Desde 2015 Biomutant vem abalando corações e gerando um certo hype na comunidade. Foram seis longos anos de desenvolvimento e nesse período o jogo até ganhou aquela áurea de lenda urbana, afinal ninguém sabia se ele seria ou não lançado algum dia. Foi só em janeiro deste ano que veio o anúncio de que o título estaria disponível em maio e agora sim podemos confirmar: Biomutant já é uma realidade!
Esse é o primeiro projeto do estúdio sueco Experiment 101, composto em sua maioria por ex-funcionários do Avalanche Studios (mais conhecido pela série Just Cause). O jogo já consegue nos ganhar pela proposta: um fabuloso RPG de kung-fu pós-apocalíptico, como os próprios desenvolvedores o descrevem. Por mais maluco que essa breve descrição seja, Biomutant é um jogo simples e divertido que cumpre muito bem o que promete.
O caminho do guerreiro
Em Biomutant, seremos introduzidos a um vasto mundo pós-apocalíptico que um dia já foi habitado por seres muito inteligentes (seriam os humanos? Fica aí o mistério). Devido a sua ação destrutiva sobre a natureza, o que restou foram apenas ruínas de uma civilização antiga, toxicidade por toda parte e muitas criaturas mutantes, é claro. Nós somos uma dessas criaturas, um mutante dotado de grandes habilidades que deve salvar seu mundo de uma ameaça colossal, motivado por um desejo de vingança e também pelas atitudes do próprio jogador.
O game é um RPG bem semelhante a grandes títulos do gênero como Fallout e The Elder Scrolls. Começamos criando nosso personagem, contando com alguma variedade de raças, classes e tendo a liberdade de definir seus atributos principais minuciosamente. O primeiro elogio vai para a diversidade de classes, que foge um pouco daquele clichê eterno de jogos do gênero (guerreiro, mago, ladrão etc.). Aqui temos a opção de tornar nosso mutante um especialista em armas de fogo, armas brancas, artes marciais, inteligência e muito mais. Todas são muito interessantes, mas assumo que a classe do kung-fu é disparada a mais maneira.
O início do jogo é um longo tutorial que nos apresenta as mecânicas ao mesmo tempo que conta o enredo por trás do protagonista. Como de costume, nosso personagem é mudo, mas em compensação seu fiel companheiro fala pelos cotovelos. Acompanhado de um grilo robô com voz de locutor de rádio, esse bichinho vai contar cada detalhezinho da história para o jogador, seja narrando flashbacks ou traduzindo as falas dos NPCs (pois as criaturas do jogo têm um idioma próprio).
Quem está acostumado com jogos do gênero – principalmente os que foram citados anteriormente – provavelmente não terá problemas com o ritmo do jogo, que é um tanto lento. Biomutant tem seus momentos de ação, mas passamos a maior parte do tempo vagando pelo mapa e conversando com outras criaturas. Esse é um aspecto que pode afastar algumas pessoas, pois em nenhum momento o jogo pega leve nos diálogos (são tantos que têm horas que chega a cansar).
Escolha seu destino
Uma vez que formos introduzidos ao mapa completo, não existem mais barreiras. Você está livre para seguir o caminho que quiser e explorar tudo no seu próprio ritmo, mas é claro que as missões principais seguem uma ordem específica. Em Biomutant, você estará a maior parte do tempo explorando florestas, ruínas e cidades em busca de itens para melhorar seu personagem e esse aspecto também funciona igual a Fallout ou Elder Scrolls.
Existe loot por toda parte e você vai montando seu personagem peça por peça: um capacete ali, uma roupinha aqui, uma arma acolá e por aí vai. Você sempre encontra equipamentos melhores vasculhando as coisas e por isso a exploração é essencial, mas por outro lado torna o jogo repetitivo demais em pouco tempo. O mapa é grande e tem muitas coisas para explorar, então acaba se tornando uma rotina bem cansativa.
O jogo inteiro te colocará diante de dilemas morais que interferem no seu alinhamento, ou karma, como alguns costumam chamar. Basicamente, se você for mau, vai pender mais para as trevas, enquanto boas atitudes te colocam do lado da luz. Cada alinhamento garante variações de poderes e outras características para seu personagem, mas não pense que isso interfere muito na história. Entretanto, existem momentos específicos que te dão a opção de tomar uma atitude boa ou malvada em alguma missão e o primeiro deles define qual será seu objetivo principal ao longo de toda a campanha, então escolha com cuidado.
Já com respeito ao combate, Biomutant entrega uma experiência aceitável, mas que não deixa de ser decepcionante. Não que seja ruim, as batalhas são bem legais principalmente por causa da variedade de movimentos do personagem, que pode incluir combos, armas pesadas, de longa distância e um leque de poderes diferentes. Porém, eu esperava muito mais dos combates e principalmente da inteligência artificial dos inimigos.
No geral, independente do tipo de ataque, todos são um tanto sem graça e soam artificiais; você nunca sente o peso ou o impacto de cada golpe (o que poderia ser facilmente resolvido caso tivessem explorado melhor as vibrações do controle). Já os inimigos são burros feito uma porta, pois passam a maior parte do tempo pulando de um lado para o outro do que tentando te atacar. Quase sempre as lutas são um passeio no parque, onde você só trucida um monte de oponentes sem dó nem piedade. Felizmente, as lutas contra inimigos mais fortes e chefes se salvam, oferecendo desafios muito mais instigantes.
Quanto ao restante do pacote, os gráficos estão bem bonitos e coloridos, tanto no PS4 quanto no PS5. Ainda existe a opção de jogar em 60fps no PS4 Pro e no PS5, mas a queda de framerate é algo frequente e incomoda bastante, algo que precisa ser corrigido nos futuros patches. A trilha musical é muito boa e casa bastante com aquela atmosfera oriental inspirada em filmes de kung-fu, que está praticamente no mapa inteiro! Os cenários são um misto de paisagens modernas (obviamente destruídas) com vilarejos e montanhas chinesas por toda parte, um trabalho soberbo da direção de arte.
Biomutant demorou para chegar, mas chegou com estilo! Não é um jogo inovador ou revolucionário em nenhum aspecto, mas certamente é um excelente RPG que pode vir a render uma franquia que se distancia bastante da “concorrência”. Sei que ainda é cedo para dizer, mas pode apostar que vou querer passar mais tempo nesse mundo devastado em um futuro próximo.