Creed 3 conseguiu algo que seu personagem principal tentou desde primeiro filme, sair da sombra do legado de Rocky Balboa e Apollo, e se firmar com uma personalidade própria. Aqui não vemos mais o melodrama envolvendo questões entre pai e filho, seja na relação de Adonis (Michael B. Jordan) com a imagem do pai campeão, Apollo Creed (Carl Weathers), seja no envolvimento emocional com outra figura paterna, o mentor e treinador Rocky Balboa (Sylvetster Satallone). Isso, sem falar no segundo filme da trilogia, onde adversário de Adonis é Viktor Drago (Florian Munteanu), um filho que também busca desesperadamente a aprovação do pai, Ivan Drago (Dolph Lundgren), maior inimigo de Balboa e responsável pela morte de Apollo.
Agora, o drama envolve apenas Adonis, já aposentado, curtindo a família e trabalhando como empresário de lutadores. Tudo ia muito bem até que ele é obrigado a lidar com um fantasma do passado, no retorno do amigo de juventude, Damian “Dame” Anderson (Jonathan Majors), uma promessa do boxe no início dos anos 2000, encarcerado durante 18 anos por causa de um crime envolvendo o jovem Creed, que escapou da prisão e realizou o sonho de Dame de ser campeão mundial.
Anderson se julga injustiçado, está ressentido por Adonis ter esquecido dele nos anos de prisão e fará qualquer coisa para ter a vida que julga ter sido “roubada” pelo amigo, mesmo que para isso precise jogar sujo. Diante de um oponente que não desistirá por nada, só resta a Adonis voltar aos ringues e resolver o problema na porrada. Sai a temática pai e filho e entra a rivalidade entre amigos/irmãos.
Novos rumos sem deixar o clássico de lado
Creed 3 segue a receita do bom filme de boxe, levada à categoria de arte pelos dois primeiros filmes de Rocky Balboa, com pitadas de drama familiar, derrota, superação e a glória da volta por cima, sem deixar de lados as clássicas cenas de treinamento, naquela “vibe” motivacional de sempre.
Mas Michael B. Jordan, estreando aqui também como diretor, surpreende e mostra competência transformando o roteiro batido em um filme com um leve toque sombrio, ótima direção de atores e cenas de lutas absolutamente espetaculares, com certeza o ponto alto de Creed 3. Na primeira luta, já dá para perceber que Jordan fez bem o dever de casa, demonstrando apuro técnico e inovação, com direito a referências às lutas dos animes e mangás, dos quais o ator/diretor se diz um grande fã.
Essa nova direção que a franquia toma, inclusive, parece ter sido um dos pontos de discórdia que fizeram Stallone recusar participar desta terceira parte. Ele também teve sérios desentendimentos com ex-amigo, Irwin Winkler, produtor de todos os filmes Rocky e dos três Creed, por causa de direitos autorais.
Em recente entrevista, Stallone disse que não pretende assistir ao filme e que essa é uma situação lamentável. “Foi tomada uma direção que é bem diferente do que eu teria tomado. É uma filosofia diferente – a de Irwin Winkler e Michael B. Jordan. Desejo-lhes felicidades, mas sou muito sentimentalista. Eu gosto que meus heróis sejam espancados, mas eu simplesmente não quero que eles entrem nesse espectro sombrio. Sinto que as pessoas têm escuridão suficiente”, afirmou.
Elenco de primeira e uma boa história
Todo o elenco está ótimo em Creed 3, o foco no núcleo familiar permite desempenhos ótimos de Tessa Thompson (Bianca), Mila Davis-Kent (Amara) e Phylicia Rashad (Mary Anne), respectivamente, esposa, filha e mãe de Adonis. Jonathan Majors também entrega uma ótimo anti-herói, como o violento e sagaz Dame Anderson. Creed 3 foi escrito por Keenan Coogler (Pantera Negra) e Zach Baylin (King Richard), a partir de um argumento de Ryan Coogler (Pantera Negra), que também dirigiu o primeiro filme da série.
Assista no cinema, se possível. Uma tela grande e um bom sistema de som – música incidental e trilha sonora estão impecáveis-, tornarão a experiência ainda melhor. A estreia no Brasil acontece nesta quinta, dia 2 de março. Se você curte drama e boas cenas de luta, não perca!