“Ligeiramente baseado na história real”. Já no trailer de A Morte de Stalin, o diretor Armando Iannucci promete não apresentar uma produção 100% fiel aos acontecimentos daquela época. Com inspiração na história em quadrinhos homônima escrita por Fabien Nury e Thierry Robin, a obra acompanha os momentos que sucedem o falecimento do ditador e a corrida que se inicia para sua sucessão na liderança da União Soviética.
Por se tratar de uma comédia dramática, o longa cumpre bem a missão de tirar algumas risadas (às vezes, gargalhadas) do público. Ajudando nessa tarefa, seu elenco conta com rostos já conhecidos do mundo cômico: Jeffrey Tambor, Steve Buscemi e Jason Isaacs, entre outros. Eles interpretam pessoas reais que faziam parte do círculo político e familiar próximo a Stalin no alto escalão soviético, como Georgy Malenkov, Nikita Khushchev, Lavrentiy Beria, Georgy Zhukov e seus filhos, Vasily e Svetlana – interpretados por Rupert Friend e Andrea Riseborough.
No geral, o equilíbrio entre os momentos de humor e tensão é certeiro. Apesar de possuir um tom muito mais leve do que o esperado para o tema, o longa não deixa de fora a representação do medo, das ameaças e das execuções que aconteciam na época. Podemos incluir aqui as listas de execução assinadas por Stalin, vindas de Beria, chefe da NKVD (serviço secreto soviético). Temos, também, os atritos que surgiram dentro do próprio escalão, com uma tensão crescente a ponto de o diálogo não ser mais uma opção viável.
Cada personagem tem papel muito claro na história e em seu desenrolar. Algo positivo e negativo ao mesmo tempo. A parte boa é que ajuda a entender quem são os que realmente têm chances de alcançar o cargo, onde que o conflito é real. A questão é que outros acabam caindo demais para o lado cômico, se tornando caricato em excesso. Porém isso não tira o a validade do equilíbrio já comentado. Além disso, é válido ressaltar a ideia apresentada de que seu sucessor não seria tão obviamente definido e um cargo não necessariamente garante o poder e a influência de alguém.
Por fim, não pense que o filme é feito apenas para os que estão totalmente por dentro do que aconteceu na época. Apesar de conter as já citadas referências a episódios reais (e outras que creio valer a pena deixar como mistério), a obra tem um arco bem construindo em sua narrativa geral – o conflito é claramente exposto desde o início e acompanhamos muito bem sua resolução. Vale a pena assistir e se entreter, mas lembrando: ligeiramente baseado na história real!