A Atlus está simplesmente em chamas neste ano! Entre janeiro e outubro, já foram dois grandes títulos lançados (ambos com duração de 80 a 100 horas) e um DLC com mais de 20 horas de conteúdo. Para quem está achando pouco, ainda tem mais: Metaphor: ReFantazio está batendo na porta e é disparado o principal lançamento do estúdio em 2024.
Apesar de ter sido oficialmente revelado há pouco mais de um ano, Metaphor já está em desenvolvimento há um bom tempo. Ele segue os mesmos moldes vistos na série Persona, porém ambientado em um mundo de fantasia medieval combinado a alguns elementos de modernidade. É uma mistura pouco ortodoxa, mas que aos poucos se tornou um dos JRPGs mais incríveis que joguei nos últimos anos.
Corrida ao trono
Metaphor: ReFantazio se passa no Reino Unido de Euchronia, que é composto por sete tribos diferentes. As raças consideradas superiores costumam ser as únicas encontradas em posições de destaque, enquanto as demais sofrem um preconceito brutal, tendo que lutar pela sua sobrevivência diariamente. A história começa quando o rei deste grande reino é assassinado, criando assim uma disputa caótica pelo trono.
Nosso protagonista é um membro da tribo Elda, que é condenada por toda essa sociedade por ser herdeira de uma “magia proibida”, como descreve a principal religião local. O garoto sem nome é um dos poucos que sabe do paradeiro do príncipe, que foi amaldiçoado pelo assassino do rei durante a juventude e segue em um sono profundo. Dessa forma, ele recebe a árdua missão de partir para a Capital a fim de encontrar uma forma de salvar o único herdeiro do trono.
Todos esses fatos arranham apenas a superfície do prólogo, então obviamente o jogo sofre diversas reviravoltas e toma novos rumos ao longo de suas 100 horas de duração. Como de costume, temos aqui uma campanha extremamente longa e com mais cenas do que gameplay; a boa notícia é que a história é excelente e realmente consegue prender, então não chega a ser maçante. A Atlus também adicionou uma quantidade bem maior de cenas em animação neste jogo, o que enriquece ainda mais a narrativa.
Grande parte da qualidade do enredo se deve ao universo que foi criado aqui. Metaphor: ReFantazio é um reflexo do nosso mundo, abordando abertamente assuntos muito delicados como preconceito, desigualdade social e política. Contudo, o tema central deste título é a ansiedade, que afeta os personagens de diferentes modos ao longo da campanha – inclusive no combate.
Assim como Persona e Shin Megami Tensei, Metaphor está cheio de mensagens realistas sobre assuntos totalmente integrados em nossas vidas. Esse mundo pode ser uma fantasia, mas a realidade daquelas pessoas não está tão distante da nossa.
Criando laços
Seguindo a lógica dos outros jogos do estúdio, em Metaphor: ReFantazio devemos seguir uma rotina para evoluir nosso personagem aos poucos. Conforme a história avança e novos objetivos vão sendo estabelecidos, o jogo cria prazos para o jogador prosseguir com a missão principal. Os dias que antecedem a data final servem para fazer missões secundárias, explorar dungeons e melhorar virtudes.
Nós temos apenas dois períodos do dia para explorar: manhã e noite. Qualquer tipo de atividade importante avança o tempo, então cabe ao jogador encontrar uma rotina que atenda às suas prioridades e faça o melhor uso possível dos dias que tem disponível. É um formato repetitivo, mas que em nenhum momento se torna enjoativo, já que o jogo está adicionando coisas novas constantemente para deixar o dia a dia mais interessante.
Em meio a tudo isso, temos o retorno dos Social Links. Nosso personagem pode criar diversos laços ao longo da sua aventura, só que diferente de Persona, cada vínculo criado aqui lhe proporciona um novo tipo de Arquétipo – como são chamadas as “personas” do jogo. Essa é uma mecânica que falaremos melhor adiante.
