*Este review foi realizado com uma copia do jogo enviada pela Playstation Brasil.
Quem teve o prazer de jogar pelo menos um dos games Little Big Planet faz alguma idéia do quão especial é a experiência que a desenvolvedora britânica Media Molecule é capaz de entregar.
Nunca foi uma questão apenas dos gráficos e direção de arte, ou da história, jogabilidade, da música, mas de uma maneira bastante única de combinar e entrelaçar tudo isso com naturalidade.
E de repente, você tem um sorriso no rosto e um calorzinho no coração.
E em oito anos desenvolvendo DREAMS – o novo exclusivo para PlayStation 4 – o estúdio se propôs a realizar algo extremamente ambicioso e singular. E realmente, isso aqui não é parecido com nada que eu já tenha jogado antes, mas tem um “quê” de absolutamente tudo que já joguei na vida.
Nos avisos das suas telas iniciais, o próprio game se descreve como uma “rede social de criatividade”, o que não começa nem a arranhar a superfície do que Dreams entrega.
Dreams não é tanto um jogo quanto é uma compilação de criações que moram dentro de uma plataforma de ferramentas pra que aspirantes a desenvolvedores de games e artistas libertem suas criatividades produzindo jogos, animações, músicas, pinturas, esculturas e o que mais desejarem.
Acima de tudo, Dreams é uma comunidade na qual as pessoas podem colaborar compartilhando conteúdo que criaram para que outras também usem em seus projetos.
Soaria como a coisa mais hippie-pulseirinha-de-miçanga-na-praia do mundo dos consoles, não fosse a maturidade e competência da Media Molecule para concretizar esse conceito num produto tão bem elaborado.
Evidência maior disso é “Art’s Dream”, uma breve e maravilhosa história criada como showcase pela própria Media Molecule, inteiramente com as mesmas ferramentas disponíveis no jogo para que você crie seus projetos,
E é aqui que você começa a desmontar sua imagem de que Dreams é um título infantil.
Além de demonstrar o potencial de criação da plataforma, Art’s Dream é um conto emocional e profundo, contado por colagens das memórias de um músico de Jazz, transitando por diversos estilos de arte, iluminação, por mecânicas de point-and-click, plataforma e quebra-cabeças coloridos que levam o personagem ao longo de uma narrativa bastante forte a respeito de lembranças da nossa infância e um subtexto da luta contra depressão. Denso e muito envolvente!
Art’s Dream está disponível dentre uma seleção de “Sonhos”. É nesse modo de jogo que você pode navegar, explorar e escolher dentre milhares de criações enviadas por membros da comunidade, desenvolvedores mais ou menos experientes, conteúdo pré-curado, melhor avaliado, mais jogado, etc. para viver experiências novas e descobrir até onde as pessoas conseguiram chegar com as ferramentas e a própria criatividade.
É como um YouTube de jogos em que você tem vontade de clicar e, magicamente, quase sem tempo de loading algum, está jogando. Alguns, inclusive, FPSs com modo multiplayer!
Mas o coração pulsante de Dreams – e a parte mais embasbacante para mim, pessoalmente – é o modo de criação. É aqui que o jogo busca realizar a até então insuperável tarefa de quebrar as barreiras entre criador e público, de descomplicar o quão experimental é o processo criativo.
É surpreendente como é fácil criar algo em Dreams, o que é mérito dos tutoriais gamificados (e totalmente dublados em português) que tornam o processo todo uma brincadeira gratificante.
A quantidade de tutoriais é gigantesca e você pode não se dar muito bem com os controles no começo, mas o processo é bem direto-e-reto desde fazer sua primeira rampinha cor-de-rosa do tutorial até terminar sua primeira criação completamente animada, com personagens e tudo mais que você sonhar.
E se você for até http://indreams.me dá pra ter uma amostra do que a comunidade têm criado dentro do jogo. Não é possível jogar nenhum dos jogos fora do console, é claro, mas vale a pena visitar porque dá pra ter uma boa ideia das pinturas digitais, esculturas e músicas que o pessoal cria e compartilha.
O jogo é compatível com controles PlayStation Move e com PlayStation VR como um todo também, e imagino que essa deva ser a experiência definitiva para o jogo. Pintar, esculpir e criar mundos em realidade virtual é algo que eu nunca tinha almejado antes de Dreams e que nem consigo conceber o que pode vir a se tornar numa próxima geração de consoles. Me segura.
Dreams oferece a mais pura e destilada essência que movia Little Big Planet – e trazia aquele sorriso no rosto e calor no coração – mas no formato de uma plataforma de expressão criativa coletiva que é aparentemente ilimitada, tão polida, profunda e tão tecnicamente expansiva que review nenhum, em texto ou vídeo (nem esse aqui) vai conseguir te ajudar a entender exatamente o que Dreams de fato é, muito menos o que ele significa.
Cabe a você tentar decifrar.
E vai ser uma experiência diferente pra cada um, a cada vez que ligar o jogo.
Porque Dreams está vivo, crescendo e amadurecendo junto com todos nós.
E nem dá pra sonhar no que vamos conseguir sonhar juntos em Dreams daqui pra frente.