*Este review foi realizado com uma cópia do jogo disponibilizada pela Square Enix
Todo lançamento de um novo Final Fantasy da série principal é um verdadeiro evento. Quem diria que hoje, em 2023, estaríamos tendo a oportunidade de experienciar o décimo sexto título da saga após mais de 30 anos de história! A franquia já se consagrou como uma das mais longevas da indústria de games e coleciona fãs no mundo inteiro, popularizando o gênero dos JRPGs em um patamar sem precedentes. Dito isso, é de se esperar que cada título inédito gere grandes expectativas.
A décima quinta entrada da contagem principal não agradou a gregos e troianos, o que elevou ainda mais os ânimos para sua inevitável sequência. Nas mãos do genial Yoshi-P (simplesmente o homem que salvou Final Fantasy XIV de um fracasso iminente), a série está retornando para suas origens de fantasia medieval, mas agora com uma abordagem totalmente diferente, trazendo uma história baseada na literatura fantástica ocidental e elevando a palavra “ÉPICO” a outro patamar.
O destino será escrito em fogo
O grande foco de Final Fantasy XVI recai sobre um dos elementos mais clássicos da franquia, mas que nunca receberam tanto destaque no enredo (com exceção de Final Fantasy X): as summons. Aqui chamadas de Eikons, teremos a oportunidade de acompanhar uma história épica e brutal, onde todas as criaturas mais famosas da série farão aparições constantes, indo além de meros aliados no combate.
O reino da vez é Valisthea, uma terra nutrida pelos poderosos Cristais-Máter, que fornecem toda a magia necessária para a sobrevivência dos seus habitantes. Aqui seremos apresentados a um território fragmentado em seis países, todos travando uma guerra interminável pelo controle dos cristais. Ao mesmo tempo, todo aquele mundo vem sofrendo com a ação de uma misteriosa praga que mata tudo que toca, então parte daquela terra está morrendo, forçando os reinos a lutarem ainda mais pelo pouco que resta.
Nesse contexto temos os Dominantes, pessoas que nasceram com a dádiva de entidades sobrenaturais conhecidas como Eikons. Somente eles são capazes de usar o poder das summons, incorporando sua forma monstruosa e travando batalhas devastadoras. Aqui os reinos usam esses Dominantes como armas na guerra, muitas vezes os forçando a lutar ao seu lado para obter uma vantagem.
No meio de todo esse caos, somos apresentados ao protagonista Clive Rosfield, filho mais velho do Grão-Duque de Rosaria, um dos seis países de Valisthea. Desprezado pela mãe e criado como um soldado, Clive é irmão de um Dominante e vive uma série de eventos traumáticos na juventude (o que é mostrado durante as horas iniciais do jogo), o transformando em um adulto amargurado e sedento por vingança. O problema é que ele mal sabe o que lhe espera, porque se tem uma coisa que esse jogo acerta em cheio, é nos plot-twists.
Um mundo violento
Nessa breve explicação sobre a história, você pode ter notado uma ou outra semelhança com As Crônicas de Gelo e Fogo, saga de livros que originou a série de TV Game of Thrones. De fato, essa foi uma das grandes inspirações do jogo e isso fica muito claro em diversos momentos – não só devido à temática medieval com guerras e magia, mas também pela escolha criativa da equipe de desenvolvimento, que preferiu trazer cenas mais violentas e com uma pitadinha de safadeza em certos momentos.
Final Fantasy XVI não deixa de ser um JRPG, então quem não curte assistir muitas cenas ainda terá de lidar com isso. É uma história muito densa, cheia de personagens e reviravoltas, então é natural que tenha cutscenes em excesso. A boa notícia é que os devs também se preocuparam em se certificar que o jogador esteja entendendo tudo do enredo (o que não é tão simples, acredite), criando um sistema especificamente para isso.
A qualquer momento, você pode segurar o touchpad do Dualsense para acessar uma enciclopédia que fornece informações relevantes para aquele momento da história. Isso pode ser feito tanto durante o gameplay quanto no meio de cutscenes e ali você consegue ler um breve resumo sobre todos os personagens envolvidos na cena, os reinos que representam e até mesmo sobre os inimigos presentes naquele território. É muita coisa para assimilar ao mesmo tempo, então esse recurso foi uma mão na roda – e admito que um desse no primeiro Final Fantasy Tactics faria bastante diferença.
