Death Stranding foi indiscutivelmente um dos jogos mais únicos da geração passada. O primeiro projeto de Hideo Kojima após seu turbulento divórcio com a Konami transpira as principais características do lendário game designer em cada pixel, mas também não é um jogo para todo mundo. Trazendo um grande misto de emoções para fãs e novatos, não dá para negar que ao menos ele conseguiu alcançar o que ele queria: um novo gênero foi criado.
Quando a versão Director’s Cut foi anunciada, eu só conseguia me perguntar o que diabos este homem estava inventando agora. O jogo original do PS4 já era estranho e confuso o bastante para qualquer um, então o que mais ele poderia acrescentar (além do upgrade baseado no hardware, é claro) para justificar um port de PS5?
Mas o que diabos é Death Stranding?
Se você viveu embaixo de uma pedra nos últimos cinco anos e ainda não sabe do que se trata este jogo, vamos para uma breve contextualização. Primeiramente, é importante entender que qualquer tentativa de explicar Death Stranding é uma baita furada, já que o jogo é 100% conceitual e proporciona experiências completamente opostas para cada um. Resumindo: só jogando dá para captar a essência desse conjunto de maluquices.
Com um elenco totalmente hollywoodiano e uma história digna de Hideo Kojima, Death Stranding nos coloca na pele do entregador Sam Porter Bridges, vivido (somente em aparência) pelo ator Norman Reedus. Sam vive em um mundo pós-apocalíptico que foi assolado por um evento chamado Death Stranding, mas que só descobrimos o que é conforme avançamos – e muito – na campanha. Em suma, tudo está desértico e as pessoas vivem isoladas em cidades; os entregadores são os únicos que arriscam o pescoço do lado de fora para entregar provisões e outras coisas de uma cidade a outra.
Tudo de estranho que você possa imaginar acontece neste mundo. Uma reação ambiental chamada chuva quiral acelera o tempo e deixa qualquer pessoa que tocar velhinha em instantes. O mundo dos vivos e dos mortos sofreu um amálgama e as pessoas precisam viver escondidas de entidades paranormais que estão espalhadas por toda parte. Para completar, quem ousa se aventurar do lado de fora precisa carregar bebês presos dentro de cápsulas para detectar espíritos e evitá-los. Isso é só um pouco do monte de bizarrices que este jogo oferece.
As coisas não ficam mais normais no gameplay. Apelidado por muitos como um “simulador de caminhada”, Death Stranding faz jus a função de Sam: você é um entregador e deve entregar coisas. Tudo aqui pode ser resumido entre cruzar o mapa de um ponto a outro com um monte de caixas nas costas, enfrentando adversidades ambientais, EPs (como são chamadas as entidades) e ladrões de carga (que aqui são chamados de MULAS). Enquanto muitos podem se encantar com a vastidão deste mundo vazio, outros podem achar um saco, já que o ritmo é extremamente lento.
Ainda assim, não dá para negar que tudo é bem feitinho, assim como era de se esperar do nosso amigo Kojima. Mesmo que o jogo todo se resuma em ficar andando, o simples ato de andar já apresenta mecânicas complexas baseadas no equilíbrio do personagem, o peso que está carregando nas costas, o ambiente ao seu redor e tantas outras coisas. Dá para sentir na pele que o trabalho do nosso amigo Sam não é nem um pouquinho fácil. Já o combate não é nada demais, justamente porque não é o foco do jogo. Death Stranding nem sequer te encoraja a matar inimigos, pois isso pode causar consequências catastróficas dentro daquele mundo.
Quem espera algo mais voltado para Metal Gear pode quebrar a cara, já que o stealth aqui também não é o forte. Existem mecânicas furtivas, é claro, mas sem toda aquela complexidade e infinidade de opções que vimos na série Metal Gear – o que é justo, já que é outro jogo completamente diferente. Death Stranding pode proporcionar muitas sensações diferentes ao longo de sua jornada, mas infelizmente só aqueles que forem bastante pacientes conseguirão usufruir disso.
Um detalhe bem legal deste jogo é o seu multiplayer, que podemos dizer que é a maior novidade apresentada. O chamado “sistema stranded” traz interações entre diversos jogadores que estão se aventurando, mas sem eles sequer se encontrarem! O que acontece é uma cooperação indireta, onde um jogador pode construir uma escada em uma montanha, outro uma ponte em um rio e coisas do tipo. Tudo isso também aparece no jogo de outras pessoas e facilita o trajeto delas. Quando vários jogadores cooperam, é possível até mesmo construir estradas gigantescas. É realmente incrível e um jeito totalmente diferente de se fazer um modo cooperativo.
O que tem de novo?
Após esse resumo bem resumido do que é Death Stranding, vamos falar sobre as novidades apresentadas na Director’s Cut. Primeiramente, não dá para não elogiar os gráficos. Tudo já era impressionante no PS4, mas nessa remasterização eu me senti assistindo um filme (a presença de tantas estrelas de cinema ajudou bastante). Independente de jogar no modo performance (4K escalonado a 60fps) ou no modo fidelidade (4K nativo), você estará muito bem servido e poderá vivenciar uma verdadeira experiência cinematográfica em sua melhor forma.
Os recursos do Dualsense também foram devidamente explorados, apesar de estar longe de ser o jogo mais marcante se tratando deste aspecto. É possível sentir um feedback háptico de acordo com a superfície que Sam está pisando, assim como obter diferentes pressões no gatilho baseado no peso que está carregando, das circunstâncias do terreno (andar em rios, neve alta etc.) e outras coisinhas. No geral é legal, mas poderia ser melhor.
O mundo de Death Stranding já era grande, mas agora está um pouquinho maior. Director’s Cut conta com novas áreas, missões, inimigos, diálogos e um pouco de tudo que o jogo já tinha a oferecer. Agora tem até um mapa dedicado a corridas, o que eu achei simplesmente bizarro, mas tem! Quem já tiver terminado tudo no PS4 pode carregar seu save e experienciar o conteúdo novo logo de cara, mas quem começar do zero precisará jogar por bastante tempo até que comece a liberar as novidades gradualmente. Não tem como fugir disso, Death Stranding é um jogo que recompensa somente os determinados.
De uma forma geral, achei esse Director’s Cut bem semelhante ao de Ghost of Tsushima: o conteúdo novo é bem-vindo, mas não justifica o lançamento de uma nova versão. É mais um DLC do que algo totalmente novo, o que já vale o incentivo para quem tem no PS4 procurar adquirir o upgrade do PS5 de forma separada. Quem quer muito voltar a explorar esses ermos certamente vai curtir as novidades, mas ainda é pouca coisa que acaba não sendo tão relevante assim.
Ainda assim, não preciso nem dizer que essa é a forma definitiva de jogar Death Stranding e quem não jogou na geração passada tem todos os motivos para experimentar a Director’s Cut. Definitivamente é a obra mais “Hideo Kojima” que existe e todo mundo deveria se permitir dar uma olhadinha neste jogo deveras peculiar.