Punho de Ferro é o último defensor que faltava mostrar as caras entre a parceria da Marvel e da Netflix e finalmente teve a sua série lançada nessa última sexta, dia 17 de março, onde todos os 13 episódios da primeira temporada já estão disponíveis aos assinantes da mesma. Depois de duas temporadas de Demolidor e mais uma para Jessica Jones e Luke Cage, o mestre do kung fu era o último herói que precisava de uma série solo antes de todos se juntarem em Os Defensores, futura série que unirá todos os quatro justiceiros no combate ao crime de Nova York.
O Punho de Ferro dos quadrinhos nasceu em uma época onde todos aqueles filmes de artes marciais faziam muito sucesso, e foi dessas produções que o roteirista Roy Thomas e o cartunista Gil Kane deram vida ao herói em 1974. Tal nome seria um alter ego do empresário Danny Rand, que quando criança encontrou a cidade mística de K’un-L’un e lá foi treinado pelos monges locais, atingindo a maestria na arte do kung fu e assim mostrando-se ser digno de enfrentar o dragão Shou-Lao, O Imortal, na qual ele se saiu bem sucedido e recebeu os poderes do lendário Punho de Ferro como recompensa.
Ao contrário de todas as outras séries dessa poderosa parceria que vimos até aqui, dessa vez a Netflix e a Marvel falharam muito em não só apresentar como também explorar o personagem em questão. A série gira em torno de Danny Rand (Finn Jones) retornando de sua longa estadia em K’un-L’un e entrando em um mundo do qual ele não conhece, o mundo dos negócios. Até então dado como morto, Rand tem dificuldades em provar que ele é o verdadeiro herdeiro de metade da empresa do pai e com isso ele já consegue alguns inimigos logo de cara, porém a história tem muita dificuldade em estabelecer um vilão em específico ao longo dos episódios.
Como já era de se esperar, o clã do Tentáculo (do qual já foi apresentado na série do Demolidor) será um inimigo constante de Danny, e todos os outros personagens estão de alguma forma ligados a eles. A falta de um vilão fixo deixou a série com uma leve sensação de “déjà vu”, pois o foco acabou ficando totalmente encima do Tentáculo e nós já tivemos o clã como vilão principal na segunda temporada de Demolidor, então é como se tudo nessa primeira temporada tivesse sido reaproveitado das outras séries da Marvel, porém de um jeito muito inferior.
Punho de Ferro não tem cenas de ação tão intensas e empolgantes como as de Demolidor, não tem um vilão tão marcante como o de Jessica Jones e não tem uma identidade e uma trilha sonora tão memorável como a de Luke Cage. Apesar de tentar se destacar em tudo isso, a série pecou em todos os aspectos possíveis, principalmente se tratando do próprio Punho de Ferro que foi retratado de uma maneira tão olvidável.
A primeira falha da série é ela se passar mais tempo dentro dos escritórios das empresas Rand do que em combates intensos de artes marciais, afinal essa é a cereja do bolo do herói, o fato dele ser extremamente habilidoso em combate, mas a espera para vermos Danny Rand em ação é tão longa que alguns podem até perder o interesse no meio do caminho. Não só isso, o passado do mesmo foi terrivelmente explorado, onde vemos alguns flashbacks de Danny em K’un-L’un que tem segundos de duração e nada mais, nos deixando apenas na vontade de saber mais sobre todo o treinamento que Rand recebeu dos monges e o seu lendário combate contra o dragão Shou-Lao. A ausência de K’un-L’un na série perdeu todo o fator místico do personagem, afinal tal cidade fica em outra dimensão e os próprios poderes concedidos ao herói são poderes místicos que aprimoram sua forma de lutar, porém o jeito como retrataram tudo acabou dando a entender que ele é só mais um “humano aprimorado” andando pelas ruas de Nova York.
As coreografias das lutas são o ponto forte da série, amantes de filmes de artes marciais provavelmente vão ficar satisfeitos se tratando das cenas de ação, mas ainda assim todos os combates de Punho de Ferro ficam atrás das cenas de luta de Demolidor que eram bem mais intensas e melhores coreografadas, o que é bem estranho considerando que o Demolidor é um personagem cego que apenas sabe lutar muito bem enquanto o Punho de Ferro é mestre em kung fu e ainda conta com poderes.
Se tratando de outros detalhes da produção, mais uma vez Punho de Ferro não conseguiu construir uma identidade tão grande como a série do Luke Cage conseguiu, principalmente se tratando da trilha sonora onde na série do homem a prova de balas nós tivemos músicas originais e excelentes, que não só combinam com o personagem e com o ambiente retratado mas também ficam eternizadas em nossas mentes. Dessa vez além de não termos músicas memoráveis ainda colocaram algumas faixas que não combinam nem um pouco com o personagem ou o tema que ele aborda.
O elenco ainda conta com Jessica Henwick como Colleen Wing, a parceira de Danny no combate ao crime, David Wenham como o vilão principal Harold Meachum, e Rosario Dawson como a enfermeira Claire Temple, personagem que todos nós já conhecemos das séries passadas e a ponte entre todas ela. O showrunner da série é Scott Buck, que também está responsável pela série dos Inumanos, prometida para o segundo semestre de 2017.
De uma forma resumida, Punho de Ferro foi uma série com potencial desperdiçado, pois além do personagem contar com habilidades extraordinárias, o passado dele também é muito rico e interessante, e tudo isso foi muito mal explorado. Nós veremos Finn Jones novamente na pele de Danny Rand na série Os Defensores, que está prevista para estrear ainda esse ano, mas já que ela não terá foco apenas nele, o jeito é esperarmos que os produtores aprendam com os erros e consigam fazer tudo do jeito certo na segunda temporada.