NieR: Automata foi um dos jogos mais aclamados de 2017 e até hoje sua popularidade só aumenta, mas e quanto ao seu antecessor? Pouquíssima gente sequer sabe que ele é uma sequência de um jogo que este ano completa 11 anos de existência e só caiu nas graças de um público mais cult. O jogo de estreia da saga NieR teve duas versões diferentes, uma ocidental (Gestalt) e outra oriental (Replicant), ambas lançadas para o PS3 e Xbox 360.
Na época, os desenvolvedores achavam que a obra original não seria atrativa para o público ocidental e por isso fizeram algumas mudanças no enredo, como tornar o protagonista um homem de meia-idade que quer salvar a vida de sua filha. A versão original, que seria a japonesa, nunca chegou ao ocidente – até agora, pois NieR Replicant ver.122474487139… (sim, o nome é exatamente este) é justamente uma espécie de remake do primeiro NieR.
É até difícil classificar este jogo como um remake, pois em seu próprio site a Square Enix o classifica como “uma versão atualizada”. Ainda assim, não é apenas um remaster, já que vários elementos foram modificados para fazer desta a versão definitiva.
Um jogo atemporal
Quem jogou o Automata provavelmente já sabe muito bem o que esperar deste, pois a estrutura dos jogos é praticamente a mesma (ainda que o Automata seja mil vezes melhor em diversos aspectos). Yoko Taro é um verdadeiro gênio que construiu um universo futurista riquíssimo em detalhes, daqueles que não cansamos de saber mais. Na verdade, NieR é uma série derivada da franquia Drakengard, de autoria de Taro, e se desenrola a partir de um dos finais do jogo – características também presentes por aqui.
Ainda que Replicant não tenha envelhecido tão bem em sua totalidade, certamente o que o torna tão interessante e imersivo ainda é sua história. O protagonista é um jovem chamado NieR, que parte em uma jornada em busca de uma cura para sua irmã, Yonah, que sofre de uma doença terminal. Isso é só um fragmento do enredo, uma agulha no meio de um palheiro, já que as coisas simplesmente vão se desenrolando ao ponto de tomar rumos completamente diferentes e imprevisíveis. A história não só tem múltiplos finais, mas também não acaba com o primeiro “subir dos créditos”, então fica a dica: ao terminar a campanha pela primeira vez, apenas carregue seu save e continue jogando, pois não acabou.
Todos os fatores filosóficos que sempre focam naqueles pontos de identidade, singularidade, existencialismo e tudo mais se fazem presentes aqui, então é uma obra difícil de se absorver por completo. Ao mesmo tempo, é muito fácil de simpatizar com os personagens e se encantar com aquele mundo! Esta versão conta com modelos de personagens mais bem trabalhados e expressivos, fisicamente falando, então temos a oportunidade de acompanhar um NieR, uma Kaine e um Emil mais detalhados.
É fato que nem toda mudança foi para o bem e tivemos até uma piadinha com teor transfóbico dentre os adendos, mais especificamente se tratando de um troféu em que devemos espiar Kaine por baixo de suas roupas (igualzinho aquele troféu de NieR: Automata, em que devíamos fazer o mesmo com a 2B). É claro que isso não tira o brilho do jogo, mas também não dá para ignorar o fato de que pegou muito mal e é uma coisa que poderia ter sido evitada. A pior parte é que isso nem estava no jogo original, o que não justificaria nada, mas ao menos seria “menos pior”. Dessa vez Taro errou e errou feio.
Legado datado
Outra coisa que não dá para ignorar é que NieR Replicant foi um jogo criado em moldes que eram muito populares há 10 anos, mas que hoje já não funcionam com a mesma eficácia. Jogar este remake agora mostra que, na prática, pouca coisa foi alterada, talvez com o intuito de manter a maior fidelidade possível à obra original. Esse detalhe torna este título um tanto difícil de se acostumar.
Primeiro que a jogabilidade já era bizarra na época e continua até hoje. A boa notícia é que o combate está muito mais próximo do Automata e isso é ótimo. No original, você tinha que escolher entre usar combate corpo-a-corpo e magias alternadamente, o que tirava muito o dinamismo da coisa. Agora você pode usar tudo ao mesmo tempo e mais: nem é necessário ficar parado para carregar um ataque mágico, como antigamente. Tudo isso foram mudanças muito bem-vindas que melhoraram bastante a experiência.
Porém, a forma como o jogo funciona ainda é muito datada e as primeiras horas são maçantes. Enquanto Automata já te joga no meio da ação desde o início, o começo de Replicant é 100% lento, com missões banais do tipo matar monstros, coletar itens e aquela rotina chata que a gente costuma ver em MMOs. Além disso, tudo é dividido em pequenos cenários com loadings entre cada um deles. Como não existe uma versão next-gen deste título, somos obrigados a encarar esses loadings o tempo inteiro e isso definitivamente não é legal.
Aqueles que forem mais pacientes terão um vasto mundo sendo desbloqueado pouco a pouco e essa é a melhor parte de Replicant. Assim como no Automata, cada lugar e situação nova é mais imprevisível que a outra e é isso que nos mantém presos no jogo. Uma pena que esse remake não tenha sido otimizado para a nova geração, pois usufruir deste título com gráficos ainda mais avançados seria incrível.
Sem mais, NieR Replicant já era um jogaço e ficou ainda melhor com suas pequenas mudanças. Nem tudo são rosas, mas certamente é um título que vale a pena ser jogado pelo menos uma vez na vida.