A Editora Intrínseca conseguiu emplacar mais um excelente sucesso com o lançamento de A Guerra dos Furacões, de Thea Guanzon. Começando como uma Reylo Fanfiction, tendo como base o romance entre Rey e Kylo Ren, de Star Wars, esse livro é uma romantasia (mistura de romance e fantasia) que trabalha um estilo “enemies to lovers” num mundo mágico muito bem construído e extremamente interessante de aprender.
Repleto de intrigas políticas e num universo mágico único e grande paixão, a autora filipina utiliza o complexo histórico de colonização das Filipinas para trabalhar uma fantasia inteligente que contribui no desenvolvimento um enredo muito rico e complexo. A construção de mundo de A Guerra dos Furacões apresenta muitas facetas estabelecidas através da geografia, política, magia e a crueldade que guerra pode provocar.
E sobre o que é essa história? Um resumo para você que não quer spoiler e deseja descobrir por conta própria, fugindo da sinopse ou demais comentários, acompanhamos a jornada de Talasyn, uma jovem guerreira que luta contra o cerco à Sardóvia e a potência bélica do reino de Kesath, regido pelos Forjadores de Sombras. Guardando o segredo de ser a última Tecelã capaz de conjurar a magia da Luz e descobrindo sobre seu passado e ligação com o trono, a jovem terá um embate e ligação com seu inimigo mortal: Alaric Ossinast, filho do temível Imperador Gaheris e herdeiro do Império da Noite.
Thea Guanzon conseguiu desenvolver a construção de mundo em A Guerra dos Furacões muito competente e interessante ao redor do etercosmos. A partir dessa dimensão mágica temos os etermantes, dançarinos e invocadores, aqueles que canalizam e manipulam esse poder, sendo diferenciados de simples feiticeiros, fugindo do estereótipo de outras fantasias. O panteão de divindades do continente também está presente e justifica algumas escolhas feitas pela autora durante a narrativa, tendo ligação direta com certos acontecimentos.
A criatividade da autora também constrói muito bem a tecnologia desse mundo, conectada ao éter e a maneira como ele sustenta essa navegação aérea. Com pedras preciosas capazes de fazerem embarcações sobrevoarem os céus do continente, com o apoio também dos invocadores, temos os coracles (embarcação pequena e em formato arredondado) e o temido porta-tempestade, capaz de dizimar regiões inteiras com suas tempestades. Uma pena não termos uma versão ilustrada para entendermos melhor como seriam essas naves, mas as artes dos fãs estão pela internet para suprir essa falta (e que não são poucas).
Com uma leitura complexa no início, pelas primeiras 100 páginas, por conta dos muitos termos, sem entender muito bem o sistema mágico do continente, nem sempre se achando pelo mapa ou até mesmo acompanhando as tramas políticas entre os territórios da Confederação Sardoviana, as motivações de Kesath e os mistérios que mascaram a neutralidade de Nenavar, aos poucos vamos aprendendo mais sobre o mundo de A Guerra dos Furacões. Mesmo com um prólogo que já revela o embate entre Talasyn e Alaric, a virada da primeira para a segunda se apoia nessa relação crescente de amor e ódio, além de adicionar uma nova questão que vai ser explorada e futuramente apresentada também com uma terceira questão na dualidade de embates.
Os diálogos ao longo do livro são interessantes, assim como seus personagens possuem profundidade, que vai sendo explorada aos poucos, e as revelações são muitas com o virar das páginas fluido e divertido. Fiquei surpreso pela proximidade com Star Wars, principalmente para quem assistiu A Ascensão Skywalker, assim como a autora também consegue fazer certas reflexões sobre a crueldade por trás da opressão e crueldade, ocupação, dominação e apagamento que acontece em nossa realidade. Também existe um equilíbrio perfeito, na minha opinião, entre a fantasia, o romance e a guerra, fugindo do apelo que a paixão e o ódio entre os protagonistas poderia carregar para um lado mais hot, assim como a história exige toda criação de mundo fantástico que a autora desenvolve.
De inimigos a parceiros políticos e interesses amorosos, A Guerra dos Furacões possui uma curva crescente de ritmo e interesse que consegue impressionar ao mesmo tempo em que diverte com sua leitura. Um livro que vai exigir muita atenção do leitor, mas ao mesmo tempo entregará momentos familiares aos fãs de Star Wars e outras obras de ficção especulativa, principalmente por conta das questões geopolíticas, o etercosmos, a conexão entre os poderes da Luz e Sombras, e as surpresas em Nenavar, com suas referências à Ásia, os dragões aos céus e muito mais para revelar.
Com certeza a edição da Editora Intrínseca será uma das, senão a melhor leitura de 2024. Agora nos resta esperar pela continuação, A Monsoon Rising, e quem sabe edições especiais aqui no Brasil.