Tudo é muito sombrio, sério e significativo, talvez nunca houve um Batman tão vulnerável e humano como esse de Robert Pattinson. O espectador é levado para uma zona mais profunda da mente de Bruce Wayne e logo de seu alter ego, um lugar onde os filmes anteriores jamais se arriscaram em entrar. Mesmo já sendo uma história bastante explorada nos cinemas, nas mãos do diretor Matt Reeves, temos um Batman com cheirinho de carro novo, uma sensação de frescor, é como se tudo começasse agora, só que melhor.
Para os fãs mais obstinados que acompanharam as HQs, terão muito o que mastigar e saborear de um Batman mais sólido, complexo e melancólico. Definitivamente, essa não é uma versão condensada e empolgante do herói que lembramos dos filmes de Tim Burton ou Christopher Nolan, e não deveria ser mesmo. Este é o Batman de Matt Reeves. Com muita eficácia, o que o diretor faz junto com Pattinson, é contar uma história sob uma perspectiva mais crua – de um homem sem poderes extraordinários – daquilo que já conhecemos do homem-morcego nas telonas. Isso, pelo menos, é novo.
A história é ricamente mergulhada em intrigas nefastas que imergem o telespectador com a ajuda de uma trilha sonora propriamente religiosa e ao mesmo tempo macabra. Batman pode facilmente ser confundido com um filme de terror atmosférico. Certamente, o longa reflete uma parte mais fatídica e fúnebre do mundo real, salientando pontos sobre ganância, corrupção e a contribuição irresponsável dos mais ricos para o caos em uma cidade, onde quem paga são os “inocentes”.
Apesar de não ser uma história de origem, a duração de 177 minutos (quase três horas) pode ter sido uma escolha arriscada de Reeves, mas não faz com que o filme pareça muito inchado ou caótico demais. Embora a ambição do diretor em fazer de Batman um filme épico, às vezes, pareça forçado e não justificaria um filme tão longo para o gênero. Mas ele compensa com um enredo inteligente, capturando a atenção do público de forma progressiva, e conclui grandiosamente.
No filme, a história segue a mesma narrativa, com Bruce combatendo os vilões e os crimes no submundo de Gotham, mas tudo fica ainda mais tenebroso quando um assassino sádico deixa para trás um rastro de pistas enigmáticas para o Batman. À medida que as evidências começam a chegar mais perto de Bruce/Batman, e os planos do criminoso se tornam claros, o herói deve forjar novos relacionamentos, desmascarar o culpado e trazer justiça ao abuso de poder e à corrupção que há muito atormentam a metrópole.
Um ponto que chama bastante atenção, é que Matt Reeves junto de seu co-roteirista Peter Craig, decidem entregar um Batman com camadas mais intrigantes e perturbadoras. Mesmo que este se aproxima mais do Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan, aqui temos diferenças notáveis. Existe muita raiva imersiva na psicologia de Bruce Wayne/Batman – tanto que os telespectadores podem ouvir os pensamentos do personagem, que funciona bem.
Robert Pattinson consegue encarnar um Batman mais original, com uma personalidade mais condizente com a sua realidade, beirando a depressão e o caos, que são bem visíveis em seus olhares, na maneira de falar e até de se vestir. Ele realmente parece exausto e não tenta esconder suas fraquezas na casca grossa que o herói frequentemente é retratado. Ele é o primeiro a se questionar se realmente é um super herói, já que não se sente assim, antes de tudo ele é humano.
O filme como um todo entrega personagens incríveis e muito bem explorados da maneira mais sincera possível. Zoë Kravitz interpreta Selina Kyle/Mulher-Gato, que se encaixa perfeitamente na personagem como uma luva e não seria pedir demais um filme solo dela. Há muita raiva, elegância e talento para o combate, o combo perfeito para sua personagem. Talvez se interpretado por outra atriz, não ficaria tão natural e marcante como Kravitz.
É muito importante mencionar que a química entre Pattinson e Kravitz é magnética, mas parece acontecer rápido demais. Longe de ser um Batman solitário e durão, o Bruce Wayne de Pattinson é emotivo, e sua conexão com Selina é poderosa e orgânica.
Do outro lado, os antagonistas e vilões podem facilmente roubar a cena, mas o que chama mais a atenção é o ator Paul Dano, que já demonstrou ser um ator excepcional. Em Batman, ele interpreta, durante a maior parte do filme, atrás de uma espécie de máscara de gás, e mesmo assim o espectador é arrebatado para as loucuras de seu personagem alucinático, para os mais íntimos, o Charada. A maneira como ele perturba a mente de Bruce é digna de um Jogos Mortais.
Contudo, há uns borrões de quem é de fato um vilão ou herói nesse filme que chega a ser curioso, pois segredos são revelados sobre os antecedentes de vários personagens, inclusive de Bruce e sua família.
Apesar de termos um Batman mais sombrio e mergulhado em uma paleta mais obscura, nas mãos confiantes do diretor Matt Reeves, tudo é incrivelmente vivo e novo. É um excelente primeiro capítulo que ainda vai render muito mais desse novo Batman. Também há uma alma de filme noir que leva o protagonista a ser um tipo de detetive/justiceiro. O longa é completíssimo e entrega de tudo: contém muitas surpresas e reviravoltas que podem surpreender o público, principalmente o ato final com a aparição de um personagem misterioso interpretado por Barry Keoghan.
Enfim, Batman realiza o que muitos outros filmes de super-heróis tem dificuldades em mostrar: as vulnerabilidades psicológicas de um super-herói problemático, e que está em guerra consigo mesmo tanto quanto está em guerra contra o crime.
A Warner Bros. Pictures lançará Batman em 3 de março de 2022, no Brasil, com exibições de pré-estreia em 1º e 2 de março em alguns cinemas.