Podemos dizer que a franquia The Legend of Zelda atingiu seu ápice durante a era Nintendo Switch. Por mais que essa afirmação possa gerar certa controvérsia, não podemos negar que o Switch foi o console com a maior variedade de títulos únicos da saga – tem dois grandes jogos de mundo aberto que reinventaram um gênero, tem musou, tem jogo rítmico e também tem Zeldinha no estilo mais clássico.
O remake de Link’s Awakening certamente foi uma excelente surpresa, mas o último título inédito que tivemos nos moldes mais antigos da franquia foi em 2013, com o incrível A Link Between Worlds do 3DS. Mais de uma década se passou, mas a espera valeu a pena: Echoes of Wisdom chegou para “reinventar” a roda, pela primeira vez nos permitindo controlar a Princesa Zelda em pessoa!
A verdadeira lenda
Apesar de possuir o mesmo estilo artístico do remake de Link’s Awakening, é importante ressaltar que The Legend of Zelda: Echoes of Wisdom não se trata de uma sequência – ou sequer se passa no mesmo local. A Nintendo apenas soube reaproveitar o visual fofo do título de 2019, que por sinal, casa perfeitamente com a atmosfera de um bom e velho Zeldinha raiz.
Neste jogo os papeis se invertem: durante mais uma missão de resgate à princesa, Link acaba sendo capturado por uma misteriosa fenda após derrotar seu arqui-inimigo Ganon. Em um último esforço, o herói consegue soltar Zelda de suas amarras, permitindo que ela fugisse antes da distorção dimensional consumir todo o local.
Contudo, Zelda ainda não estava a salvo: ao voltar para o castelo, ela é surpreendida ao ser acusada pelo seu próprio pai de ser a criadora dessas fendas. Com a ajuda de uma criaturinha chamada Tri, a princesa consegue escapar e passa a vagar por Hyrule como uma foragida. Agora, resta unicamente a ela e seu novo amigo investigarem a origem dessas fendas e salvar o reino de uma nova calamidade.
Echoes of Wisdom é especial por diversos motivos. Ele não é somente o primeiro jogo da franquia onde podemos controlar Zelda, mas também é o primeiro título da saga a estar totalmente localizado em português brasileiro! A adaptação desse jogo está de cair o queixo e apenas mostra o cuidado que a Nintendo vem tendo com nosso público. Para quem sempre criticava o fato de apenas jogos com pouco texto virem traduzidos, temos aqui um que vai totalmente na contramão disso!
Um eco de Hyrule
Echoes of Wisdom segue o mesmo padrão dos Zeldas mais antigos, trazendo um mapa aberto com câmera isométrica. Diferente dos clássicos, aqui o mundo todo é posto em cena de uma vez, sem as transições de cenário (que aconteciam devido às limitações de hardware de outrora). Essa nova Hyrule está completinha, contando com todos os lugares mais famosos da série: a Vila Kakariko, o Vulcão Eldin, a Montanha Hebra, o vilarejo dos zoras e muito mais.
Além do mais, o mapa está repleto de segredos e colecionáveis – algo que não poderia faltar em um jogo da franquia. Explorá-lo é muito divertido e a adição das sidequests torna tudo ainda mais legal, já que fornece um incentivo adicional para revirarmos cada cantinho. Podemos notar que muito de Breath of the Wild e Tears of the Kingdom foi adaptado neste título, dando uma modernizada naquela velha fórmula que todos conhecemos de cor e salteado.
A principal mecânica do jogo gira em torno dos ecos: clones que podem ser criados pelo nosso novo aliado Tri. Zelda pode clonar quase qualquer coisa que encontramos neste game, desde objetos até inimigos. Aprender a utilidade de cada um desses elementos é fundamental para o progresso, já que seguindo a premissa de Tears of the Kingdom, esse é um daqueles jogos que nos dá inúmeras soluções para uma mesma situação.
A mobilidade de Zelda é extremamente limitada e, apesar de existir alguns itens que podem melhorar esse aspecto, é necessário jogar uma boa parcela do jogo para conseguir encontrá-los. Por isso, na maior parte do tempo, você precisará usar os seus ecos para superar obstáculos, criar caminhos e avançar pelos diferentes ambientes que explorar. É uma mecânica muito instigante que, mais uma vez, prova como essa franquia pode ser criativa.
Por mais que seja divertido usar camas como pontes, não nego que as limitações de Zelda tendem a ficar cansativas com o tempo. Qualquer plataforma minimamente alta já exige a criação de pelo menos dois ecos para conseguir alcançá-la, então essa falta de praticidade deixam as coisas meio maçantes. Ao menos, o problema pode ser solucionado com a ajuda dos acessórios certos.
Escolta pessoal
A parte que mais me agradou dessa mecânica de ecos foi o combate. Zelda não é uma guerreira como Link, então não se pode esperar que ela saia peitando qualquer monstro empunhando espada e escudo. Ao invés disso, a princesa deverá usar os ecos dos monstros que derrotou para fazê-los lutar por ela e isso é mais legal do que parece!
A variedade de monstros é alta e acaba sendo muito divertido descobrir quais são as habilidades dos ecos recém-obtidos. Alternativamente, Zelda também pode usar sua transformação de Espadachim, onde ela recebe os poderes de Link e consegue enfrentar qualquer oponente de igual para igual. Contudo, esse poder fica ativo por um tempo bem limitado, nos forçando a focar em estratégias com os ecos.
O combate do jogo é surpreendentemente estratégico, além de explorar com perfeição a principal mecânica do jogo. Diante de tantos acertos, a única crítica mais profunda que tenho em relação a Echoes of Wisdom é com respeito ao desempenho; o jogo sofre frequentemente de frame drops, especialmente quando estamos explorando o mundo aberto. Não chega a ser nada que condena seu gameplay, mas a recorrência acaba incomodando.
The Legend of Zelda: Echoes of Wisdom encerra a participação da franquia no Nintendo Switch com muito louvor. O misterioso sucessor do console já está batendo na porta, mas ninguém pode negar que essa line-up de despedida está melhor que a encomenda! Receber um jogo dessa qualidade aos 45 do segundo tempo apenas mostra que a Nintendo nunca brinca em serviço.