Morando com um Vampiro nasceu como uma Reylo Fanfiction e acabou se tornando um ótimo livro, publicado pela Editora Intrínseca, numa comédia romântica digna de boas adaptações hollywoodianas e resgatando os tempos da Saga Crepúsculo. No entanto, o trabalho da autora Jenna Levine teve como base o romance entre Rey e Kylo Ren, de Star Wars, para desenvolver uma história leve, divertida de acompanhar e que serve muito bem para uma leitura em um café.
Pelo ponto de vista de Cassie Greenberg, uma jovem apaixonada por arte e que luta para pagar as contas, acompanhamos sua jornada em busca de um novo apartamento barato e novas oportunidades de emprego, enquanto conhecemos o misterioso Frederick J. Fitzwilliam, um sujeito muito incomum e que esconde um segredo em seu apartamento. Através de um anúncio com erro de digitação no valor, nossa protagonista acaba indo morar com um vampiro e precisará ajudá-lo a viver nos dias atuais.
Sem se preocupar em esconder o plot principal, estampando na capa sobre a presença de um vampiro e trazendo a revelação ainda na primeira parte do livro, logo nas primeiras 100 páginas, a autora trabalha muito bem a construção narrativa para acompanharmos a evolução de Cassie enquanto descobrimos mais sobre Freddie. Na real toda graça do livro está exatamente na convivência de uma humana com um vampiro.
A maneira como Cassie apresenta seu lado mais mundano e como Frederick se interesse por ele, para aprender a vida moderna e conseguir viver nos dias de hoje proporcionam momentos hilários. Dúvidas sobre a vida vampírica não são nada comparadas aos guias do Buzzfeed, a descoberta do TikTok, um simples “compartilhamento”, seriados e, claro, Taylor Swift, com um conhecimento enciclopédico obtido ao se preparar para a interação com humanos, são alguns dos encontros e desencontros que a história utiliza para trabalhar a veia cômica, situando essa história próxima à realidade dos leitores.
Por trás da comédia, o romance entre os protagonista é construído por meio da tensão sexual entre ambos. Não apenas pela beleza e aparência, que criam todos os tipos de desejos, mas por conta do imaginário e pensamentos de Cassie e Frederick, muito bem explorado pela autora para desenvolver os sentimentos que crescem e fervem a cada página.
Esse clima foi trabalhado brilhantemente com a questão de dia e noite, entre uma humana que gosta de luminosidade para fazer sua arte e viver durante o dia, enquanto um vampiro depende da noite por conta da escuridão. Essa limitação surge como artifício narrativo através de bilhetes deixados por Cassie e cartas escritas por Frederick, além dos e-mails de Reginald, fazendo com que o contato presencial e físico entre eles seja breve, ampliando as possibilidades alimentadas pelo desejo sexual e que alimentam o imaginário.
Com muitas pitadas de literatura hot, Jenna Levine não economiza nas palavras e opta pelas descrições bem explícitas sobre a sexualidade entre os protagonistas. Mais para o fim do livro, antes de um plot twist que envolve o passado de Frederick e a família Fitzwilliam, temos uma sequência de quase 40 páginas que exploram muito bem toda essa questão sexual. Acredite em mim, tudo é muito bem descrito!
Essa questão familiar do vampiro, assim como os demais personagens, não possuem grande relevância. Tirando Reggie, o misterioso e recém mudado Reginald, que realmente contribui com a história, a inclusão de Sam, Scott e Amelia, não passam de trampolins para o desenvolvimento de Cassie, assim como Esmeralda e Edwina (que não comentarei mais para evitar spoilers) servem apenas para nos importarmos ainda mais com esse casal improvável criado pela autora.
Morando com um Vampiro é uma história agradável e divertida, sem tentar se levar a sério e assumindo seus pontos mais bregas, porém afirmo isso sem ser pejorativo e sim como um elogio. A escrita de Levine é simples e agradável, proporcionando leitura rápida, numa construção narrativa que não enrola e sem se perder dentro de sua proposta, explorando muito bem a ideia de mostrar como seria dividir um apartamento com um personagem mitológico e que, assim como Cassie acreditava, existir apenas nos livros de Anne Rice ou em Crepúsculo.
Depois dessa leitura divertida, espero que a Editora Intrínseca esteja planejando o lançamento de “My Vampire Plus-One“, próximo livro da autora e que explora outros dois personagens, no que parece ser uma espécie de spin-off. Depois dessa, será que voltamos para descobrir o futuro de Cassie e Frederick? Afinal as últimas páginas deixaram um bom gancho para uma continuação direta.