Mais uma vez provando que um prelúdio pode ser tão bom quanto o original, Furiosa: Uma Saga Mad Max é uma experiência cinematográfica impressionante e explosiva que precisa ser testemunhada pelos fãs da franquia. Mesmo que utilizando ingredientes semelhantes de Mad Max: Estrada da Fúria, o diretor George Miller consegue reascender as chamas no deserto, saindo do mais do mesmo, apresentando uma história de origem implacável e singular.
O primeiro ponto que precisa ficar bem claro, principalmente para quem esperou muito para ver Furiosa: Uma Saga Mad Max, seria não compará-lo com aquele filme visto em 2015 estrelado por Charlize Theron e Tom Hardy. Comparar os dois filmes seria como perder o foco e falhar miseravelmente como cinéfilo. A melhor maneira é vê-lo como um conjunto de duas partes, uma odisseia épica alcançada com toda a sua glória, através de um brilhante trabalho de direção.
Embora seja visualmente incrível, o filme pode ser narrativamente superficial, mas talvez seja exatamente a sua “falha” que torna Furiosa: Uma Saga Mad Max tão grandioso em seu escopo. Afinal, a intenção de Miller era justamente emendar ao máximo as cenas de ação, então o filme cumpre com o seu propósito, e dificilmente perde o ritmo.
Mesmo sendo um prato cheio para os entusiastas da ação e aventura, o longa-metragem é dividido em cinco capítulos – o que pode ser uma tentativa de desacelerar os acontecimentos. Se não, o filme seria explosões atrás de explosões e perderia sua qualidade, uma vez que estamos falando de 2 horas e 28 minutos de duração. Uma história tinha que ser contada, e foi.
Na trama, a jovem Furiosa (Anya Taylor-Joy) é sequestrada do Lugar Verde de Muitas Mães, e cai nas mãos de uma grande horda de motoqueiros liderada pelo senhor da guerra Dementus (Chris Hemsworth). Varrendo Wasteland, eles encontram a Cidadela, presidida pelo Immortan Joe (Lachy Hulme). Enquanto os dois tiranos lutam pelo domínio, Furiosa logo se vê em uma batalha ininterrupta para voltar para casa.
É fato que a protagonista é interpretada por Taylor-Joy, que apesar de muito jovem, é destaque em muitos trabalhos excelentes nos últimos anos (A Bruxa, O Menu, Emma, O Homem do Norte e entre outros); e se tornou um fenômeno em Hollywood por sua versatilidade e talento em tela. Porém, o que pode surpreender, é que a atriz não aparece como Furiosa até o terceiro capítulo do longa. Em seu lugar está a atriz-juvenil, Alyla Browne, que assume o papel inicial e impressiona tanto quanto sua contraparte mais velha.
Alyla Browne está absolutamente impecável, e desde o início do filme encarna gradualmente a intensidade e a raiva por trás da personagem Furiosa. Sem contar os aspectos físicos semelhantes com a de Anya Taylor-Joy, como se fossem a mesma pessoa em idades diferentes. É um crédito para a diretora de elenco, Nikki Barrett, que, à medida que o filme segue para a Furiosa mais velha, é uma transição praticamente perfeita.
Taylor-Joy assume o terceiro capítulo, através de uma surpreendente sequência de ação que levam vários minutos. É um cenário visual extraordinário com vários elementos que se conhece da franquia. Provando ser uma atriz fascinante, o papel de Furiosa cai como uma luva para Taylor-Joy, mesmo com pouquíssimos diálogos, os olhares borbulhantes e cheios de ódio da atriz é digno da personagem.
Assim como Charlize Theron fez em Estrada da Fúria (2015), Anya Taylor-Joy externa todo o seu sentimento em Furiosa: Uma Saga Mad Max através de suas expressões corporais. Como dito, o trabalho de ambas apenas somam e cada uma soube aproveitar o seu momento de forma honesta e admirável.
O conflito central entre Furiosa e Dementus é o combustível que movimenta toda a trama; e de todo o elenco, Chris Hemsworth no papel do sátiro vilão – é de longe – o que mais impressiona. O ator não só faz uma performance convincente, como injeta doses de carisma através de um personagem selvagem, brutal e um grande lixo.
Tem que reconhecer o trabalho de um ator quando faz um personagem execrável ser tão admirável.
O último capítulo acontece quase de forma religiosa, através de um olhar meticuloso de Miller, que entrega um final magnífico e ao mesmo tempo espiritual. Apesar de ser um filme sobre vingança e caos, é também sobre como a humanidade reage aos sentimentos de dor e perda, sobre o preço de se arriscar ao máximo para conseguir de volta aquilo de lhe foi tirado. É simplesmente uma obra de arte filosófica e cinematográfica.
Furiosa: Uma Saga Mad Max é um trabalho descomunal, é uma bagunça muito bem orquestrada. As sequências de ação são empolgantes na medida certa, não é ensurdecedor de mais, porém é também. Apesar de um enredo quase inexistente, o filme é sólido e se mantém por cinco capítulos equilibrados e brutais. É entretenimento na sua forma mais pura possível, é Mad Max.
Furiosa: Uma Saga Mad Max estreia em 23 de maio nos cinemas brasileiros. O filme atualmente arranca elogios da crítica internacional com 87% de aprovação no Rotten Tomatoes.