Podemos afirmar que os filmes do Deadpool foram os maiores acertos do “Universo Cinematográfico Marvel da Fox” – ainda que o segundo tenha sido bem fraco. Ryan Reynolds sempre entregou tudo de si para proporcionar a melhor (e única) versão do mercenário tagarela nos cinemas, então muito do sucesso se deve ao carisma desse cara. Contudo, desde que a Disney comprou a Fox, o futuro do personagem parecia um tanto incerto.
Felizmente, o show precisa continuar! A Disney não apenas surpreendeu a todos com o anúncio de um terceiro filme como também foi além, tirando Hugh Jackman da sua “aposentadoria de Wolverine”. Deadpool & Wolverine reúne a famosa dupla dos quadrinhos nas telonas, trazendo uma história no mínimo inusitada e tão escrachada quanto o restante da trilogia.
A primeira coisa que devemos pontuar a respeito deste filme é que ele não foi podado de nenhuma forma, mantendo o mesmo nível de depravação, gore e humor duvidoso dos demais. Ainda que não cause nenhum impacto direto no MCU, ele é constantemente misturado com o universo principal da Marvel nos cinemas – mantendo a lógica vista na Fase 4, envolvendo todo aquele lance de multiverso que todos nós já cansamos de assistir. Por isso, é melhor controlar suas expectativas, pois ainda parece improvável ver o mercenário tagarela ao lado dos nossos heróis prediletos.
Logo nos momentos iniciais do filme, vemos Wade sendo capturado pela Autoridade de Variância Temporal (a mesma organização interdimensional vista na série do Loki). O anti-herói é surpreendido ao descobrir que todo o seu universo será destruído após a morte do seu “protagonista” – ninguém menos que Logan, eventos que testemunhamos no filme de 2017. Para evitar que todos os seus entes queridos desapareçam, Deadpool parte em busca do seu próprio Wolverine através do multiverso.
Por incrível que pareça, essa proposta de múltiplas realidades funcionou muito melhor com o mercenário do que com qualquer outro filme do MCU. Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (2021) certamente tocou em um ponto sensível dos nossos corações, mas uma vez que a emoção passa, é muito fácil perceber como toda aquela história não tem pé nem cabeça. Se tratando de um filme do Deadpool, nada precisa fazer sentido, então tudo é permitido!
Sob a direção de Shawn Levy (que já tem um vasto histórico de trabalhos com Ryan Reynolds), a Disney soube aproveitar essa oportunidade para dar um pouquinho de significado para todo aquele excesso de cameos. Deadpool & Wolverine é basicamente uma grande homenagem a todos os filmes da Marvel produzidos pela Fox, tanto antes quanto depois do MCU. Ao invés de fingir que eles nunca existiram, eles decidiram criar um universo onde todos eles se encontram – e deu muito certo!
É fato que existe pouquíssima coisa do “MCU da Fox” que valha a pena ser lembrado, mas mesmo com filmes no mínimo problemáticos, é inegável que um ou outro ocupe um espacinho especial no nosso âmago. Não existe vergonha em assumir que você gosta de algum filme dos X-Men, assim como dos primeiros longas do Quarteto Fantástico. Cada um deles possui seu charme e, no final, foram eles que despertaram o nosso amor por filmes de super-heróis.
Assistir Deadpool & Wolverine é praticamente uma retrospectiva por toda essa era pré-MCU, regada a muito humor e piadinhas ácidas, no melhor estilo do personagem. Hugh Jackman também merece todos os louros possíveis, pois ele novamente nos lembrou do motivo de ser um ator praticamente insubstituível no papel do baixinho invocado. Seja lá quem for seu sucessor, não será uma tarefa fácil!
Sua narrativa não chega a ser chocante ou espetacular, mas novamente reforço: se tratando do Deadpool, nem precisa! Temos aqui duas horas de entretenimento de primeira, com risadas garantidas e muita nostalgia. Você não sairá do cinema explodindo de ansiedade por uma sequência ou sonhando em ver o mercenário tagarela ao lado dos Vingadores – mas certamente estará satisfeito o bastante pelo simples fato deste filme existir.
A dupla Reynolds e Jackman soube entregar a química perfeita entre os dois personagens, regada à agressividade e interações que sempre acabam em violência. O contraste entre um falastrão metido a engraçado e um carrancudo amargurado acaba sendo interessante o suficiente para render duas horas de filme sem ficar cansativo.
Novamente, voltamos ao status “o futuro do mercenário tagarela é incerto”, mas Deadpool & Wolverine acabou nos mostrando que, seja lá o que a Disney tenha planejado para ele, pode acabar dando mais certo do que a maioria dos seus filmes principais.