Oito anos depois que os filmes Jogos Vorazes pareciam ter chegado ao fim, os fãs da franquia podem finalmente comemorar um retorno comovente e intrigante à Panem. E mesmo sendo uma adição valiosa para a saga, A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes têm poucas razões convincentes para a sua existência nas telonas.
Sendo um prelúdio homônimo do livro escrito por Suzanne Collins, o novo filme leva o público de volta há uma Panem 60 anos antes de Katniss Everdeen, para mostrar o início da vida política e romântica de Coriolanus Snow, e em como ele se corrompeu, tornando-se o líder tirano e cruel que já conhecemos.
Todos os elementos que fizeram de Jogos Vorazes um enorme sucesso estão de volta – a abordagem massiva e sombria da mídia que converte crueldade em diversão, o uso do poder político que comanda os cidadãos à mão de ferro, e a horrível premissa distópica num cenário pós-guerra.
Apesar de A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes manter a mesma estrutura de seus antecessores, agora a perspectiva dos Jogos Vorazes estão sob os olhos dos cidadãos da Capital, e não dos distritos. A trilha sonora também mantém as características já conhecidas pelo público e gera momentos nostálgicos, inclusive com o surgimento da canção emblemática Árvore-Forca.
Mesmo sendo o filme mais longo de toda a franquia, com 2 horas e 38 minutos de duração, o maior erro de A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes é justamente o seu tempo de execução, criando problemas de ritmo que afetam drasticamente a qualidade do longa-metragem. É nítido que o filme sofreu grandes cortes de cenas que seriam valiosas para o desenvolvimento da trama.
Nesse ponto, o diretor Francis Lawrence não consegue sintetizar os acontecimentos com a fluidez necessária. Ele desperdiça uma premissa potencialmente rica com um estudo de personagem em grande escala, e entrega um romance fadonho ao estilo Romeu e Julieta. Mais justo seria se o filme fosse dividido em duas partes para manter a história mais satisfatória.
Apesar dessa falha miserável de produção/direção, o enredo de A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes é bastante fiel à sua história. Mesmo sendo um prelúdio, há muitas referências empolgantes com a franquia original. Os cenários e toda a parte visual do filme também são impecáveis.
O longa se beneficia com ótimas cenas de ação e doses de drama realmente impactantes, além de um elenco jovem e promissor.
Estrelado por Tom Blyth como o jovem Coryo Snow, o ator é imponente e entrega uma performance crível de um personagem complexo e odioso. É fácil perceber que Blyth se esforça no desenvolvimento do personagem, através de seu olhar vazio, mesmo que suas expressões sejam apenas razoáveis. O seu maior momento em tela fica apenas nos últimos minutos do filme.
Rachel Zegler encarna uma personagem perspicaz e desafiadora. Os números musicais da atriz em seu papel como a musicista atraente do Distrito 12, Lucy Gray Baird, dão uma certa credibilidade para o seu trabalho no longa. No entanto, a sua performance não tem exatamente o espírito efervescente de Lucy. A escalação de Zegler é no mínimo questionável, uma vez que a atriz é apenas um nome em ascensão em Hollywood, nada mais que isso.
O roteiro não contribui em nada para a construção do romance entre Coriolanus e Lucy, e os atores não conseguem criar a química necessária para o relacionamento (proibido) dos personagens.
O elenco secundário é tão morno quanto o romance dos protagonistas. Nomes de grande peso como Peter Dinklage, Hunter Shafer, Josh Rivera e Jason Schwartzman completam o time com representações convincentes, mas nada brilhante.
A atriz mais experiente em tela, Viola Davis, em sua interpretação como da vilã Dra. Volumnia Gaul, uma personagem excêntrica e perturbadora – na verdade, fica exagerada demais.
Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes é um retorno brutal e sangrento para a franquia, um verdadeiro frescor para os fãs mais devotos. Já os problemas de ritmo fazem o último ato perder muita força, o que prejudica as intenções de Coriolanus Snow e consequentemente na atuação de Tom Blyth. Os números musicais são poderosos e imersivos na medida certa. Facilmente poderia ser um grande ato audiovisual, mas a verdade é que acaba sendo mais do mesmo.