O review de Ni no Kuni: Wrath of the White Witch foi realizado com uma cópia do jogo de Playstation 4 disponibilizada pela Bandai Namco.
Após conhecer Ni no Kuni II, em 2018, descobri um RPG fantástico que além de uma história cativante (mas um tanto infantil) e gráficos espetaculares, trazia uma jogabilidade que sabia misturar perfeitamente gêneros de action-RPG e JRPG, além de trazer um sistema de administração de recursos para governar seu reino.
Por ser o segundo jogo eu me perguntava, “Como era o primeiro?”, e ao pesquisar sobre ele fiquei ainda mais fascinado com a série. Mas infelizmente ele era exclusivo do PS3, o Nintendo DS tem uma versão mas é completamente diferente, então fiquei apenas na vontade. Pois, eis que chega o ano de 2019 e graças a Level 5 e a Bandai, recebemos nada mais, nada menos, que a remasterização desse primeiro jogo e que como vocês podem ver, e ele é sensacional!
Quero adiantar, caso não tenha ficado claro, não vou comparar o remastered com a versão original, mas vou fazer algumas comparações com o segundo jogo. Estamos esclarecidos? Pois vamos…
História fantástica
Sem entregar muitos spoilers, a história desse Ni no Kuni se passa entre dois mundos, o nosso e um mundo mágico. O protagonista, Oliver, uma criança que não deve ter nem 12 anos, sofre uma perda irreparável e sente-se culpado, em partes ele realmente é culpado. Porém ao receber a visita de uma fada, o tagarela Drippy, Oliver descobre que sua perda não é tão irreparável como ele imaginava, mas para arrumar o que fez ele precisa ir para esse mundo mágico onde cada um tem um ser semelhante e salvar esse lugar das mãos de Shaadar a da White Witch!
A tarefa não vai ser fácil, e por se tratar de um RPG ela também não vai ser curta. Durante a jornada vamos conhecendo novos personagens e nos aprofundando ainda mais neles e na saga de Oliver, torcendo para que seu desejo se torne realidade.
A história trata de um tema pesado, mas é contada com bastante cuidado e delicadeza, parecendo um conto de fadas. Nesse ponto Wrath of the White Witch é muito superior ao Revenant Kingdom (segundo jogo da série). Parte desse cuidado com o roteiro vem das mãos de Akihiro Hino, roteirista do jogo.
Infelizmente o jogo não apresenta uma localização para o nosso idioma, o que atrapalha bastante na imersão da trama.
Universo rico
Me impressiona como o PS3 pôde apresentar um universo tão rico e fantástico em 2013. Cada cidade que visitamos tem características únicas, seja pelas vestimentas dos civis, arquiteturas dos prédios e monumentos, ou até mesmo a raça dos seres que vivem ali. Como se não bastasse tanta diferença nas cidades, cada região é habitada por criaturas de diversas aparências, e que nos atacam ao menor contato.
A trilha sonora ajuda a compor esse ambiente mágico, sendo composta por grandes arranjos muito bem orquestrados, deixando cada momento durante a longa campanha bem único.
O design de personagens e a trilha sonora ficam por conta do famoso Studio Ghibli, conhecido pelas animações “A Viagem de Chihiro”, “Princesa Mononoke”, “Meu Amigo Todoro”, “Castelo Animado” e outros grandes clássicos. Aqui a equipe fez um trabalho extremamente bem feito, o resultado é uma animação do estúdio com mais de 30 horas de campanha.
Como dito mais acima, somos atacados pelas mais diversas criaturas, e ao explorar as “dungeons” ou mapas mais fechados, fica difícil evitar esses combates o que pode deixar a campanha um tanto enjoativa.
Para Pokémon se espelhar
No universo do jogo temos os “Familiares” criaturas que são ligadas aos nossos personagens pelo espírito. Essas criaturas nos auxiliam no combate, como são os Pokémon ou os Digimon. Devemos alimentá-los para deixa-los mais felizes e melhorar seu desempenho nas batalhas e depois de um certo tempo podem até evoluir.
Meu puxão de orelha à franquia de monstrinhos de bolso é que desde seus primórdios ela apresenta um sistema de batalha por turnos que cada fez fica mais datado e enjoativo. Mas em Ni no Kuni, temos criaturas brigando em um sistema de RPG bastante dinâmico em que preza uma boa estratégia, mas que pode parecer complicado no começo. A batalha funciona mais ou menos assim: ao começar a luta escolhemos se queremos ir com Oliver ou com alguns dos seus familiares, em seguida podemos andar pela pequena arena e dar comandos ao nosso familiar, como atacar, defender, usar algum especial, ou voltar ao comando de Oliver (também podemos controlar os outros personagens da nossa equipe e seus familiares); se atacarmos com o familiar (ou os personagens humanos) ele vai atacar por um determinado período de tempo, depois podemos repetir o comando ou escolher um outro qualquer, se ele se defender terá que esperar um tempo para poder ativar a opção de defesa novamente. O tamanho e a forma de cada Familiar interfere em seu desempenho e velocidade, o que deixa cada um com características únicas.
