O Game Boy Advance é um dos meus portáteis preferidos e muito disso se dá pela sua incrível biblioteca de jogos. Além da diversão, grande parte deles possuem um charme sem igual e é claro que Advance Wars não fica de fora dessa lista. A série de estratégia da Nintendo passou 15 longos anos na geladeira e não é para menos: sempre que eles decidem lançar uma entrada inédita na franquia, alguma catástrofe mundial acontece.
Em 2001, quando o primeiro título estava para estrear no GBA, os EUA sofreram o atentado de 11 de setembro, forçando um adiamento por questões de bom senso. 21 anos depois, o remake desse mesmo jogo seria lançado, porém a Rússia decidiu invadir a Ucrânia e a história se repetiu. Somente agora Advance Wars 1+2: Re-Boot Camp se tornou realidade, compilando os dois primeiros jogos da série com gráficos repaginados e uma coisinha nova aqui e ali.
Retomando o campo de batalha
Quem chegou a jogar os originais no GBA já sabe bem do que se trata este aqui, pois estamos falando dos mesmos jogos – literalmente. Re-Boot Camp é mais uma tentativa de reviver a franquia e angariar novos fãs do que de agradar ao público mais antigo, porque acho que podemos concordar que Advance Wars merecia um título inédito. Ainda assim, são games tão divertidos que provavelmente todo mundo que jogou vai querer revisitar, então é tiro certo e qualidade garantida.
Em Advance Wars, assumimos diferentes comandantes da nação Orange Star, que está sendo invadida pelo seu vizinho Blue Moon. Nesse contexto de guerra, adentramos um excelente jogo de estratégia que segue um gameplay tático, mas sem a parte do RPG. Diferente de um Fire Emblem da vida, em que podemos evoluir os personagens e deixá-los mais fortes, aqui temos algo mais parecido com um jogo de xadrez: contamos com soldados e veículos, cada um com uma função diferente. Seu objetivo é eliminar todas as unidades do exército inimigo ou tomar sua base, então tudo vai depender da sua genialidade como líder das tropas.
O gameplay segue sendo exatamente o mesmo dos originais, então vamos começar pela diferença mais descarada deste remake (ou remaster, chame como quiser): os gráficos. Em Re-Boot Camp, tudo foi refeito do zero com a adição de cenas animadas e personagens mais expressivos, que interagem entre si e, em alguns diálogos, são até dublados! O estilo visual está bem bacana e consegue se manter fiel aos traços do GBA, então disso não temos do que reclamar.
Já no gameplay, optaram por transformar o campo de batalha em um tabuleiro, onde todos os soldados e veículos se tornam bonequinhos. Acredito que essa atitude parte de um esforço da Nintendo de amenizar o tema do jogo, que querendo ou não gira em torno de catástrofes geopolíticas em que milhões de vidas são perdidas. No geral, está tudo bem infantilizado e os diálogos dos personagens nas batalhas reforçam ainda mais tudo isso; muitas vezes, nem parece que eles estão em uma situação de vida ou morte, tamanha a leveza de suas reações dentro do combate.
Sem espaço para erros
Diferente de outros jogos táticos (que inclusive estão bem na moda ultimamente), Advance Wars não pega leve com o jogador em nenhum momento. Não demora muito para você perceber que aqui, não adianta sair atacando todas as tropas inimigas com força total para vencer, pois muitas vezes isso será uma sentença de morte. É necessário parar, analisar o terreno, o poder de fogo do oponente e, a partir disso, elaborar uma estratégia que seja compatível com as circunstâncias.
Em diversos momentos, você vai se deparar com uma batalha em que será necessário recomeçar do zero por causa de um mísero erro ou ver toda sua estratégia indo por água abaixo ao perder uma unidade importante. Advance Wars é esse tipo de jogo, forçando nosso raciocínio lógico ao limite – e isso certamente é sua maior virtude. O gameplay continua tão divertido e viciante quanto era há 20 anos.
O único problema aqui é justamente a falta de novidades. O jogo continua excelente, mas quem já jogou certamente vai sentir a fórmula repetitiva com o tempo, afinal a nostalgia não consegue carregar tudo nas costas. A única diferença relevante é a possibilidade de acelerar os movimentos para tornar as batalhas mais objetivas (e ainda assim passa longe de ser rápido). Perderam a oportunidade de adicionar mais elementos aos jogos e até entendo que decidiram por não alterar nada da fórmula original, mas isso apenas reforça a necessidade que a franquia tem de um título 100% inédito.
Para não dizer que a única diferença foi visual, Re-Boot Camp ainda traz dois modos novos: um criador de fases e o multiplayer online. O criador permite misturar elementos dos dois jogos para fazer seus próprios desafios, o que é interessante, mas nada muito empolgante. Já o multiplayer consegue ser mais decepcionante ainda, pois ele nem sequer permite que você jogue contra pessoas aleatórias. Aqui você só consegue enfrentar jogadores que estão na sua lista de amigos, o que não faz o mínimo sentido.
Diante de tantas limitações, Advance Wars 1+2: Re-Boot Camp acaba sendo exatamente o que ele já era no GBA: um excelente jogo de estratégia, nada mais, nada menos. Seus pontos negativos não chegam a tirar seu brilho – porém, é fato que poderia ser ainda melhor e é difícil dizer se teremos a oportunidade de ver esse potencial sendo alcançado no futuro.