Já faz quase duas décadas que a IO Interactive deu um significado permanente para o número 47 no mundo dos games e fez com que qualquer homem alto e careca vestindo terno pareça um assassino de aluguel no imaginário popular. É raro vermos uma série tão consagrada como Hitman sobreviver por tantos anos sem sair das mãos do estúdio que lhe deu origem – e aqui estamos nós, dezoito anos depois, jogando um novo Hitman que apenas ganhou experiência e evoluiu com o tempo, e como evoluiu!
Após uma sequência (com mais cara de reboot) glamourosa de Hitman Absolution em 2016, o legado de 47 não foi esquecido e um segundo Hitman 2 foi lançado para continuar confundindo nossas cabeças com essas cronologias malucas. Hitman 2016 é indiscutivelmente um ótimo jogo, mas o fator episódico acabou fazendo com que muitos fãs entortassem o nariz para o título, e é claro que a IO escuta seus fãs. Hitman 2 deixa os episódios de lado e volta a trazer um pacote completo, com novos modos e novos alvos para nosso amigo 47 se divertir.
Um dia é da caça…
A trama continua imediatamente após os fatos de Hitman 2016, dando continuidade a todas aquelas teorias da conspiração e poderosas entidades secretas lutando pelo controle global. Dessa vez iremos descobrir mais sobre o misterioso cliente que nos dava missões tão arriscadas no primeiro jogo e até mesmo sobre o passado de 47, que está diretamente ligado a isso e até hoje foi pouco explorado na saga.
Mesmo possuindo um enredo em todos os jogos, é fato que sempre pareceu que a história nunca foi o foco da franquia. Desde 2016 o enredo é contado em breves cutscenes entre uma missão e outra, e foi a partir desse jogo que as coisas melhoraram muito para a série nesse ponto. Apesar de continuar soando como algo em segundo plano, a trama dessa nova fase de Hitman é sim muito importante e interessante, e eles souberam dar continuidade perfeitamente nesta sequência, salvo um único detalhe que infelizmente acaba tendo peso aqui: a ausência de CG no segundo jogo.
O CG de Hitman 2016 era de uma qualidade incrível e tornava o jogo ainda mais real, dando a impressão que nós realmente somos o 47 e que nossos atos estão causando um grande impacto pelo mundo. Em Hitman 2, inexplicavelmente substituíram o CG por imagens estáticas renderizadas em alta qualidade com algumas animações. Todas as cutscenes são contadas em forma de slide, onde uma imagem é mostrada e apenas escutamos os diálogos dos personagens, vez ou outra com algum efeito simples como chuva ou iluminação. Não faz sentido algum essa regressão no modo de contar a história do jogo sendo que era uma das principais qualidades do primeiro. Consequentemente, as cutscenes se tornaram chatas e o interesse do jogador pela trama acaba indo por água abaixo.
Matando pelo mundo
Hitman 2 funciona exatamente como o primeiro. Temos 7 missões ao todo (contando com o prólogo) e é claro que houve uma leve melhoria nas mecânicas e uma polida nos gráficos – inclusive, ainda é possível jogar todas as missões do primeiro com visual remasterizado e mecânicas atualizadas dentro da própria sequência! Se você já possui o pacote GOTY de Hitman 2016, todo esse conteúdo é liberado gratuitamente, mas se não for o caso, o pacote de missões e todo o conteúdo adicional do anterior é vendido via DLC, onde cada missão é adicionada como uma DLC a parte dentro do jogo.
As mecânicas seguem muito similar ao primeiro, onde a sensação de estar literalmente jogando uma expansão do jogo de 2016 é inegável. Hitman 2 é completamente online, podemos dizer, já que não é possível obter uma experiência completa jogando no modo off-line. Quando conectados, todo nosso progresso é enviado para os servidores da IO e assim vamos upando nossa conta de level conforme completamos desafios dentro das fases. Quanto mais levels ganhamos, mais gadgets para o 47 recebemos, indo dos mais variados, desde seringas com veneno até patinhos explosivos.
O modo 100% online de Hitman 2 operar tem seus prós e contras: ele instiga o jogador a subir seu level para desbloquear novos gadgets e assim poder caprichar mais nos assassinatos dos alvos, aumentando o fator replay e incentivando à revisitar as fases para fazer os desafios restantes. A parte ruim é que jogar offline te impossibilita de usufruir quaisquer recursos do jogo – você ainda pode jogar as missões livremente, mas sem contar progresso e sem liberar novos acessórios.
