“É Um Bom Dia Para Um Labirinto” (Meikyuu Biyori) é o lançamento mais recente da Editora Comix Zone, que acerta mais uma vez, após a publicação do excelente Crazy Food Truck, com uma obra agradável e repleta de reflexões em meio à maravilhosa arte do mangaká Akihito Yoshitomi.
O mangá one-shot de 208 páginas consegue misturar brilhantemente o estilo slice of life de história com muito humor e filosofia num universo que utiliza a ficção científica para construir o ambiente dessa narrativa. Como uma junção de Promised Neverland, escrito por Kaiu Shirai e ilustrado por Posuka Demizu, e Dead Dead Demon’s Dededede Destruction, do famoso Inio Asano, diversos temas sobre a vida numa pegada mais filosófica através de diálogos divertidos, simples e rápidos.
Hinata, claramente inspirada em Ouran Nakagawa, e Airi, com muito de Kadode Koyama, ambas da obra de Inio Asano, partem em aventuras mundanas ao lado de Mari e Kaho por uma cidade, talvez um bairro, que existe no subterrâneo entre muitas estruturas metálicas. O “labirinto” do título é basicamente a justificativa para estrutura desses locais, com máquinas e a ausência de adultos, abrindo um vácuo nas explicações sobre o que aconteceu com o mundo. Os próprios personagens questionam se os mais velhos realmente sabem de tudo, colocando nosso entendimento na perspectiva de crianças.
Rico em detalhes, principalmente pelo maravilhoso traço e estilo de Yoshitomi, É Um Bom Dia Para Um Labirinto é breve, porém termina deixando muitos questionamentos por conta das reflexões que ele carrega e se propõe em apresentar de maneira fácil, para deixar o leitor pensativo mesmo após o término do mangá. Poucas obras conseguem esse feito, de aliar a simplicidade, um conteúdo interessante e o embasamento filosófico por trás de cada diálogo, além de apresentar muitos elementos que podem ser revisitados numa futura continuidade.
Quase como uma grande metáfora para o Mito da Caverna, de Platão, viver no subterrâneo em meio às ruínas de um mundo e sem saber o motivo do por quê chove, o que as máquinas fazem ou o que existe além do mar, acaba sendo a motivação de crianças para explorar o espaço e a imaginação ao tentarem preencher suas vidas com atividades do dia a dia nesse misterioso universo pós-apocalíptico.
Mesmo que num primeiro momento pareça ser infantil demais, aos poucos você começar a perceber que existem camadas de entendimento, assim como o mangaká se propõe em criar uma cidade subterrânea e seu emaranhado de cabos, prédios e vidas. As páginas carregam a arte belíssima, com paisagens incríveis e repleta de detalhes que farão você ficar um bom tempo observando tudo ao redor.
A curiosidade sobre o que existe “lá fora” conflita com a inocência da juventude e cresce pela ausência da razão, fazendo com que “É Um Bom Dia Para Um Labirinto” seja divertido e muito interessante, numa leitura rápida e reflexiva.
O trabalho da Comix Zone com edição nacional mantém o mesmo nível dos demais lançamentos, com acabamento de luxo, capa cartão, sobrecapa, 208 páginas em papel pólen bold de alta gramatura e miolo com acabamento colado e costurado, para garantir o melhor manuseio das páginas. Uma pena apenas não termos a capa cartão com uma ilustração diferente da sobrecapa.