Após se mudar para Hollywood e se encarregar do remake do filme Robocop (2014) e da bem sucedida série da Netflix, Narcos, José Padilha agora se volta para o conflito ente Palestina e Israel em seu filme “7 Dias em Entebbe”. A história é baseada no acontecimento real do roubo de um avião da Air France, carregado de passageiros, com destino a Tel Aviv, em 1976. Os personagens principais são dois sequestradores alemães membros da extrema esquerda (Daniel Brühl e Rosamund Pike) que defendem a liberdade palestiniana e, ao darem início ao golpe, reorientam o avião para Entebbe, em Uganda. Como resultado, o governo israelense, liderado pelo primeiro-ministro Yitzhak Rabin (Lior Ashkenazi), coloca em jogo o custo político de um plano para resgatar os reféns na capital ugandense.
Como ideia central do filme, José Padilha tenta retratar a visão de todos os envolvidos no acontecimento: os sequestradores, os reféns, o governo israelense e até os soldados israelenses, apesar do diretor deixar sua visão evidente. A princípio, essa seria uma boa solução, porém o pouco tempo de filme (somado ao tempo lento da montagem) deixa alguns aspectos da construção da narrativa do filme sem a devida atenção, a começar pelo personagem principal Wilfried Böse (Daniel Brühl). É difícil imaginar que um diretor que construiu Capitão Nascimento, um personagem complexo, cheio de contradições e enredamento, tenha transformado Brühl em seu personagem principal. Sabemos o que esperar do personagem desde o início; sua opinião e discurso social e político são os mesmos desde o seu primeiro aparecimento na tela, permitindo assim, que todas suas ações sejam previstas. Aliás, podemos dizer isso não só da maioria dos personagens – que seguem a linha de Brühl -, como também da história do filme como um todo.
Do começo ao fim, o desenrolar da história é bem previsível: os sequestradores fazem toda a tripulação de refém, mas ao chegar em solo, seus entendimentos políticos de como seguir a missão são diferentes do pessoal que ali os aguarda; o governo inflexível israelense precisa tomar a decisão de como agir. É exatamente nesses argumentos que o filme vai até o fim, sendo ainda mais prejudicado pelos personagens exporem em diálogos suas opiniões políticas a todo momento.
Um dos pontos positivos é como o filme cria certa tensão entre os personagens, porém isso se encerra em suas cenas finais, onde a delonga da montagem é tanta que o que era para culminar em uma cena de ação com muito dinamismo e reviravolta, torna-se uma cena enfadonha, desejando-se logo a resolução. A cena em si é atraente, porém a demora do conflito abaixa as expectativas. É interessante ritmicamente como Padilha mescla a música da peça teatral com a cena final, porém ficamos sempre nos perguntando qual o verdadeiro motivo do diretor ter adicionado aquela personagem específica ao filme, aparentando uma saída meramente forçada para acrescentar beleza e ritmo ao longa.
“7 Dias em Entebbe” é um filme que acrescenta um pouco mais de história ao conflito Israel e Palestina, porém certas escolhas do diretor em relação à representação de diferentes pontos de vista dos personagens empobrece alguns momentos da narrativa no que diz respeito a tempo, conflito e personagens.
Nota 5,0/10