Se tem uma coisa que eu e o boxe temos em comum é nosso amor por cinema. De Rocky Balboa a Gigantes de Aço (que é quase a mesma coisa), até hoje se fazem bons filmes desse esporte. Talvez seja pela jornada do herói, que literalmente precisa apanhar para chegar ao topo, ou só porque um par de luvas fica bonito pra caramba na telona. Seja como for, mesmo um robô que sobe no ringue rende uma boa história. E se esse é o caso, imagine que bela obra daria a jornada do maior boxeador que o Brasil já teve. 10 Segundos para Vencer é essa obra.
Ou, pelo menos, tentou ser.
Filho de um ex-pugilista argentino, Eder Jofre (Daniel de Oliveira) foi criado no ringue. Quando criança, acompanhou de perto os treinamentos que seu pai, Kid Jofre (Osmar Prado), dava para seu tio e herói de infância, o boxeador em ascensão Zumbanão (Ricardo Gelli). Ao ver seu ídolo cair por não dar ouvidos às lições do pai, Eder decide que seguiria o mesmo caminho, mas sem jamais cometer as mesmas falhas.
O filme começa muito bem, optando por sutilezas que dão gosto de ver. A cena que Jofre conhece sua esposa, Angelina (Sandra Coverloni), é um bom exemplo disso. Sem uma linha de diálogo sequer, você consegue entender a criação do interesse entre os dois e a superação da timidez de ambos. Alguns diriam que a cena com o balão ficou brega, e até que foi mesmo, mas gosto de dizer que foi eficiente na mesma medida.
Tais sutilezas também são utilizadas como recursos narrativos importantes do filme. Um exemplo disso é a luz. Tão dura e amarelada no início, ela vai se tornando branca e suave ao longo do tempo. Isso nos que nos ajuda a sentir tanto a passagem dos anos quanto a ascensão do lutador.
Dessas sutilezas, talvez a que eu mais goste seja o fato do filme sempre cortar as cenas de brigas de rua. “Campeões lutam no ringue. Lutar fora dele é coisa de arruaceiro.” Eder internalizou tal lição de seu pai e o filme demonstra isso cortando as cenas de briga imediatamente antes delas acontecerem, como quem tem vergonha de um pecado cometido. Esse é um filme de um campeão, não de um arruaceiro.
A direção de José Alvarenga Jr. acerta muito nas sutilezas que usa, muito embora o diretor demonstra insegurança com suas escolhas. Diálogos expositivos e discursos textão de Facebook não são raros. Na cena em que Eder opta por não brigar no baile, por exemplo, a escolha pela não violência é recompensada logo em seguida. Teria sido belo, sutil, até que uma das personagens resolve verbalizar a lição aprendida. Desnecessário.
Talvez o que eu mais lamente na direção de José Alvarenga Jr. seja uma certa falta de senso de oportunidade aliada ao uso excessivo de elipses. É notável o gosto que a direção tem em simplesmente pular os grandes momentos da vida de Éder, como forma de dar notoriedade àquele capítulo. “E o resto é história”, parece dizer. Isso até funciona, às vezes. Entretanto, há cenas que, se tivessem durado um pouco mais ou fossem melhor trabalhadas, teriam me deixado ainda mais investido no filme.
Essas elipses em momentos chaves da história acabam quebrando o ritmo do filme. Após um primeiro ato envolvente, o segundo ato acaba se focando em questões pessoais do Eder de forma tão morna e desinspirada que, ao chegar no terceiro ato, você já não está mais tão investido como poderia estar. O problema não é focar no drama, mas sim fazer isso de forma tão vazia tendo outros tópicos muito mais interessantes para mostrar. A direção acaba trocando momentos épicos por ladainhas sem razão.
10 Segundos para Vencer é um bom filme de boxe que só não é ótimo por, bem, não ter mais boxe. Apesar de ter grandes acertos, a direção parece menosprezá-los, optando se focar em momentos mornos e desinteressantes. Eder Jofre tem aqui um filme digno de sua rica história, mas que poderia ter sido ainda melhor se tivessem a coragem de dar mais 10 segundos aos seus momentos de glória. Faltou ter (pouca) vergonha na cara.