As fases estão ainda maiores que as do primeiro e algumas conseguem ter uma quantidade superior de NPCs simultâneos no cenário, o que impressiona. O visual continua belíssimo e levemente mais bonito que do anterior, com paisagens variadas e muito caprichadas – com destaque para a missão em Santa Fortuna, ambientada na Colômbia, em que a ambientação se estende para além de vilarejos e mansões, chegando à florestas tropicais ainda pouco exploradas na saga. Essa mudança de ares é excelente para propor novas possibilidades ao stealth, que é a principal característica da série.
Para os que não fazem questão de descobrir tudo por si mesmo, as Histórias de Missões retornam indicando meios de se alcançar os alvos, funcionando como uma espécie de guia na missão. No primeiro jogo, cada missão possuía várias Histórias para experimentarmos diversos modos de se matar o mesmo alvo. Já em Hitman 2, é notável que a quantidade de dicas foram levemente reduzidas, e as que permaneceram nem sempre estão lá de mão beijada para o jogador, muitas vezes sendo acessíveis apenas em locais bem vigiados, te obrigando a descobrir um jeito de se infiltrar por conta própria. Isso é ótimo, pois é exatamente esse misto do fator descoberta com toda uma tensão e imprevisibilidade que tornaram Hitman o que ele é hoje.
Uma dupla de matar
Hitman 2 também traz novos modos, além dos já conhecidos do título de 2016. O modo de criar seu próprio contrato usando as missões do jogo está de volta, dessa vez com todos os cenários do segundo jogo disponível além dos anteriores. Os Elusive Targets também retornam neste, funcionando como eventos temporários dentro do jogo em que nos é dado um alvo único e temos apenas uma chance de matá-lo usando nossos próprios métodos – se morrer ou falhar na missão, você não poderá mais jogar aquele contrato.
A estreia desse modo foi feita em grande estilo, onde a IO criou um contrato em que devemos matar um assassino de aluguel interpretado por Sean Bean, nosso querido Boromir em O Senhor dos Anéis e o Ned Stark na série Game of Thrones – e claro, um ator muito conhecido por sempre morrer em quase todos os filmes que participa, então essa é a brincadeira da IO ao nos dar a oportunidade de matá-lo mais uma vez, só que agora pelas mãos do 47.
A verdadeira e inesperada novidade aqui é o multiplayer de Hitman, o que é realmente inédito na saga. Quem fez a pré-compra do jogo pôde usufruir de um desses modos bem antecipadamente: chamado de Sniper Assassin, é um modo cooperativo onde dois jogadores devem matar uma série de alvos dentro de um limite de tempo usando apenas uma sniper. Não é algo que consiga te prender por muito tempo, mas consegue entreter caso a dupla só esteja buscando uma jogatina casual e pouco complexa.
O segundo modo inédito é um multiplayer competitivo intitulado Ghost, e essa é a verdadeira cereja do bolo. Dois jogadores (ambos controlando seu próprio 47) tem cinco minutos para abater o maior número de alvos que conseguir, e tudo deve ser feito furtivamente, pois se você for detectado durante o ato, o kill não irá contar. Se não bastasse a pressão de ter que fazer tudo mais rápido que seu adversário, quando o oponente marca um ponto te é dado uma contagem regressiva para matar o seu alvo – se o tempo acabar, o alvo muda e você deverá se organizar novamente sem pontuar. Foi uma adição bem divertida ao jogo que propõe uma competiçãozinha de matança bem saudável entre amigos.
Hitman 2 não é super revolucionário se comparado ao primeiro, mas é uma boa extensão e consegue saciar bem a falta que alguns estavam sentindo do bom e velho 47. Só o fato do jogo não ser mais vendido episodicamente já o torna melhor que o primeiro, e o pacote DLC que adiciona toda a primeira temporada ao conjunto acaba deixando sua primeira versão obsoleta, então podemos afirmar que esta sequência é a versão definitiva dessa nova fase de Hitman. Um título indispensável para todos os públicos, desde os novatos até aqueles que vem acompanhando a trajetória do Assassino Silencioso há quase duas décadas.