Leva um tempo considerável para nos acostumarmos com todos os tipos de atividades do jogo e finalmente encontrar uma rotina perfeita. Contudo, os prazos impostos nas primeiras 20 horas da campanha são bem apertados e não costumam ser o suficiente para fazer tudo que está disponível naquele momento. Achei esse um pequeno problema, já que as missões e objetivos paralelos tendem a se acumular mais adiante.
Em Metaphor: ReFantazio, também contamos com um vasto mapa a ser explorado. Não se trata de um mundo aberto e, de início, apenas poucos locais estarão disponíveis. A questão é que muitas missões exigem explorar dungeons em pontos distantes, que consomem um ou vários dias de viagem. Esse detalhe somado aos prazos curtos deixa as primeiras horas da campanha um tanto confusas.
Mais para frente, os prazos ficam bem mais generosos, então esse problema é temporário e acaba sendo corrigido em um ponto avançado do jogo.
Lutando com Arquétipos
Já se tratando do combate, Metaphor: ReFantazio ainda se mantém no bom e velho RPG de turnos, mas com algumas adições interessantes. As batalhas do jogo não se limitam exclusivamente ao “bate e espera” – quando os inimigos na dungeon têm um level menor que o da sua party, é possível eliminá-los ali mesmo, através de uma simulação de combate em tempo real.
Classifico como uma simulação porque você consegue eliminá-los com um único golpe, então não chega a ser um sistema de combate em tempo real completo. As batalhas reais só acontecem no formato em turnos, onde podemos montar estratégias e usar o poder dos Arquétipos.
Diferente de Persona, aqui não existe uma limitação a respeito de qual Arquétipo cada personagem pode usar. Todos os tipos de transformações podem ser utilizadas de forma generalizada, bastando ensinar o respectivo poder ao guerreiro em questão. Esse é um detalhe bem bacana, pois dá mais liberdade para montarmos nossa party como bem entendermos, sem se limitar a um personagem específico ou uma única classe.
Para desbloquear mais Arquétipos, é necessário formar novos laços e fortalecê-los para conseguir suas variações mais fortes – o que costuma ser feito por missões paralelas. Em Metaphor, os Social Links são realmente recompensadores, além de conceder a oportunidade de conhecermos melhor nossos personagens preferidos.
Na prática, esse sistema não tem muitos segredos e ainda se assemelha bastante a Shin Megami Tensei e Persona. Contudo, achei as horas iniciais de Metaphor consideravelmente mais difíceis – especialmente devido à escassez de itens que recuperam MP. Usar magia é fundamental para o sucesso nas batalhas e as dungeons costumam ser bem longas, então quem não souber administrar o MP pode acabar quebrando a cara.
Um mundo de fantasia
O visual de Metaphor: ReFantazio permanece com aquele estilo de anime característico da Atlus. Em termos de qualidade gráfica, o jogo não está muito diferente de Persona 3 Reload, o que é um ponto bastante positivo. Contudo, a direção de arte dele certamente chama mais atenção, pois é sempre incrível vagar pelas ruas daquelas cidades medievais com um toque inusitado de modernidade.
Outro ponto que merece ser destacado aqui é o visual das criaturas conhecidas como Humanos, que representam a maior ameaça do jogo. Os Humanos são monstros horrendos e extremamente fortes, mas o que realmente impressiona é o seu visual – é um mais bizarro que o outro! Alguns chegam até a causar um certo desconforto só de olhar (as inspirações em Attack on Titan são bem evidentes).
Por fim, não podemos deixar de exaltar a trilha musical do jogo – que vindo da Atlus, não poderia ser nada menos que absurda. Metaphor: ReFantazio traz músicas mais orquestrais e com grande foco em vocais líricos, transformando cada batalha em uma verdadeira ópera. Obviamente, é bem diferente do “hip hop pop” de Persona, mas casa perfeitamente com a proposta.
A Atlus prometeu e cumpriu: Metaphor: ReFantazio é um dos melhores jogos do ano! Um título obrigatório para os fãs do estúdio e para qualquer amante de JRPG, que traz todas as melhores características de Persona em uma jornada autêntica e profundamente impactante. Quando os desenvolvedores escolheram a ansiedade como tema, eles não estavam de brincadeira – você realmente não vê a hora de continuar jogando!