Eu sou do time que assiste todas as cenas e acompanha a história com afinco, então recomendo fortemente que façam o mesmo neste jogo. A princípio as coisas podem parecer confusas, sem sentido, apressadas ou até mesmo clichê, mas conforme o enredo se desenrola, somos apresentados a uma verdadeira obra-prima que só melhora com o tempo. O elenco de personagens é excelente e todos são muito bem desenvolvidos; isso somado ao fator “Game of Thrones”, de que ninguém está seguro e todos podem morrer a qualquer momento, torna as coisas muito mais interessantes.
Clive May Cry
Já se tratando do gameplay, Final Fantasy XVI abandona o mundo aberto visto no XV e adota uma campanha linear com mapas semi-abertos. Isso significa que você pode explorar diversos lugares que, em sua maioria, não dão tanta liberdade para exploração, mas ainda existem espaços um pouco maiores para isso. No geral, não me senti muito estimulado a ficar perambulando neste jogo, pois as recompensas são mínimas (apenas alguns baús e itens aleatórios).
O combate segue a premissa de batalhas em tempo real que já tínhamos em Final Fantasy XV e Final Fantasy VII Remake, só que agora de uma forma bem mais frenética e intensa. Muitos podem notar uma grande semelhança com Devil May Cry – isso porque o designer do combate deste jogo é o mesmo que trabalhou nas últimas aventuras de Dante e cia. Sendo assim, podemos dizer que temos aqui um excelente hack and slash com elementos de RPG, o que eu particularmente não achei ruim.
A princípio o sistema de combate parece muito simplório, consistindo apenas naquele esmaga-botão de sempre e com pouco espaço para combos. Contudo, conforme vamos desbloqueando novos Eikons e habilidades para Clive, é possível diversificar muito nas batalhas, assumindo um dinamismo completamente diferente. Não achei o jogo difícil, mas quem não curte muito essa parte de apelar nas lutas pode simplesmente equipar alguns acessórios que o jogo disponibiliza para automatizar certos elementos do gameplay. O legal é que você pode equipar somente os que desejar, então é possível se livrar daquilo que você menos gosta, deixando o game mais prazeroso de jogar.
Contudo, os verdadeiros holofotes recaem sobre as batalhas com Eikons, que são as estrelas deste jogo, afinal. Em diversos momentos teremos a oportunidade de experimentar batalhas épicas, daquelas que fazem a gente se sentir pequenininhos. O jogo consegue transmitir uma sensação que poucos conseguiram, algo muito semelhante ao que senti quando joguei Shadow of the Colossus pela primeira vez.
O único problema desses momentos é que achei as batalhas muito automáticas. Em diversos casos, elas são praticamente uma cutscene com Quick Time Events. Em algumas podemos jogar mais, mas no geral todas transmitem essa sensação de que não temos quase nenhum controle do Eikon.
Belo e brutal
Já se tratando de aspectos técnicos, acho que até dispensa comentários. Final Fantasy sempre foi referência em gráficos e aqui não está diferente: o jogo está belíssimo! O fato dos mapas serem muito lineares permitiu que os devs caprichassem ainda mais nos detalhes, então pode se preparar para ficar boquiaberto o tempo inteiro. Apesar de muitos não terem se agradado com o desempenho do jogo na demo, nesta versão final não tive problemas com o Modo Performance e joguei com um framerate bastante satisfatório (mas sim, ainda ocorrem eventuais quedas).
Por último e não menos importante, não poderia deixar de elogiar a trilha musical, que está tão incrível quanto sempre foi em cada entrada da série principal. Todas as músicas são encantadoras, carregadas de personalidade e muito sentimentais. Essa é daquelas que a gente coloca para escutar até quando não está jogando e eu não esperava menos, pois até nos títulos mais fracos da franquia, as músicas nunca deixaram a desejar (mesmo após a saída do lendário Nobuo Uematsu da Square Enix).
Final Fantasy XVI é uma verdadeira obra-prima e saiu muito melhor que a encomenda. É um jogo profundo, envolvente e épico até não poder mais. Em um ano com lançamentos tão marcantes, ele consegue o feito de ser um dos nomes mais relevantes deste período que já entrou para a história dos games. Se vai ser Jogo do Ano? Apenas o tempo dirá, mas potencial ele tem de sobra.