*Este review foi realizado com uma cópia do jogo disponibilizada pela Square Enix
Quatro anos se passaram desde o lançamento da primeira parte de Final Fantasy VII Remake, criando incontáveis especulações, teorias e, acima de tudo, expectativas entre os fãs. A conclusão da porção inicial do game trouxe diversas surpresas que certamente mexeram com o coração da galera – afinal, nas palavras dos próprios desenvolvedores, tudo pode acontecer nesta sequência!
Final Fantasy VII Rebirth dá continuidade a este épico de uma forma bem mais ousada e ambiciosa. A sequência toma forma a partir da segunda metade do disco 1, quando finalmente saímos de Midgar e entramos no mundo aberto. Quem jogou o original sabe que a Square Enix teve o difícil trabalho de adaptar uma porção gigantesca do game, além de transformar tudo em um jogo mais moderno. Será que Rebirth conseguirá atingir as expectativas desse público tão exigente?
Em busca da Terra Prometida
É um pouco difícil falar de Final Fantasy VII Rebirth sem dar spoilers do primeiro jogo ou até mesmo do original, lançado originalmente em 1997 para o PS1. Contudo, nesta análise vou me esforçar ao máximo para não estragar a surpresa de ninguém – afinal, assim como FFVII Remake conseguiu surpreender de muitas formas, Rebirth também não fica atrás nesse quesito.
Como já mencionado, o jogo começa ao sairmos de Midgar, pela primeira vez dando acesso ao mundo aberto. Ainda falando da história, os fãs mais saudosistas poderão vivenciar um trabalho fiel ao original, seguindo toda a sequência de acontecimentos e lugares que visitamos no primeiro disco: a cidade de Kalm, a base militar de Junon, o resort de Costa del Sol, o parque de diversões Golden Saucer, o vilarejo de Cosmo Canyon e muito mais.
É simplesmente incrível poder revisitar cada um desses lugares, todos totalmente reimaginados e criados do zero de uma forma ainda mais inesquecível. Os mapas abertos nos permitem ter mais contato com a natureza, algo que não acontecia no primeiro jogo, sendo uma mudança de ares bem radical em relação ao Remake. Além disso, todo o desenrolar da trama está bem mais coerente do que no original, que continha vários furos e, por vezes, deixava os jogadores completamente perdidos.
A história de Final Fantasy VII Rebirth é um verdadeiro deleite, assim como foi com seu antecessor de 2020. A Square Enix deu um foco muito grande no desenvolvimento dos personagens, enriquecendo ainda mais a personalidade de cada um e a forma como se relacionam entre si. Existe até um sistema inédito de “relacionamentos” no jogo, algo que já existia no original, mas de uma maneira muito discreta.
Agora, todo diálogo e missão secundária evolui o relacionamento de Cloud com seus companheiros de equipe. Ajudar os outros levantará a moral do time e fará com que os demais personagens gostem mais do protagonista. Perto do fim do jogo, teremos a oportunidade de ter um momento mais íntimo com alguém da nossa escolha, o que acaba servindo como recompensa pelo esforço de agradar todo mundo.
Teremos a oportunidade de reencontrar a ninja Yuffie (que retorna da expansão INTERmission) e outros rostos clássicos que estão fazendo sua estreia no remake, como Cait Sith, Cid Highwind e Vincent Valentine. Consequentemente, há mais personagens para controlar do que no primeiro, cada um com seu próprio estilo de combate e habilidades. Vale ressaltar que, considerando o INTERmission, apenas Red XIII, Cait Sith e Sephiroth (somente durante o prólogo, que traz o mesmo conteúdo da demo) são as novidades jogáveis da vez.
Um fã de longa data com certeza vai amar cada segundo passado com esses personagens, principalmente devido à nostalgia proporcionada pela campanha. O jogo está imenso e quem não tiver pressa para avançar nos capítulos pode levar mais de 70 horas para terminar a história, já considerando o tempo levado para limpar os mapas abertos. Contudo, pode ir preparando seu coração para a sequência final, pois para o bem ou para o mal, todos serão muito surpreendidos.
Um mundo novo para explorar
O mundo aberto do Final Fantasy VII original era um mapa imenso e vazio, com apenas alguns pontos de interesse e batalhas aleatórias. Nesta adaptação, a Square Enix decidiu por seguir o esquema de sandbox, balanceando o desenrolar da história entre capítulos lineares e capítulos que nos dão mais liberdade de exploração.
Ao todo, existem seis mapas abertos para explorar, todos com um tamanho razoavelmente grande e oferecendo as mesmas atividades secundárias. Isso envolve a receita de bolo básica de todo jogo open world como encontrar torres, enfrentar inimigos, interagir com pontos de interesse etc. No começo, é sempre muito divertido fazer tudo isso, mas em um certo ponto, inevitavelmente ficará enjoativo. A boa notícia é que são atividades opcionais, então faz quem quer e somente quando quiser.
