gastas sejam jogadas no lixo. No sistema de Duel, também é possível aprender técnicas exclusivas que podem ser utilizadas por todos os personagens – mais uma vantagem conveniente.
É claro que, dependendo do caminho que você escolher, o salto de dificuldade ainda será alto, mas essas novidades no grind acabam deixando o jogo mais “justo” em trechos avançados. Outra adição legal está na possibilidade de acelerar a velocidade das batalhas, que podem ser exageradamente lentas no modo original.
Se tratando de um remaster, também temos um upgrade gráfico. O visual permanece o mesmo do PS1 – ótima notícia, pois os gráficos do original são bem charmosos. As sprites dos personagens e certos elementos do cenário foram convertidos para alta definição, mas os cenários permanecem pré-renderizados. Por isso, alguns pontos interativos (como baús) podem ser difíceis de notar à primeira instância.

A última adição que merece menção é o minigame Dig! Dig! Digger, que outrora foi lançado exclusivamente no Japão através do acessório PocketStation – uma espécie de precursor do VMU do Dreamcast. Nele, você pode enviar alguns escavadores para coletar itens, garantindo recompensas interessantes para seus personagens. O minigame é simples, mas o fato de terem lembrado dele é bem legal!
SaGa Frontier 2 Remastered talvez seja a melhor porta de entrada para novatos na franquia, mas definitivamente não é muito indicado para quem não tem familiaridade com o gênero. O jogo continua sendo difícil e confuso para aqueles que não gostam de contar com a praticidade de um guia, então torna-se necessário encontrar sua própria diversão dentro dessa proposta desafiadora. No demais, essa é a melhor forma de experienciá-lo!