Após um hiato nas filmagens, causado pela Covid-19, e o adiamento de um ano em seu lançamento, inicialmente previsto para 2021, Jurassic World: Domínio chega finalmente aos cinemas apostando no “bom e velho” carisma dos dinossauros, em efeitos especiais de primeira linha e muita ação family friendly, acompanhada de boas doses de nostalgia para agradar os fãs da franquia. O filme estreia no Brasil nesta quinta, dia 2 de junho.
O diretor e roteirista Colin Trevorrow, que também dirigiu Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros, está de volta e é a principal cabeça do projeto, que tem também Steven Spielberg como produtor executivo. Os dois acertaram na mosca em trazer os personagens principais dos primeiros filmes para celebrar o capítulo final da saga. A química e a interação entre Ellie Sattler (Laura Dern), Alan Grant (Sam Neil) e Ian Malcom (Jeff Goldblum) são um dos pontos altos do filme.
O trio é responsável pelo alívio cômico, que contrabalanceia a ação focada nos protagonistas da segunda trilogia, Owen Grady (Chris Pratt) e Claire Dearing (Bryce Dallas Howard), agora na função de pais adotivos da menina-clone Maisie Lockwood (Isabella Sermon). Destaque para Goldblum, que, apesar do pouco tempo de tela, brilha com as tiradas sarcásticas e filosóficas de seu personagem. E o humor está presente, mas é bem sutil, sem exageros, bem diferente de filmes que seguem a fórmula Marvel, com piadinhas a cada segundo.
Serve como um respiro em meio às perseguições, tiroteios, lutas e ataques de raptors furiosos e outros predadores do período cretáceo. Há, ainda, várias referências aos filmes anteriores, principalmente Jurassic Park, e à outras obras do universo Spielberg. Quem é fã da série desde o início, em 1993, vai curtir identificar alguns desses momentos.
A trama
O filme se passa quatro anos após Jurassic World: Reino Ameaçado e os dinos que foram libertados se integraram à natureza, inclusive sendo vítimas de comércio ilegal e outras crueldades do tipo. Eles deixaram de ser vistos como ameaças, e o governo precisa decidir como vai lidar com as diferentes espécies espalhadas pelo mundo. Seria possível coexistir? Afinal, animais gigantes e superpredadores à solta podem causar uma série de problemas. Para resolver a questão, surge a corporação BioSyn, especializada em engenharia genética, que cria um santuário nas montanhas da Itália e começa a capturar e levar os animais para lá, com o objetivo de estudar sua fisiologia e usar o paleo-DNA para curar as mais diferentes doenças.
É claro que os verdadeiros interesses da Biosyn não são tão nobres assim, e é aí que os problemas começam. O homem por trás de tudo é o magnata Lewis Dodgson (Campbell Scott), um vilão bem caricato, à la Elon Musk, que não convence muito. Bem fraquinho, está ali para ocupar espaço. Domínio segue duas linhas narrativas paralelas que se entrelaçam na segunda parte do filme, quando todo mundo vai parar no santuário. A primeira acompanha Owen e Claire, que continuam, cada um a seu jeito, lutando pela preservação dos dinossauros.
O casal vive tranquilo em uma cabana na floresta, onde escondem uma entediada Maisie, em plena adolescência, sendo visitados, esporadicamente, por Blue, a velociraptor amestrada por Owen, que conseguiu se reproduzir sozinha e agora tem um filhote, que é praticamente uma réplica da mãe, com o mesmo código genético. Tudo vai bem até que Maisie e a filha de Blue são sequestradas por traficantes de animais. Os pais adotivos saem em busca das duas, dando início à uma série de perseguições e sequências de ação que remetem a filmes de espionagem, com direito até à participação da CIA.
A segunda linha narrativa segue a doutora Ellie, que descobre uma ameaça de proporções bíblicas (literalmente!) à alimentação em todo o planeta, o que pode gerar danos irreversíveis para a humanidade. Ela desconfia do envolvimento da Biosyn e convoca o paleontólogo Alan Grant, seu eterno crush, para ajudá-la a se infiltrar no santuário, com a ajuda do amigo Ian Malcom, que atua com uma espécie de filósofo-guru para a corporação. O objetivo é conseguir provas de experimentos genéticos que tenham ligação com a destruição da produção de grãos global.
As duas narrativas se encontram quando Maisie e Baby Blue são levadas para o Santuário para serem estudadas pelo geneticista sem escrúpulos, Dr. Henry Wu (BD. Wong), que começa a lidar com as consequências de abraçar a ciência cegamente, deixando a ética de lado. Owen, Claire e a nova parceira, a piloto Kayla Watts (DeWanda Wise), se unem ao trio de cientistas do filme original para salvar Maisie, devolver a filhote para Blue e proteger o mundo das intenções maléficas da Biosyn, que no final das contas não ficam muito bem explicadas. O roteiro tenta deixar tudo bem explicado e costurado, mas não se aprofunda muito.
E os dinossauros?
A essa altura, você deve estar se perguntando: mas, e os dinossauros? Pois é, em Domínio eles são apenas coadjuvantes de luxo, muitas vezes apenas pano de fundo para as cenas de ação centradas nos personagens, o que é um ponto negativo. Os bichos deixaram de ser a grande ameaça, como acontecia na 1ª trilogia e no primeiro Jurassic World, e os “nossos heróis” lidam com eles com facilidade, sempre que aparecem. São impactantes quando surgem, mas os sustos são poucos. Em muitas horas, inclusive, chegam na hora “h” para ajudar os humanos do “bem”.
É lógico que após seis sequências, a computação gráfica e o uso de animatrônicos (muito bem explorados aqui, por sinal) são primorosos. Quanto aos efeitos especiais e às cenas de ação, não há do que se queixar. Nesse quesito, o filme entrega tudo o que promete. Continua sendo muito legal ver as lutas de superpredadores e os velociraptors atacando geral.
Todos os dinossauros estão perfeitos, e aqui temos novas espécies bem interessantes, como o Giganotossauro, o maior carnívoro que já existiu, e um outro dinossauro com garras sinistras, que poderia ser apelidado facilmente de dino-Wolverine. Faltaram mais cenas de dinossauros soltos pelas cidades e interagindo com as pessoas. As poucas que aparecem são bem interessantes. Podiam ter investido um pouco mais nisso.
Jurassic World: Domínio cumpre seu papel como uma boa sessão da tarde, e vai agradar o público em geral, principalmente quem gostou da 2ª trilogia. Os fãs mais antigos talvez sintam falta de mais protagonismo dos dinossauros e um ritmo um pouco mais lento, mas, em compensação, vão poder matar a saudade do carismático trio original. Se você decidir conferir, assista ao filme nos cinemas. A experiência vai ficar bem melhor na tela grande, com o melhor sistema de som possível.