Mary Queen of Scots, ou melhor, “abrasileirando”, Duas Rainhas é um filme intenso, longo – 2h04 –, forte e complexo. Estreante nas telonas, a diretora Josie Rourke é reconhecida pela direção artística do teatro Donmar Warehouse, em Londres. Fato este que foi o ponto forte do filme, mas que também influenciou em péssimas decisões para retratação do assunto. Como assim? Vou explicar!
Mary (Saoirse Ronan) se tornou rainha da Escócia ao nascer. Quando criança, foi prometida a Francis, filho mais velho do rei Henrique II. Por esse motivo, foi levada ainda nova para a França, entretanto, após a morte de Francis, Mary retorna a Escócia com intuito de derrubar a sua prima Elizabeth I (Margot Robbie), rainha da Inglaterra.
O longa começa seguindo um caminho: apresentando ambas rainhas e destacando seus governos com questões políticas, religiosas e ideológicas. Ao passar do tempo, o enredo se perde e percorre uma direção oposta do que foi apresentado inicialmente. A partir desse ponto, Mary possui destaque absoluto, não dando espaço para personagens secundários e nem mesmo para a sua prima Elizabeth I, cuja participação é fundamental.
Sim, o filme é sobre Mary, tanto que o título original faz referência a ela, todavia, isso não deveria apagar a imagem de Elizabeth, visto que a sua presença é decisiva para a construção da história. O erro da narrativa e do roteiro se tornam evidentes pela ausência de equilíbrio entre cenas que deveriam intercalar, mas que não apresentam a profundidade necessária para envolver o público. E esse não é o pecado de Rourke, apesar do problema ser gritante.
A diretora, talvez acostumada com o mundo teatral, traz para o cinema a ideia de que tudo deve ser dito ao invés de mostrado. Esse ponto pesa Duas Rainhas porque o filme possui força o bastante para ser impactante, afinal, a história é intensa e real. A presença das palavras não se faz necessária em várias cenas: às vezes, tudo que o público precisa, é presenciar o desenrolar da trama. Rourke prefere falar que o personagem vai fazer a + b para resultar em c e isto se torna cansativo já na metade do longa.
Ainda que a atuação das atrizes seja impecável (de fato é), não podemos nos segurar em cima disso. Há necessidade do envolvimento das palavras, entretanto, muitas vezes presenciamos diálogos sem emoção e meramente superficiais. O ponto central do que quero dizer é: se a diretora utilizou as palavras para apresentar cada ideia, as conversas deveriam ser exploradas melhor.
Ainda assim, Duas Rainhas merece atenção e deve ser visto pela crítica machista da época e também pela retratação do emponderamento feminino. É um filme feminista? Não. É um filme que traz a força das mulheres e que retrata a presença do homem querendo silenciar as pessoas mais influentes dos países, isto é, as rainhas.
Enxergamos claramente esse ponto no momento em que Elizabeth devaneia seu desejo de se tornar um homem, visto que a imagem masculina possuía mais valor quando o assunto era liderança.
A rivalidade das rainhas é grande, mas, ao mesmo tempo em que há discórdia, também há o entendimento entre elas. Afinal, Mary e Elizabeth sabiam o que era estar em um século onde os homens se achavam no direito de desafiá-las ainda que todo o poder estivesse concentrado nas mãos das mulheres.
Para finalizar, não podemos deixar de retratar quão impecável estão os figurinos, a maquiagem, o cabelo e as paisagens. É uma volta ao tempo que vale a pena ser feita através da história de amor, de drama e de política que é Duas Rainhas.