É inegável que uma nova era para as produções épicas chegou, e Duna: Parte 2 pode ser o pontapé inicial e necessário da jornada transcendental dessa categoria nos cinemas.
A franquia de Duna já é uma conquista cinematográfica excepcional na narrativa do diretor Denis Villeneuve, com uma trilha sonora completamente memorável de Hans Zimmer e performances convincentes de astros jovens como Timothée Chalamet, Zendaya, Austin Butler e Florence Pugh.
Apesar de espetacular, Duna: Parte 2 não é uma adaptação perfeita e contém falhas graves em seu ritmo. Contudo, esse é o ponto de grandeza da franquia que consegue resolver as suas dificuldades com delicadeza e se destaca quando se recusa a ceder à epopeia fácil.
Afinal, adaptar uma obra de Frank Herbert é de longe uma tarefa dificílima e Duna (primeiro livro do autor) pode ser uma das mais complicadas. É notório que o roteiro de Villeneuve e Jon Spaiths se esforça para transferir o máximo dos temas e subtramas para a tela. Por isso Villeneuve é feliz ao trazer uma narrativa de fácil compreensão com o intuito de abraçar o público e não repelir com um filme enfadonho e cansativo.
Porém, nem mesmo um cineasta experiente pode escapar dessa difícil missão. O filme funciona até certo ponto e consegue ser tão maravilhoso como tão entediante na mesma medida. É evidente que a história precisasse de duas partes – queria que fossem três – para uma conclusão decente, mas nem duas horas e 45 minutos consegue resolver isso com maestria. O filme é extenso, às vezes é monótono e estéril nos momentos mais inoportunos.
Com a primeira parte focada nos conflitos políticos e na introdução de um universo complexo, Duna: Parte 2 se concentra na parte mística, sendo menos sutil em suas escolhas e mais agressivo sobre a intenção do filme, deixando muito pouco espaço para ambiguidades.
Um ponto interessante que foi apresentado no primeiro Duna (2021) e permanece neste segundo ato é a imersão poética e quase religiosa. Ao invés sermos levados apenas para um parque de diversão explosivo, o espectador contempla uma obra solene, encantadora e ameaçadora.
A fotografia de Greig Fraser e a trilha sonora de Hans Zimmer são cheias de majestade. Um complementa o outro em uma dança ritmada e coerente. Por isso recomenda-se que seja assistido em uma boa sala de cinema, de preferência em IMAX, talvez assim o filme entre na sua mente e em seu coração.
As atuações são um show à parte. Como já citado, os jovens atores que brilham na parte dois entregam performances poderosas, com uma menção particular para Austin Butler que rouba a cena com um vilão tanto sedutor como estimulante para o terror. Timothée Chalamet é o herói, e apenas isso. Zendaya tem mais tempo em tela do que o primeiro filme e também consegue transmitir uma atuação satisfatória. Florence Pugh está excelente, mas deve brilhar ainda mais nos próximos capítulos, isso se tiver.
Mas embora tudo isso pareça impressionante, não há recompensa emocional realmente interessante em relação aos personagens. Villeneuve move rapidamente os eventos para se concentrar em todas as subtramas adicionais. Considerando que há tanta história para ser contada, isso não é chocante.
Duna: Parte 2 é uma conclusão épica com efeitos visuais soberbos e repleto de performances fortes de todo o elenco. Denis Villeneuve é corajoso e ambicioso, e isso reflete num drama de ficção científica sinuoso e monocromático por quase todas as suas três horas. Não atoa ele está (mais uma vez) tão interessado em profetizar o próximo filme quanto em consolidar o atual.
O mundo está diante de uma obra cinematográfica monumental, deslumbrante. Duna: Parte 2 é visualmente dinâmica, transborda de momentos marcantes e sequências de brilho auditivo. Pode ter um final morno, insatisfatório, mas convida o público a voltar para Arrakis muito em breve.
O filme tem ganhado o público e a crítica especializada e já soma 94% de aprovação no Rotten Tomatoes. No IMDb a nota já chega a 9,0.