Não Olhe, dirigido por Assaf Bernstein, chega nos cinemas nesta quinta-feira (28) com expectativa de assustar, mas falha em seu objetivo. O filme ilustra o típico cliché da adolescente solitária que sofre com o bullying escolar, que é acompanhada da melhor amiga perfeita e que tem uma paixão secreta pelo namorado da amiga. Como se a vida social de Maria (India Eisley) não fosse ruim o suficiente, ela também sofre em casa pela incompreensão e pela pressão dos pais. Sua mãe, Amy (Mira Sorvino), acredita que sua filha é problemática e pensa que o melhor para ela é viver conforme a popularidade dita as regras sociais. Já seu pai (Jason Isaacs), é estritamente severo e possui altos padrões de beleza por ser Cirurgião Plástico, padrões impostos que afetam a própria filha. Um exemplo que beira o extremo é o fato do pai querer reconstruir o rosto da filha como um presente de quinze anos. A residência familiar é apenas um lugar vazio preenchido pela superficialidade. A beleza interior, o amor incondicional e a confiança não constroem o enredo. Com isso, as situações que massacram a protagonista moldam uma autoestima extremamente baixa e é neste momento de angustia profunda que ela se conecta com o seu reflexo, que se sobressai por ganhar vida no espelho. A personagem refletida no espelho é o oposto de Maria em muitos sentidos, até mesmo no nome, Ariam. Ela é confiante e se dispõe a ajudar a protagonista para quebrar barreiras carregadas de vingança e de sede por sangue.
A personagem principal segue os conselhos de Ariam, sua solidão faz ela acreditar que apenas o seu reflexo se importa com os seus sentimentos e que é capaz de extrair todo o sofrimento existente. Os jogos vingativos começam e o esperado acontece tendo como resultado assassinatos sem sentido e a troca de personagens, no qual Maria é aprisionada no espelho e Ariam permanece no corpo de Maria. E, apesar da vida de Maria ser revelado nos mínimos detalhes, a nudez se torna desnecessária no enredo. São tipos de intimidades diferentes e é evidente que a nudez é utilizada com o intuito de conquistar o público-alvo jovem.
Ariam não é alucinação da cabeça de Maria ou amiga dela. Ariam é sua irmã gêmea que nasceu com deformidades. Um ser rejeitado e entregue para a morte pelo próprio pai por conta de sua aparência. Ela é apenas um espírito que usa espelhos como portais para se comunicar, aparentemente com vontade de proteger a irmã das injustiças do mundo e com sede de vingança por todo sofrimento que um dia já foi causado. Ao sair do espelho, Ariam vive com intensidade, com fome da vida e sem se preocupar com as consequências de seus atos. Um personagem, sem dúvidas, interessante. Mas que falha com o objetivo de assustar o telespectador ou até mesmo em deixar aquele arzinho de medo na hora de se olhar no espelho. O suspense funciona bem no filme, tem seu momento de ação dos últimos quinze minutos e não chega nem perto de ser um filme de terror.
A direção de fotografia não passa do comum, faz o bom uso do contra-plongée nas cenas em que Ariam se vinga para dar um toque de superioridade, a iluminação apresentada é suave e o filme destaca em sua paleta tons de cinza constantemente como forma de informação para transmitir tristeza para o telespectador. Apesar disso, o que realmente chama atenção são os movimentos realizados na frente do espelho e a sincronia perfeita do reflexo que tem vida própria em alguns momentos.
Não Olhe é um filme de suspense psicológico teen que não impressiona com o seu roteiro ou que faz o telespectador pular da cadeira com um jump scare. Não Olhe entretém, realça em seu enredo o pior que existe no ser humano e demonstra que a injustiça tem lugar apenas ao lado da vingança. Mas incomoda ao subestimar o telespectador com os seus assassinatos simples que não são desvendados. A expectativa esperada é uma e o que é entregue é outra. Se você está buscando um filme de terror e de suspense fora do comum, não olhe o filme.