O combate é extremamente estratégico, podemos escolher as melhores ações para nossos parceiros agirem, como exemplo, deixar Esther como healer, enquanto Swaine nos da cobertura para lançar ataques mágicos mais fortes; ou podemos jogar com Esther e usar ataques mágicos, enquanto Olvier serve como healer, a escolha é sua; podemos dar a ação para todos se defender de um ataque especial; e no final ainda temos a possibilidade de capturar um familiar se este assim desejar. Tanta opção pode parecer complicada no início, mas aos poucos você aprende e se diverte.
Ainda sobre os Familiares, eles são divididos por classes e tem atributos diferentes que dão vantagens e desvantagens contra outras classes. Eles também podem ser equipados com itens, armas ou armaduras que aumentam seus status.
Os Familiares é o grande atrativo do combate e do jogo, e com certeza deve ter servido de inspiração para um outro jogo da empresa Level-5, o desconhecido mas divertido YoKai Watch, que em seu quarto jogo apresentou um sistema de combate muito semelhante a esse Ni no Kuni, mas isso fica para outra análise… quem sabe.
As criaturas aparecem no mapa nas mais diversas formas, com características distintas, algo extremamente positivo e que deixa o universo do jogo ainda mais rico, diferente do segundo jogo da série que repetia as mesmas criaturas, mudando somente as suas cores e alguns adereços.
Muita coisa para fazer
Ni no Kuni: Wrath of the White Witch apresenta uma série de missões secundárias, que nos ajudam a explorar vários cantos do enorme e rico mapa do jogo. As missões secundárias vão desde pegar itens, mandar recados, caçar criaturas e até dar características (ou seria sentimentos?) a determinadas pessoas( Sim, esse último item ficou um tanto estranho, mas jogando você vai entender).
Ao terminar as missões secundárias recebemos carimbos em nossas fichas, e ao acumular várias fichas carimbadas podemos trocá-las por alguns bônus, como por exemplo, andar mais rápido no mapa aberto (e evitar aqueles combates chatos e desnecessários), ou receber mais ajuda do Dripply durante os combates, além de outros bônus.
Porém, realizar essas missões secundários é um tanto complicado, já que ao selecioná-las elas não aparecem no mapa, o local para onde você deve ir está na descrição da missão, ou seja você deve abrir o livro do Oliver (Wizard’s Companion), ver a sessão dos mapas e se localizar por lá. Tudo isso pode atrapalhar bastante que quer fazer algo rápido e upar logo. Não custava colocar uma estrelinha azul no mapa para mostrar o local da missão secundária, algo que foi corrigido em Revenant Kingdom.
O livro de Oliver
A qualquer momento podemos analisar o livro que Oliver carrega em sua jornada, o Wizard’s Companion, ele funciona como um guia para o jogador, pois conta várias histórias sobre o universo do jogo, explica várias magias e como usá-las, conta com um capítulo para poções que você pode cozinha-las no caldeirão, entre várias outras informações, tudo ricamente ilustrado e excelentemente diagramado.
Nele também existe um bestiário que mostra todas as criaturas que podem ser capturadas e suas evoluções, além dos guardiões de determinadas regiões e etc.
O livro é tão bem feito que instiga o jogador a lê-lo e aprender ainda mais sobre aquele universo. Mas infelizmente, tudo está em inglês.
Considerações Finais
Ni no Kuni: Wrath of the White Witch Remastered é um jogo que beira a excelência, por apresentar uma história séria, mas disfarçada de conto de fadas, trazer uma jogabilidade refinada, bastante estratégica e divertida, além de um universo lindo, rico e fantástico. A combinação da Level 5 com o Studio Ghibli nunca deu tão certo. Os encontros constantes com inimigos podem deixar a campanha cansativa, e a falta de uma localização para o português vai afastar bastante jogadores.
Mas se você curte RPG e nunca jogou esse primeiro título da série, então essa remasterização vale a pena ser jogada!
Desenvolvedor: Level-5
Gênero: RPG
Disponível para: PlayStation 4, Microsoft Windows e Switch
Data de lançamento inicial: 19 de setembro de 2019