De uns tempos para cá, a maldição das adaptações cinematográficas de videogames foi parcialmente quebrada. Tivemos boas conversões para o cinema, assim como outras um tanto esquecíveis. Contudo, é fato que estamos ficando bem mal acostumados com essa onda de “sucessos” e automaticamente já esperamos que os próximos filmes de jogos sejam no mínimo divertidos.
Se você nutriu qualquer tipo de hype pelo filme do Borderlands, tenho uma péssima notícia. É fato que, desde o começo, essa parecia ser uma ideia bastante arriscada – afinal, não é todo jogo que pode ser transformado em obra audiovisual. Estamos falando da adaptação de uma franquia co-op de tiro que até tem um certo nível de carisma, mas que é mais conhecida pelo seu excesso de piadinhas sem graça.
O diretor escolhido para o longa foi Eli Roth, o que por si só já é uma decisão questionável. Sua filmografia é quase toda preenchida por filmes de terror, então o que poderia dar errado, não é mesmo? Estamos falando apenas de uma mudança brusca de gênero e do árduo desafio de adaptar um jogo para as telonas.
O filme de Borderlands mistura elementos dos dois primeiros jogos para criar sua própria narrativa. A escolha dos personagens principais é outra decisão questionável; do primeiro título, temos Lilith (Cate Blanchett) e Roland (Kevin Hart), enquanto do segundo resolveram colocar um dos personagens mais aleatórios possíveis: Krieg (Florian Munteanu), o psicopata bonzinho. Para fechar o quarteto, colocaram Tiny Tina (Ariana Greenblatt) como uma integrante da equipe principal.
Nesta versão do mundo maluco de Borderlands, os caçadores de recompensa se reúnem para encontrar Tiny Tina – que a princípio, é dada como a filha sequestrada de Atlas (Édgar Ramírez), fundador e CEO da fabricante de armas Atlas. Conforme o enredo se desenrola, somos apresentados à toda aquela trama envolvendo Vaults e o planeta Pandora, mas tudo de maneira superficial e extremamente bizarra.
Ao longo dos seus 100 minutos de duração, o filme conta sua história de uma forma totalmente corrida e confusa. Você simplesmente não consegue compreender totalmente qual é o objetivo dos protagonistas ou sequer se apegar a algum deles. O vilão é a terceira decisão questionável do longa, já que trata-se de um figurão engomado que não consegue convencer nem a ele mesmo de que é o principal antagonista desta trama.
Os personagens não possuem nenhuma química e, no geral, todo mundo ali está atuando de um jeito bem preguiçoso – parece até que eles nem queriam estar naquele filme! Os únicos que realmente entregaram algo digno dos seus personagens foram Jack Black no papel de Claptrap e Ariana Greenblatt como Tiny Tina. Ouso dizer que o robô caiu como uma luva para nosso velho amigo Jack Black, pois ficou idêntico à personalidade irritante do jogo.
A ambientação do filme está bacana e fiel ao que temos nos jogos, incluindo até a cidade de Santuário. Da mesma forma, todos os figurinos estão igualmente semelhantes ao dos games, tanto para o bem quanto para o mal. Em questão de fan service, até que isso é um detalhe legal, mas vendo aquelas pessoas reais vestindo roupas espalhafatosas faz parecer que estamos assistindo a uma Comic Con.
Dito isso, acho que podemos resumir que o filme de Borderlands dificilmente agradará até aqueles que são fãs do jogo – e pelo menos para mim, o motivo está muito claro: eles não souberam adaptar a franquia corretamente. Há quem pense que esse é um jogo impossível de ser adaptado, mas a Telltale Games já provou que é possível criar uma experiência narrativa divertida o suficiente dentro do seu universo. Tales from the Borderlands é a prova viva de tudo que esse filme poderia ser e não foi!
Para começar, achei um erro terem utilizado um vilão próprio quando já temos o personagem perfeito para o papel de antagonista: Handsome Jack. Ele é disparado o inimigo mais marcante da franquia, então por que não começar pelo óbvio? Além disso, a escolha de protagonistas também foi péssima. Lilith é praticamente o rosto da franquia, mas é inexplicável terem colocado um personagem avulso de DLC nesta equipe quando temos tantos outros melhores como Brick, Mordecai, Zero etc.
Tudo isso somado ao péssimo humor (que não chega a destoar tanto do material original) acaba fazendo deste um filme chato e totalmente esquecível. Borderlands tem potencial para render muitas histórias interessantes no audiovisual, mas infelizmente decidiram trilhar o caminho mais errado possível. É impossível dizer se a franquia terá uma nova chance, mas por hora é melhor permanecer apenas nos jogos.