– Por Roberto Ambrosio – crítico convidado
Periferia de Miami. A câmera capta toda luz e toda a cor, gira incrivelmente, desfoca o fundo, aproxima os rostos e nos coloca muito próximos da história e dos personagens. E a história é boa, muito boa. Uma história sobre a vida de uma pessoa, da infância à idade adulta, muito bem filmada, bem contada, embalada por uma ótima trilha sonora.
Eu não conhecia o diretor Barry Jenkins, mas vou procurar assistir seu primeiro filme, Medicine for Melancholy. Moonlight é apenas seu segundo filme, e nele já realiza um feito dificílimo: ele evita toda possibilidade do filme se tornar um discurso de minorias. Ao contrário, sua direção dá à história ares de universalidade e de sensibilidade extrema para evitar estereótipos.
A jornada do protagonista Chiron da infância à idade adulta é retratada por três atores distintos:
Quando criança, Chiron (Alex Hibbert, comovente) sofre por ser pequeno, por ter uma mãe com problemas (Naomi Harris, excelente), na Miami dos anos 80, durante a explosão do crack. Apelidado de Little, também sofre por ter um jeito diferente de andar, por ser soft, por ser calado. Por acaso conhece Juan (Mahershala Ali), traficante que, de forma tocante e por pouco tempo, ocupa o papel da figura paterna, mesmo imperfeita.
Chiron adolescente (vivido por Ashton Sanders, incrível atuação, de uma expressão intensa e contida) sofre ainda mais violentamente com o bullying e com as dúvidas quanto à sua sexualidade, ao mesmo tempo que convive com o aprofundamento dos problemas de sua mãe. A explosão é inevitável.
A idade adulta vem com o uma transformação e um novo apelido: Black (Trevante Rhodes), mas as dúvidas e a inquietação continuam. Não há saída nem futuro. Não há catarse final, apenas a vida que continua.
Moonlight poderia ser um filme de gueto, de minorias, mas não é. É sobre masculinidade. É sobretudo a história de uma jornada em busca de autoconhecimento, em busca de respostas que todos devemos dar – independentemente da cor da pele e de gênero – às perguntas que a vida nos faz: quem somos, o que queremos, o que faremos?
Dirigido e escrito por Barry Jenkins, “Moonlight – Sob a Luz do Luar” (EUA, 2016), vencedor do Globo de Ouro 2017 como Melhor Drama, estreia nos cinemas brasileiros em 23 de fevereiro de 2017. O filme conta a história de um jovem que luta para encontrar seu lugar no mundo em uma áspera vizinhança de Miami, Estados Unidos.
O longa-metragem conquistou indicações para o Oscar 2017 nas categorias de Melhor Filme, Melhor Atriz Coadjuvante (Naomie Harris), Melhor Ator Coadjuvante (Mahershala Ali), Fotografia, Direção, Edição, Trilha Sonora e Roteiro Adaptado.