O 2024 da Nintendo começa de uma forma mais tímida e menos intensa em relação ao ano anterior, com o lançamento de um remake de uma série cult que passou abaixo do radar de muita gente. Another Code: Recollection recria dois jogos: Another Code (ou Trace Memory, como foi intitulado na América do Norte), lançado para DS em 2005, e sua sequência Another Code R: A Journey Into Lost Memories, lançada para Wii em 2009.
Para nós, residentes do continente americano, apenas o primeiro jogo foi lançado. O segundo teve um lançamento limitado à Europa e Japão, então não surpreende o fato de pouca gente conhecer este jogo. Sob os cuidados do estúdio Arc System Works (que, por coincidência, possui a mesma equipe que trabalhou nos jogos originais), Another Code: Recollection não apenas dá vida nova a esses clássicos cult, como também garante a melhor experiência possível para conhecermos a história de Ashley e sua família problemática.
Explorando memórias
Another Code: Recollection recria todos os eventos dos dois jogos em moldes mais modernos e em um único game, agora funcionando como uma aventura dividida em duas partes. Por se tratar de títulos focados em narrativa, o ideal é evitar ao máximo qualquer tipo de spoilers; sendo assim, neste review focaremos mais nas mecânicas e novidades do que no enredo em si.
O que pode ser dito é que a história começa quando nossa protagonista, uma adolescente de 14 anos chamada Ashley Mizuki Robbins, recebe um misterioso convite de seu pai – este que já havia sido dado como morto há muitos anos. Intrigada pela natureza da mensagem, Ashley vai até uma ilha para investigar, lugar em que se encontra uma mansão com diversos segredos sobre sua família. O objetivo é explorar o lugar e descobrir mais sobre o passado da personagem.
Levando em consideração todo o conteúdo da história (já contando os dois jogos), a trama de Another Code pode não ser tão profunda ou imersiva quanto outros títulos do gênero. Contudo, ela não falha em abordar alguns temas bem delicados que certamente vão tocar algumas pessoas – especialmente se tratando de assuntos voltados para paternidade. Não menos importante, Ashley é uma protagonista bem interessante e carismática, então com o tempo vamos nos apegando à menina.
Ambos os jogos misturam exploração e puzzles para desenrolar a narrativa aos poucos. O primeiro do Nintendo DS tinha uma câmera isométrica, onde enxergávamos a personagem totalmente de cima e deveríamos utilizar a tela touch para controlá-la e solucionar os puzzles. Já o segundo adotava uma visão 3D mais próxima da que estamos acostumados hoje em dia, mas com foco nos controles de movimento do Wii.
Recollection elimina todas essas características e transforma os jogos em um adventure point and click 3D, com a câmera posicionada nas costas de Ashley.
Investigando o passado
O ritmo de Another Code é bastante lento, então quem gosta de jogos mais frenéticos pode não se dar tão bem com este aqui. Tudo que fazemos é andar para lá e para cá, explorando os cenários e buscando por pistas e objetos que podem auxiliar nos puzzles. Ashley também conta com um dispositivo chamado DAS, que pode ser usado para várias finalidades incluindo tirar fotos, checar fichas de personagens e mais.
O trabalho da Arc System Works neste título foi de alto nível, ainda que o jogo sofra com as clássicas limitações do console. Os ambientes internos estão bem bonitos e contam com efeitos de iluminação impressionantes, mas os externos não disfarçam as texturas de baixa qualidade. Contudo, no geral os gráficos estão bem charmosos e não chegam a incomodar tanto em níveis técnicos.
O que mais me incomodou aqui foi a lerdeza do gameplay como um todo. Ashley é muito lenta e, mesmo correndo, ainda precisamos nos adaptar ao ritmo da personagem. O problema é que até a câmera é devagar neste jogo! Precisei aumentar a sensibilidade dos movimentos nas configurações para deixar as coisas um pouco mais dinâmicas, então recomendo que todos façam o mesmo para evitar que o game fique parado demais.
Todos os puzzles presentes aqui são recriações dos que já apareciam nos jogos originais, porém com mecânicas adaptadas para algumas funções do Switch. Um exemplo: em alguns momentos, precisaremos usar o giroscópio do console para mover algum objeto, o que funciona bem na medida do possível (mas nem sempre com muita precisão). Só deixaram a desejar em relação ao uso do touchscreen, que foi completamente esquecido e com certeza viria a calhar neste título.
A campanha dura em média de 12 a 13 horas e não sofre nenhuma mudança de ritmo, seguindo a mesma do início ao fim. As únicas coisas que mudam são os puzzles e o contexto – mas no geral, se você não se der bem com o jogo logo de cara, não espere que a situação se reverta com o decorrer da história. Another Code: Recollection certamente é um ótimo jogo de narrativa e puzzles, mas assim como qualquer título do gênero, não é para qualquer um.