Outro ponto legal é que, a partir do momento que temos exploração, também temos chocobos! As clássicas montarias da franquia retornam em Rebirth, com cada mapa possuindo uma versão diferente da ave. Em toda área descoberta, encontramos um chocobo de cor variada que possui uma habilidade única, como escalar paredes, pular em cogumelos ou até mesmo planar. Isso ajuda a quebrar um pouco a rotina de exploração, por mais que as atividades secundárias permaneçam sendo sempre as mesmas.
Passando para a parte gráfica, já adianto que Final Fantasy VII Rebirth está longe de ser um jogo feio, mas o visual ainda consegue causar uma certa estranheza – como muitos já puderam perceber na demo. Preferi jogar no Modo Desempenho e o framerate está excelente, se mantendo alto o tempo inteiro e sem nenhuma queda brusca. Considerando a loucura que são os combates do jogo, isso é realmente um feito e tanto.
Contudo, se tratando do visual, existem alguns detalhes que incomodam. Quem for mais observador vai perceber que existem muitas texturas feias espalhadas pelo cenário, com algumas até transmitindo a sensação de estarem inacabadas. Outro ponto bem esquisito é a iluminação do jogo, que sofre uma transição brusca de espaços abertos para fechados e vice-versa. Ao entrar em alguma casa ou caverna, por exemplo, o cenário fica totalmente escuro e simplesmente ressurge do nada – e isso acontece com qualquer transição de ambiente.
Não chega a ser defeitos que atrapalham a experiência e, após algumas horas de jogo, você nem sequer vai prestar mais atenção nessas coisas. Para mim, o destaque positivo fica nos mapas abertos, que mesmo com um aspecto meio “borrado”, conseguem ser lindos! A natureza de Final Fantasy VII Rebirth está incrível, principalmente a água, que é impressionante em todos os mapas.
Minigames para dar e vender
A rotina de Final Fantasy VII Rebirth é muito bem definida: quando não estamos explorando ou limpando o mapa, estaremos batalhando ou jogando algum minigame. O excesso de minigames neste jogo é absurdo, o que certamente ajuda a quebrar um pouco a repetição da campanha. Tem joguinhos para todos os gostos – alguns legais, outros nem tanto; se é algo positivo ou negativo, vai depender da paciência de quem está jogando.
Antes de aprofundar nisso, vale citar que o combate permanece basicamente o mesmo visto no Remake. A maior novidade está na adição dos ataques combinados, permitindo que os personagens unam forças para realizar movimentos especiais. Tudo isso deve ser previamente desbloqueado em uma árvore de skills que lembra muito a Sphere Grid de Final Fantasy X: cada membro da party tem uma e devemos comprar novas habilidades com pontos recebidos ao upar e ao adquirir certos itens.
Já se tratando de minigames, a variedade é realmente muito alta, podendo até ser comparada com um Like a Dragon da vida. Muitos deles são opcionais e estão relacionados a sidequests específicas, mas em alguns momentos será obrigatório jogá-los para avançar na história. Pode esperar de tudo: desde um jogo inédito de cartas (que tenta desesperadamente se tornar um novo Gwent) até um Rocket League de animais. Eu particularmente gostei de jogar a maioria, mas não é algo que dê vontade de experimentar novamente.
Apesar do original também ser cheio de minigames, aqui eles decidiram espalhar vários ao longo de toda a campanha e não somente em trechos específicos, como acontecia no Golden Saucer antigamente. A maioria deles é simples e fácil de entender, mas quem gosta de platinar vai sofrer neste jogo, já que um dos principais objetivos secundários é conseguir a maior pontuação em cada um deles. A campanha em si já é longa, mas quem quiser fazer tudo terá uma jornada imensa pela frente – e estamos falando apenas da segunda metade do disco 1!
Por fim, não podemos deixar de exaltar a trilha musical do jogo, que nunca faz feio em nenhum Final Fantasy. Minha única crítica aqui é que a maioria das faixas não é original, consistindo apenas em remixes ou rearranjos das músicas presentes na primeira parte e no INTERmission, além do título de 1997. É óbvio que continua incrível e com muita qualidade, mas senti falta de ser mais surpreendido, musicalmente falando.
Veredito
É muito difícil dar uma nota para um título tão cheio de expectativas como Final Fantasy VII Rebirth, principalmente considerando o caminho perigoso que os devs estão trilhando. O jogo é excelente na maioria dos seus aspectos e funciona como uma sequência de muita qualidade ao game de 2020, trazendo muitas novidades e agregando bastante conteúdo.
Contudo, ainda existe a questão da conclusão desta segunda parte, que definitivamente não é algo que nós, como fãs, conseguimos prever. O terceiro e último pedaço deste remake promete ainda mais e todos que jogarem vão sentir o baque de ter que esperar por mais quatro ou cinco anos, até finalmente poder experienciar o final desta trilogia.
Aproveitem cada segundo de Rebirth e, por tudo que é mais sagrado, evitem spoilers! A verdadeira beleza deste jogo está na forma como ele consegue nos surpreender e deixar o futuro à deriva da nossa imaginação.