É sempre arriscado revisitar títulos antigos nos dias atuais, pois é uma oportunidade de ver tudo com outros olhos. Por outro lado, o lançamento de ports e remasters desses clássicos também é a melhor oportunidade que temos de experimentarmos esses títulos em sua melhor forma; nesse quesito, a Square Enix nunca deixou a desejar. Já tivemos a excelente trilogia Final Fantasy do PS1 (VII, VIII e IX) totalmente repaginada e agora é a vez de outro pilar do console dar as caras: Chrono Cross, a bizarra sequência de Chrono Trigger.
Você pode não ter jogado Chrono Trigger, mas provavelmente sabe que ele é um dos jogos mais aclamados de todos os tempos, considerado por muitos o melhor game já feito. Diante disso, Chrono Cross já tinha uma tarefa muito ingrata pela frente, afinal como é possível se manter no nível ou até mesmo superar algo que já era perfeito? Lançado originalmente em 1999, é claro que o jogo dividiu opiniões, mas não falhou em conquistar o coração de muitos.
A saga do sonhador radical
Chrono Cross pode ser um jogo confuso de muitas formas, então é difícil falar sobre sua história sem esbarrar em qualquer tipo de spoiler. Basicamente, nosso protagonista é um jovem chamado Serge, que um dia acorda misteriosamente sem se lembrar de nada em um lugar onde todos parecem não conhecê-lo. Com a ajuda da ladra Kid, ele parte em uma aventura em busca de suas memórias e de respostas. Essa é a sinopse mais tosca e segura que posso entregar, já que qualquer detalhezinho extra pode acabar prejudicando os incontáveis plot-twists do enredo.
Como era de costume na época, a história aqui não é nada convencional e hora se arrasta, hora entrega muita coisa de uma vez só. A princípio o jogo não parece ter nada a ver com Chrono Trigger, mas conforme se avança, é possível ir percebendo como ambos se conectam. São detalhes legais para quem jogou o primeiro, mas na minha opinião, acabam sendo obras completamente únicas que proporcionam experiências bem diferentes, então é irrelevante o fato de ser uma sequência ou não.
Um dos grandes diferenciais do jogo é sua quantidade absurda de personagens disponíveis para se juntar a party – são mais de 50! É claro que dá para contar nos dedos os que são realmente relevantes para a história, mas cada um deles é único e garante vantagens diferentes nos combates. Outro detalhe legal é que não é possível conseguir todos em uma única jogada, pois eles estão atrelados às diversas escolhas que faremos ao longo da campanha. Para os padrões de hoje isso pode não ser nada demais, mas para a época, onde todos o JRPGs eram totalmente lineares, essa era uma baita qualidade.
O combate também é bem diferentão. Ele funciona com uma espécie de sistema de combos, onde os personagens podem realizar um ataque fraco, moderado ou forte. Cada um possui suas chances de acerto e, conforme o jogador vai usando ataques mais leves, ele aumenta suas chances de acertar um hit mais poderoso. O uso de magias também é diferente, onde você só pode usar uma vez por batalha e pode distribui-las dinamicamente para definir seu poder de dano. É interessante, mas não demora muito para ficar fácil demais.
O que tem de novo?
Chrono Cross: The Radical Dreamers Edition é um pacote semelhante aos de Final Fantasy que tivemos antes, então se você jogou algum deles, já sabe o que esperar. Ele recebeu uma repaginada gráfica, com modelos em 1080p e imagens remasterizadas, um cuidado que a Square Enix só teve com o remaster de Final Fantasy VIII. Já para quem é saudosista, ainda é possível jogar da forma original, do jeitinho que era no PS1.
A fidelidade com o antigo não para por aí e também se replica no que era ruim. Os jogos dessa época eram famosos por serem bem lentos e aqui não é diferente, mas a inconstância do framerate chega a incomodar. A princípio eu achei que fosse só por causa da emulação, que sempre mantém os prós e contras da obra original, mas é simplesmente bizarro ver um título de PS1 rodando de forma tão tosca em um PS5. Em compensação, os filtros de gameplay também se fazem presentes aqui, então você pode acelerar o jogo (o que resolve o problema da lentidão), bloquear batalhas aleatórias e até jogar com invencibilidade total.
A última novidade fica com a adição do jogo Radical Dreamers, que é o que dá nome a esta versão. Trata-se de um RPG de texto – isso mesmo, texto, bem à moda antiga – lançado exclusivamente para o Satellaview, um acessório do Super Nintendo lançado somente no Japão que permitia ao jogador experimentar alguns títulos pela internet (isso mesmo, dava para jogar em rede em meados de 1995). Nenhum jogo do Satellaview chegou ao ocidente e todos acabaram sendo perdidos no tempo, não sendo lançados em mais nenhum meio oficial. Radical Dreamers não é lá grande coisa e pode até ser chato para os dias atuais, mas foi o game que inspirou Chrono Cross e o fato da Square Enix tê-lo localizado para o ocidente e o preservado neste remaster é louvável.
Chrono Cross: The Radical Dreamers Edition é uma forma mais requintada de se experimentar o clássico, então é um pacote válido tanto para quem quer revisitar quanto para quem deseja conhecer a obra. Poderia ser melhor, principalmente se tratando do desempenho, mas no final cumpre o que promete.