A notícia de que Amerzone: The Explorer’s Legacy iria receber um remake pelas mãos da Microids me pegou de surpresa. Para começar, dentre o imenso panteão de jogos cult, esse definitivamente está bem longe de ser um dos mais conhecidos. Lançado originalmente em 1999 para PC e PS1, o título foi escrito e dirigido por ninguém menos que Benoît Sokal, o criador da série Syberia (que também é bem cult, por sinal).
O que pouca gente sabe é que Amerzone também pertence ao universo de Syberia, sendo o primeiro jogo da sua linha do tempo. Não menos importante, assim como o nome entrega, ele também foi claramente inspirado nas belezas da floresta amazônica, possuindo uma ligação indireta com os brasileiros. Graças a esse remake, você finalmente terá a chance de conhecê-lo!
Redefinindo um clássico
O Amerzone original é um jogo que certamente tem seu charme, mas acabou caindo no limbo de jogos que se tornaram “injogáveis” com o passar do tempo. Isso não quer dizer que ele seja ruim nem nada do tipo – apenas que suas mecânicas não envelheceram tão bem e, hoje, é um título extremamente parado para os padrões modernos.

O original de 1999 era um adventure point and click em primeira pessoa em que nem sequer controlávamos o personagem livremente. A movimentação funcionava de forma semelhante a um dungeon crawler, onde você apenas clicava na direção que desejava ir e o personagem imediatamente aparecia em outro cenário. Por conta disso, todo jogo era bem estático e pouco dinâmico.
O jogo nos coloca na pele de um jornalista que decide continuar o trabalho do explorador francês Alexandre Valembois, partindo para uma expedição no país fictício de Amerzone, situado na América do Sul. Lá, Valembois descobriu uma espécie rara de pássaro branco que corre perigo de extinção e precisa de intervenção humana para garantir sua sobrevivência. Contudo, nem tudo é tão simples, considerando que a região se encontra em um cenário político ditatorial e autoritário.

A história do jogo é inspirada em outra obra de Sokal: Inspector Canardo, uma história em quadrinhos protagonizada por um pato detetive. A campanha mistura exploração com puzzles e investigação, rendendo aproximadamente quatro horas de uma aventura surpreendentemente imersiva. Contudo, agora ela está bem melhor do que antes!
O que tem de novo?
O primeiro grande salto do remake de Amerzone: The Explorer’s Legacy está no visual, que está infinitamente superior ao clássico. O jogo foi refeito não apenas com gráficos modernos e ultrarrealistas, mas também com moldes mais divertidos para os padrões atuais. O esquema de dungeon crawler foi totalmente eliminado e agora nós controlamos nosso personagem livremente pelo cenário, assim como em qualquer jogo em primeira pessoa.
A equipe por trás do remake deu uma atenção especial para a teor investigativo do jogo, incrementando muito mais o lado jornalístico do protagonista. Podemos acompanhar várias informações através do seu diário, que ajuda a expandir a lore do jogo. A parte investigativa foi adicionada como um formato de sidequest, permitindo ao jogador encontrar elementos que enriquecerão a matéria do nosso jornalista.

Os puzzles também estão mais elaborados, visando encaixá-los de forma mais natural no meio da exploração. Há dois níveis de dificuldade disponíveis: Journey e Adventure; no primeiro, você pode receber mais dicas para não se perder em meio aos quebra-cabeças, enquanto o segundo pega menos na mão do jogador, deixando que ele resolva tudo por conta própria.
Todo esse conteúdo reformulado garante algumas horas a mais de gameplay, apesar do jogo continuar curto para os padrões atuais (e isso não é nenhum problema). Rejogar Amerzone dessa forma traz toda uma nova perspectiva a respeito da obra – e os gráficos modernizados vieram a calhar, já que ajudam a transmitir todas as belezas naturais da selva com mais fidelidade e imponência.
Outro ponto que merece ser elogiado é a jogabilidade, que ficou perfeitamente competente mesmo se jogada com um joystick – mas você talvez ainda se sinta mais à vontade usando mouse e teclado. O único problema do jogo é que, mesmo com todas essas atualizações, ele ainda é um título bem nichado, então acaba sendo difícil recomendá-lo para qualquer pessoa.

O remake certamente está muito mais prazeroso de se jogar, conseguindo reviver um clássico há muito esquecido com bastante sucesso. Contudo, ainda estamos falando de um jogo com uma proposta lenta e quase contemplativa. Esse é um daqueles games mais indicados para os mais ecléticos, que nunca dispensam uma experiência diferenciada e gostam de jogar de tudo.
Infelizmente, Benoît Sokal faleceu em 2021, então o criador da obra nunca terá a oportunidade de vê-la renascer em todo o seu esplendor. Ao menos o remake de Amerzone: The Explorer’s Legacy ajudará a manter seu legado vivo.